sexta-feira, 22 de junho de 2012

caio blat não é mais um menino

taí outro frila que fiz antes da entrada na istoé, dessa vez para a revista de bordo da trip linhas aéreas. caio blat estava em um batidão de entrevistas e a nossa conversa durou pouco mais de dez minutos (por isso não tem nenhum material extra). e foi durante a igualmente breve sessão de fotos para a revista, feitas por érico hiller, que fiz essas que ilustram o perfil.



CRESCENDO NO TRABALHO

Um dos atores que mais trabalha no cinema brasileiro, Caio Blat lança dois longas ao mesmo tempo e comemora a maturidade de seus novos personagens

Caio Blat está cansado. Dormiu pouco, acordou no Rio de Janeiro, pegou ponte aérea e veio até São Paulo para divulgar Uma Longa Viagem, novo longa de Lúcia Murat. Poucas semanas antes estava em outro batidão de entrevistas, dessa vez sobre Xingu, de Cao Hamburger. Sem falar que é pai de um menino de 2 anos, Bento, primeiro fruto de seu casamento com a atriz Maria Ribeiro. Com tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, não é surpresa lhe flagrar soltando um ou outro bocejo entre perguntas e respostas.

“Fazer um filme é um esforço tão grande, um desgaste tão descomunal, que normalmente quando termino um me dá vontade de ir para o extremo oposto”, revela sobre as diferenças entre os dois filmes que protagoniza e que chegaram juntos aos cinemas. Xingu é um épico sobre a expedição dos irmãos Villas-Bôas por desconhecidas terras indígenas nos anos 1940, com grande elenco e filmagens em externas. Já Uma Longa Viagem é um documentário pessoal, no qual Blat, sempre sozinho em cenas filmadas dentro de um casarão, interpreta as cartas escritas na década de 1970 pelo irmão da cineasta Lúcia Murat em suas perambulações pelo mundo. Essas cenas se alternam com imagens de arquivo e entrevistas com o próprio Heitor Murat.

“Minha carreira é pautada por essa busca pela diversidade. Quando termino um filme de violência quero fazer um de amor. Quando termino um de amor quero fazer, sei lá, um documentário. Esse é um dos valores que me move”, e por isso acabou desistindo de atuar em A Montanha, de Vicente Ferraz, sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial (Daniel de Oliveira entrou em seu lugar). Seria muito parecido com sua experiência em Xingu e o deixaria outros meses longe do filho pequeno.


Foi assim que ele partiu de uma grande aventura histórica para essa “viagem absolutamente intimista” retirada do baú de memórias de Lúcia Murat e seu irmão Heitor. “Fiquei comovido com o convite porque o material com que ia trabalhar eram cartas muito íntimas com histórias familiares de muita dor, dificuldades, perdas... era como se ela me chamasse para dentro da família.” E lá se foi Blat ser o irmão mais novo, aquele que mandado a Londres para não se meter na luta contra a ditadura – a irmã Lúcia foi torturada e ficou presa por 3 anos e meio – acabou por cair no mundo em busca de sua própria identidade. O que os irmãos descobriram em suas jornadas e o que se perdeu no caminho calaram fundo no ator. “Foi uma surpresa ver uma pessoa que passou por processo tão maluco de adoecimento e alienação se revelar de uma tremenda lucidez e uma auto-ironia muito forte. Não foi à toa que ele queria ir pra Índia, afinal lá os loucos são considerados iluminados. O Heitor questiona nossa sociedade de uma forma muito genial e autêntica.”


Mas Uma Longa Viagem marcou também o reencontro de Blat com uma época que muito lhe interessa e na qual esteve outras vezes, afinal o curta O Quintal dos Guerrilheiros (2005) e os longas O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006) e Batismo de Sangue (2007) também se passam entre o fim da década de 1960 e início dos anos 70. “É que [nessa época] tem essa predisposição de ir para o mundo, de questionar tudo e todos, de querer romper com a família e as instituições, novas formas de consciência, novas formas de comportamento... acho que a minha geração [ele nasceu em 1980] que já cresceu na democracia nunca vai ter a dimensão do que é viver em um país sob a ditadura, de ter que lutar por liberdade de expressão.”

Esse movimento pendular de uma época entender a outra, de uma geração dialogar com outras, sempre o acompanhou. Foi assim com sua paixão pelos livros desde os tempos de criança, começando pelos romances de mistérios e crimes escritos por Agatha Christie (1890-1976) e seguindo pela poesia de Castro Alves (1847-1871) e Álvares de Azevedo (1831-1852). Lendo sempre e trabalhando muito, Blat foi construindo uma carreira variada, com novelas para toda família (Um Anjo Caiu do Céu, Da Cor do Pecado e Caminho das Índias), filmes densos (Lavoura Arcaica, Quanto Vale ou é por Quilo? e Bróder), trabalhos mais leves (O Bem Amado, Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos e As Melhores Coisas do Mundo) e até, espírita que é, longas que versam sobre sua crença (Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito e As Mães de Chico Xavier).

“Comecei muito novo [a atuar] então meus trabalhos se aproveitaram dessas diversas fases. Tinha uma cara de menino, então isso me manteve durante muitos anos fazendo personagens que tinham certa pureza, mas também fiz filmes fortes com diretores com linguagens muito diferentes como Cláudio Assis (Baixio das Bestas) e Hector Babenco (Carandiru), que inclusive não se bicam”, relembra.

Após lançar Xingu e Uma Longa Viagem, Blat aguarda a finalização de Corpo Fechado, o primeiro longa de Luiz Henrique Rios, diretor de novelas da Rede Globo, baseado em contos do livro Sagarana de Guimarães Rosa. Também está filmando A Pele do Cordeiro, novo filme de Paulo Morelli (Cidade dos Homens), e daqui alguns meses voltará a colocar os pés no Projac para atuar em Lado a Lado, novelas da faixa das 6.

“Essa trajetória me enriqueceu muito, ajudou a criar minha própria linguagem e me deu vontade de interferir mais no processo, tanto que dos últimos sete ou oito filmes que fiz também sou produtor associado. Fora que de uns quatro ou cinco anos para cá comecei a interpretar adultos e foi uma conquista importante. Alcancei uma maturidade nos personagens”, explica o jovem adulto que teima em esconder com uma vasta barba sua eterna cara de menino curioso.

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