óbvio que não deixaria de falar na minha coluna do yahoo de um dos fenômenos musicais brasileiros mais impressionantes e velozes dos últimos tempos: a banda mais bonita da cidade. agora, com quase um mês de youtube, o video de "oração" já tem mais de impressionantes 5 milhões de views e eles até apareceram no fantástico (o que, para alguns, é sinal que a banda logo acabará). moda ou não, tentei compreender o fenômeno e os amores e ódios despertados. enquanto isso, a recente "rádio: entre o amor e o jabá" já está por lá.
A BANDA MAIS COISINHA-BEBÊ DO BRASIL
Está lá marcado. 17 de maio de 2011, uma terça-feira, será para sempre lembrado como a data do início da invasão d’A Banda Mais Bonita da Cidade (o nome veio de um conto de Charles Bukowski). Pode também não ser nada disso, invasão coisa alguma, modinha passageira. Certo é que o clipe de “Oração”, uma das poucas músicas do repertório desse quinteto formado em Curitiba, já foi visto por mais de 2 milhões de vezes em apenas uma semana (isso sem contar blogs e sites ao qual foi incorporado). E não precisou do aval de nenhuma figura influente no twitter para que isso acontecesse. Foi fogo morro acima. Claro que tanta popularidade instantânea trouxe críticas e narizes torcidos e vamos aqui investigar, como esforçado cientista social-musical que sou, os dois fenômenos.
Caso A: o sucesso, a aceitação
Composto por dois paranaenses, um gaúcho, um paulistano e um carioca, o grupo fez uma música com toda pinta de singelo hino hippie (na verdade a canção é de um amigo, Léo Fressato, que conduz o clipe). Poucos versos, refrão fácil e pegajoso, clima de celebração ao redor de uma fogueira e muito amor e coração e fofurices do tipo. Pop, enfim. Não tinha como dar errado. Mas “Oração” poderia ter passado batido como tantas outras se não fosse o clipe. Acho, sinceramente, que não teria chance alguma por si só.
A referência assumida e explícita veio dos vídeos feitos pelo francês Vincent Moon para as músicas “Sunday Smile” e “Nantes”, do grupo americano Beirut. Em um plano sequência muito bem feito que percorre os cômodos de uma casa antiga em Rio Negro (PR), a música ganha caras de todas as cores e jeitão de festa entre amigos. Impossível não lembrar daquela viagem nos tempos da faculdade. “É muito louco fazer parte de uma coisa assim, que ‘bombou’ na hora em que eu fui almoçar”, explicou aos risos Vinícius Nisi, um dos integrantes da banda bonita a repórter Lívia Deodato, do site da revista Marie Claire. E esse talvez seja um outro motivo do sucesso: a simplicidade. Ninguém parece artista. Quem está ali no vídeo cantando e se divertido é igualzinho a quem está assistindo e se divertindo. Espelho, tá ligado?
Não dá para profetizar se A Banda Mais Bonita da Cidade vai durar. Eles podem ficar reféns dos clipes, como ficaram os americanos do OK Go (lembram de “Here It Goes Again”, aquele vídeo todo feito em esteiras emparelhadas?), e aí a música sai perdendo. Podem sair por aí falando mal um do outro depois de participarem do Domingão do Faustão e o tal clima de amizade escorrer pelo ralo. Vai saber…
Caso B: a reação, a negação
Tão rapidamente quanto os inúmeros “ai, que fofo” ou “coisa mais lindinha de deus” vieram os chutes na cara e os duplos carpados no meio das ideias. E falou-se mal da música (fraca, chatinha, melosa, hippie, etc.), do “casting” (aquela alegria de comercial de margarina), dos 2 milhões de views (tudo trouxa), do vídeo (cópia descarada), etc. Algumas dessas críticas são factíveis (eu, particularmente, achei a música péssima e gostei do clipe), mas em tempos 2.0 não basta ter opinião própria é preciso brandi-la como uma machadinha de filme de terror e partir para a esculhambação (uma coisa é ironia, outra é agressão, claro esteja). Só dar uma espiada em qualquer janela de comentários de grandes portais como o Yahoo.
No entanto, em algumas dessas críticas é possível vislumbrar o bom e velho complexo de vira-lata brasileiro. Se a música fosse cantada em inglês muitos dos que a odiaram sairiam por aí compartilhando enlouquecidamente nas redes sociais como a nova esperança branca indie. Outro tipo clássico entre os mal humorados de plantão é aquele que rejeita tudo que virou popular. Pensam assim: bom mesmo é o grupo que apenas eu e mais 47 pessoas conhecem e se passar disso são um bando de vendidos.
Poucos se dão conta que, talvez, o mais divertido desse fenômeno é a quantidade de releituras, covers e mashups, mais ou menos irônicos, que a música gerou em tão pouco tempo. Tem “A banda mais bonita da internet” (com influentão Rafinha Bastos pegando onda no sucesso dos outros), “O cão mais arrependido da internet” (com citação direta ao programa do Chaves), “A banda mais repetitiva da cidade”, “A redação mais bonita da cidade” e “A segunda banda mas bonita da cidade”, entre muitos outros. Tudo pode ser (e será) transformado em piada no mundo maravilhoso da internet e com A Banda Mais Bonita da Cidade não seria diferente.
p.s.: ah, e se você for do tipo que se insulta facilmente com palavrões é melhor nem assistir o clipe-paródia abaixo feito a partir da música “Bonde da Orgia de Travecos” dos mineiros da UDR . Depois não diga que não avisei.
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Um comentário:
Engraçado sua crítica, Sufoca e deprime a única "esperança" que existe nos jovens. A música não foi feita pra lucro e muito menos pra ser acessada simultaneamente, trata-se apenas de um grupo afim de cantar, se é que me entende. E como podê misturar coisa tão bela com outro tão sujo a diferença entre fazer cultura e se divertir sabia?
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