ah, demorei um pouco para colocar o sexto texto da ultra pop aqui. correrias, marchas, esquerda festiva, sacumé? dessa vez, pensando sobre a diferença entre os programas de auditórios de faustão e chacrinha (que voltou a ser exibido no canal viva), voltei a um tema que vira e mexe aparece por lá: a defesa do retorno de uma certa loucura ingênua, uma liberdade, uma anarquiazinha, nas nossas produções audiovisuais. a coluna mais recente, "a banda mais coisinha-bebê do brasil" (título autoexplicativo), já está por lá.
CHACRINHA CONTINUA BALANÇANDO A PANÇA
Quando a loucura de um programa de auditório é domada? Quando um Chacrinha se transforma em um Faustão? No final de semana passado foi possível ter algumas respostas ao assistir os programas de dois dos maiores apresentadores da TV brasileira, o Cassino do Chacrinha e o Domingão do Faustão (e quando digo "maiores" para Fausto Silva é mais pela importância histórica do que por gosto pessoal). O do Velho Guerreiro, já em sua fase final na TV Globo (1982-88), começou a ser reprisado no Canal Viva e o do Faustão é aquele mesmo de todo santo domingo.
Cerca de 25 anos os separam, mas é muito revelador sobre o conservadorismo da nossa televisão que muito do formato de um permaneça vivo no outro, só que com o importante detalhe que aquele vovó de roupas extravagantes, e beirando os 70 anos, ainda é mais anárquico hoje em dia que o tiozão de camisetas ultraestampadas. E não adianta falar que os dois possuem a mesma rica formação radiofônica e nem que o Faustão já foi, um dia lá atrás no Perdidos na Noite, um honrado sucessor de Chacrinha. A verdade é que algo se perdeu entre as tardes de sábado e as tardes de domingo.
A impressão que tenho é que Chacrinha fazia seu programa mais para o público, qualquer que fosse ele, enquanto o Faustão pensa mais nos anunciantes. E isso, amiguinhos e amiguinhas, faz toda a diferença no calor e na diversão de um programa de auditório. Não é não, Bezerra da Silva?
Por mais que um pessoal na caixa de comentários continue acreditando que o mundo está perdido, que está faltando religião, que tudo é uma pouca vergonha, a realidade é bem outra. Existe um bom mocismo hipócrita e repressivo comendo solto por aí mais uma vez (coisas assim acontecem como ondas em resposta a outras de sentido libertário). Faustão, por exemplo, precisa elogiar seus convidados até eles corarem de vergonha, sem nunca abrir espaço para o humor, ou para a ironia. É que nada pode afastar o pessoal que coloca a grana. Já Chacrinha começou a jogar bacalhaus para a platéia para salvar o produto encalhado na Casas da Banha, um dos patrocinadores de seu programa na época da TV Tupi. Visões de marketing muito diferentes, ora pois.
Faustão jamais colocaria nomes como Soninha Toda Pura, Regina Polivalente, Bia Zé Colméia, Fátima Boa Viagem ou Elza Cobrinha nas moças de seu corpo de baile. E Chacrinha não estava nem aí e dublava marchinhas de duplo sentido rodeado pelas suas moças com maiôs purpurinados. O Velho Guerreiro era, em um certo sentido, bem parecido com as pornochanchadas da década de 1970: um pouco sacana, um pouco ingênuo, quase infantil.
Já a questão musical dos dois programas é um capítulo à parte. Claro que existe uma relação muito próxima (para não usar outro termo) com as grandes gravadoras, mas em qualquer mundo, e sob qualquer circunstância, é mais interessante assistir os Titãs mandando ver “Homem Primata” (ou então Roger, do Ultraje a Rigor, cantando “Por isso eu sempre sou terceirooo!”) do que o NX Zero chorando as pitangas por algum amor que não deu certo ou Claudia Leitte pedindo para tirar o pé do chão. Eu, como Chacrinha e Roberto Carlos, sempre vou preferir ser “o sabonete que te alisa embaixo do chuveiro”.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário