quinta-feira, 29 de agosto de 2013

mexidão #33

nunca me identifiquei direito com o humor cearense, talvez porque só tenha vivido lá até os 9 anos. mas quando vi o trailer de cine holliúdy, longa fenômeno de bilheteria dirigido por haldon halder gomes, parece que fiz as pazes, rolou um reencontro. o sotaque, a velocidade da fala, o deboche, as gírias, tudo é familiar e foi uma delícia ver isso retratado em um filme. não assisti ainda, claro, pois a estratégia de lançamento privilegiou o ceará e a partir dessa sexta, 30 de agosto, o resto do norte e nordeste. sul e sudeste, atrasadões, ficaram para depois. enquanto isso, só posso ficar rindo de rachar com o moleque falando "ô cego ignorante" pro personagem do falcão. posso também, como fiz no yahoo, bater um papinho com o diretor desse filme profundamente cearense.



O CINEMA PARADISO DA FULERAGEM

Por essa pouca gente esperava. Uma comédia independente, sem atores famosos, cearense e com legendas (isso mesmo, legendas pra entender melhor o “cearensês”), pode ser o grande sucesso nacional de 2013, desbancando o atual hit do ano, Minha Mãe é uma Peça. Mesmo que fique em segundo lugar, o longa Cine Holliúdy já é um grande vencedor, afinal estreou na semana passada em alguns cinemas de Fortaleza, Sobral, Maracanaú e Limoeiro do Norte e vendeu 43 mil ingressos em apenas 6 dias (45% do total da bilheteria do Estado). São números impressionantes e que prometem aumentar quando o filme de Haldon Halder Gomes estrear, em 30 de agosto, em outras cidades e capitais do Norte e Nordeste (Sul, Sudeste e Centro Oeste ficarão mais pra frente numa interessante e regionalizada nova estratégia de lançamento).

Rodado em seis semanas e com um orçamento de R$ 1 milhão, Cine Holliúdy é a história de Francisgleydisson (Edmilson Filho), um homem apaixonado por cinema que organiza, junto com a mulher e o filho, exibições improvisadas de filmes em uma cidade no interior do Ceará, na década de 1970. A divertida fauna humana da cidade e as confusões geradas por um projetor quebrado completam o quadro dessa comédia escrachada e profundamente cearense. E as legendas servem para outros Estados entenderem palavras como “catrevagem”, “espilicute”, “bonequeiro”, “cangapé” ou expressões como “tenha nervo”, “do tempo que o King Kong era soim” e “chiba nos possuídos”.

Diretor de filmes de ação (Sunland Heat), terror (The Morgue) e drama espírita (As Mães de Chico Xavier), Haldon Halder Gomes batalhou durantes anos para transformar um curta que fez em 2004 (Cine Holiúdy - O Astista Contra o Cabra do Mal) em um longa que homenageasse as coisas que mais ama na vida: o cinema, o humor e sua terra. E agora está feliz “que só uma porra”. Falaí, macho réi.


Como foram as exibições em Fortaleza?
Sensacionais! Todas as sessões esgotadas horas e dias antes, em todos os cinemas e em todos os horários. As pessoas não saem simplesmente satisfeitas - o que já seria excelente -, mas, sim, militantes do filme. Tenho visitado e aberto sessões diariamente nos cinemas da cidade pra agradecer este carinho.

E sua expectativa pra recepção do filme em outras regiões do Brasil, especialmente Sul e Sudeste?
Também espero uma ótima recepção. O filme já esteve em vários lugares do mundo, e andou pelo Brasil, em festivais, e tem encantado por onde passa. É uma história de amor universal, acima de tudo. Muitos críticos o chamaram de Cinema Paradiso Brasileiro.

Em seus filmes anteriores você trabalhou em gêneros (ação, comédia, terror) e temas (espirituosidade) bastante populares. Que cineastas ou artistas são referências no seu trabalho? Que outros tipos de gêneros você gostaria de trabalhar?
Minha vida sempre foi muito intensa e eclética de universos: luta, surf, futebol, artes plásticas, etc. Quero contar histórias com que me identifico, por isso esta pluralidade. Não tenho tantas referências, sou mais de fazer reverências a muita gente e coisas que gosto, como pintura, músicas, filmes, futebol, etc. Isto sempre está presente nos meus filmes. No momento, quero fazer mais comédias de ação, em parceria com a Downtown Filmes,  e, em seguida, um filme autoral, sobre um pintor no fim da vida, Vermelho Monet.

Haldon Halder Gomes no set de Cine Holliúdy; peguei a foto aqui

Ouvi você falando em outras entrevistas que existe uma procura consciente da sua parte pelo público, pela comunicação com a plateia. O que você acha que os brasileiros querem ver na tela? E como lutar contra Hollywood?
Sim, faço minhas pesquisas empíricas de mercado. Procuro nichos latentes e seus anseios. O cinema nacional precisa saber se posicionar e compreender sua diversidade cultural e regionalização em virtude de suas dimensões continentais e populacionais. Cine Holliúdy está aí pra mostrar ao cinema nacional independente como enfrentar Hollywood.

O que você aprendeu nos seus anos de Estados Unidos em termos de produção e comunicação?
Uni meus conhecimentos em administração de empresas e especialização em marketing a aplicação no cinema, como produção e lançamento. Pude aprender o que eles fazem de melhor e aplicar à nossa realidade, com precisão e cadeia produtiva, sem perder a autoralidade.

O Ceará é muito conhecido por seu humor e seus humoristas. Como você descreveria o humor cearense?
O humor cearense é diferenciado devido a nossa capacidade de saber rir de si, de não ter barreiras para a piada sem medo de perder o amigo. Este exercício diário de humor aguçado nos deixa mais criativos e com timing perfeito pro humor. Tanto é que no Ceará não existe bullying. Nós temos o anti-bullying, que é uma expressão local que diz “Aí dentu!”. Assim, todo mundo tira onda com todo mundo, e assim vivemos um show de humor no cotidiano.

com vocês, o curta cine holiúdy - o astista contra o cabra do mal.

Nenhum comentário: