na edição de novembro de 2023 da Revista Monet falei de Missão Impossível: Acerto de Contas, o sétimo filme da franquia, e agora na edição de setembro da revista falei do oitavo e talvez último Missão Impossível, o grandiloquente e dramático Missão Impossível: O Acerto Final. sinta a adrenalina e o comprometimento do sexagenário astro Tom Cruise.
TODO CARNAVAL TEM SEU FIM
Ao que tudo indica, Missão Impossível: O Acerto Final será a última aventura de Ethan Hunt; mas será que a franquia será aposentada?
O tempo corre com a mesma intensidade de Ethan Hunt, o super agente da franquia Missão Impossível. Basta lembrar que quando o primeiro longa foi lançado, em 1996, Tom Cruise tinha apenas 32 anos. Hoje, ao divulgar Missão Impossível: O Acerto Final, o oitavo filme da série, o ator tem 62. São três décadas evitando a destruição global de todos os tipos de vilanias, sendo que agora o mal tem a forma difusa e megalomaníaca de uma inteligência artificial que ganhou vontade própria. Tom Cruise, ou melhor, Ethan Hunt não quer saber se o pato é macho, ele quer é salvar o mundo. Mas será pela última vez?
“É o fim mesmo! Não tem ‘final’ no título à toa”, disse o ator ao Hollywood Reporter pouco antes da première mundial em Nova York. Só que a resposta não é tão fácil quando tem muito dinheiro envolvido. Por exemplo, os filmes da franquia continuam indo muito bem nos cinemas, mesmo no pós-pandemia, e como não existem bobos em Hollywood, certamente a Paramount encontrará espaço e justificativa para spin-offs, prequels, sequels e o diabo a quatro. Agora, fica uma dúvida: será que funcionarão ou terão o mesmo apelo sem a presença de Tom Cruise? Só o tempo dirá, mas é difícil imaginar um Missão Impossível sem Ethan Hunt, por mais que o público tenha simpatia por Benji (Simon Pegg), Luther (Ving Rhames) e as mais recentes aquisições, Grace (Hayley Atwell) e Degas (Greg Tarzan Davis).
Ainda na première de Acerto Final, Cruise afirmou que quer continuar fazendo filmes de ação até os 80 anos como seu ídolo Harrison Ford e, abrindo o sorriso eternamente confiante, disse que “nunca vou parar. Nunca vou parar de fazer filmes de ação, e nem dramas, comédias. Estou sempre animado”. Tanto que pelos próximos anos, o ator já está vinculado à Top Gun 3, a uma muito aguardada sequência de No Limite do Amanhã (além de outros dois filmes com o diretor Doug Liman), a dois novos filmes com o amigo Christopher McQuarrie, a um possível cruzamento de F1 – O Filme com Dias de Trovão e até ao novo filme de Alejandro González Iñarritu.
O que se especula é que Tom Cruise vai sim continuar produzindo grandes espetáculos para as telonas, afinal de contas nenhum astro de Hollywood é tão comprometido com essa “missão” quanto ele, mas que não quer mais se arriscar tanto fisicamente como é de praxe na saga. Neste oitavo filme, Cruise fica pendurado nas asas de um avião da Primeira Guerra Mundial, cai e se filma em queda livre, enfrenta uma longa sequência subaquática, e se mete numa perseguição de carros dentro de uma gigantesca e perigosa mina. Segundo o próprio, Missão Impossível: O Acerto Final é o acúmulo de todo aprendizado que teve com as façanhas dos sete filmes anteriores. Tudo feito de verdade, na cara e coragem.
UM ASTRO EM DESAFIOS
Em maio deste ano, o ator foi homenageado em Londres com o BFI Fellowship, a maior honraria do renomado British Film Institute e durante uma hora falou sobre sua carreira que teve início em 1981, quando tinha 19 anos. “Fazer cinema, ser ator, não é o que faço, é o que sou”, disse em certo momento. Mas o mais impressionante neste seu relato, todo disponível no YouTube, é como sua ética de trabalho parece ter nascido pronta.
Cruise conta que já em seu segundo filme, Toque de Recolher (1981), sua personalidade empírica e curiosa o fez ir a cada departamento (fotografia, edição, distribuição, etc) para aprender em primeira mão como cada escolha é feita. Essa seria sua escola de cinema. E a cada filme, a cada novo ambiente, com novos profissionais e seus estilos próprios, Cruise aprendia um pouco mais.
E assim foi educado por Francis Ford Coppola (Vidas Sem Rumo), Ridley Scott (Lenda), Tony Scott (Top Gun e Dias de Trovão), Martin Scorsese (A Cor do Dinheiro), Barry Levinson (Rain Man), Oliver Stone (Nascido em 4 de Julho), Ron Howard (Um Sonho Distante), Rob Reiner (Questão de Honra), Sydney Pollack (A Firma), Neil Jordan (Entrevista com o Vampiro), Cameron Crowe (Jerry Maguire e Vanilla Sky), Stanley Kubrick (De Olhos Bem Fechados), Paul Thomas Anderson (Magnólia), Steven Spielberg (Minority Report e A Guerra dos Mundos) e Michael Mann (Colateral). Sem falar em colegas como Paul Newman, Dustin Hoffman, Jack Nicholson, Gene Hackman e Meryl Streep.
Sempre buscando novas habilidades para o próximo e os próximos projetos.
UM PRODUTOR EM MOVIMENTO
Em meio a todo esse aprendizado, Cruise criou e expandiu seu próprio universo de ação, entretenimento, thriller e experimentações, a franquia Missão Impossível. É que, em algum momento da primeira metade dos anos 1990, o ator, sempre tão workaholic e controlador, sentiu a necessidade de ser também produtor. Foi olhando o catálogo da Paramount que se deparou com a série Missão Impossível (televisionada de 1966 a 1973, com um chorinho em 1988). “É isso”, pensou. Nem imaginaria que aquela decisão mudaria sua vida.
Então, durante evento do BFI, ao ser perguntando o que o levou a “reviver” a série em seu primeiro longa como produtor, Cruise brincou: “Eu amava a música-tema”. Mas a verdade logo revelada é que “achou interessante transformar uma série de TV sobre a Guerra Fria em um filme de ação e suspense em permanente movimento”. Especialista em dualidades, máscaras e espetáculo, o diretor Brian De Palma foi a escolha perfeita do produtor Cruise para o primeiro Missão Impossível, lançado em 1996.
O ator Simon Pegg, que interpreta Benji desde o terceiro filme da franquia, gosta de dividir a saga em duas partes. A primeira é formada pelos quatro primeiros longas, cada um com um diretor diferente (De Palma, John Woo, JJ Abrams e Brad Bird). Era uma franquia e um astro-produtor em busca de uma simbiose perfeita com o diretor que, nestes filmes, sempre funcionaram em maior ou menor grau, mas nunca se sustentaram.
Já a segunda são os quatro últimos, todos dirigidos e escritos por Christopher McQuarrie. Cruise e seu irmão criativo conseguiram criar uma fórmula bastante ousada que tem início com interesses, desejos e novas habilidades do astro-produtor, bem como locações e sequências de ação, que depois são ligadas e costuradas a uma história. São todos filmes que vão sendo escritos conforme são produzidos. É bem parecido com uma frase que Ethan Hunt fala com bastante frequência quando precisa rapidamente mudar a rota quando imprevistos acontecem: “Eu vou dar um jeito”.
Durante entrevista para a BBC, Pegg reuniu essas duas partes da franquia numa mesma definição. “Em termos de espetáculo, Tom [Cruise] elevou muito o nível”, afirmou. Não só os filmes viraram uma referência em termos de ação como também são modelos de uma franquia com absurda regularidade na qualidade. “Mas, pra falar a verdade, a jornada dele [Tom Cruise] é bastante simples: ele dá 100% de si em tudo o que faz”, disse Pegg aos risos em entrevista para Greg Williams do canal Hollywood Authentic.
Consequentemente, o astro-produtor espera também 100% de dedicação de toda sua equipe e que, assim, todos estejam a serviço do espetáculo e do público. Seu irmão-criativo, o diretor Christopher McQuarrie, sabe bem como é esse comprometimento. “Não há ego. E não existe um conjunto específico de regras além daquelas que servem para entreter o público. Não se trata realmente de quem está certo e quem está errado. É tudo uma questão de o que é certo para o público. Isso nos permite eliminar conflitos”, afirmou McQuarrie em entrevista para o site MovieMaker.