terça-feira, 13 de agosto de 2024

eddie murphy ou axel foley, eis a questão

acabei esquecendo de atualizar aqui, mas rolaram mais uns frilas pra revista Monet. na edição de julho teve Eddie Murphy retornando mais uma vez como o icônico detetive Axel Foley em Um Tira da Pesada 4: Axel F. saca só.

UM COMEDIANTE DA PESADA

Quando Eddie Murphy interpretou pela primeira vez o irreverente Axel Foley em Um Tira da Pesada (1984) ele tinha pouco mais de 20 anos. No entanto, do alto de sua juventude, já possuía quatro anos de estrada no programa Saturday Night Live e dois filmes de sucesso (48 Horas e Trocando as Bolas). Mas nada disso chegaria perto da explosão mundial que foi a chegada daquele detetive negro, anárquico e de sorriso largo na branca, milionária e corrupta Beverly Hills. Agora, exatos 40 anos depois, um mais experiente e ainda anárquico Axel Foley retorna ao sol da Califórnia para solucionar novos crimes em Um Tira da Pesada 4, filme de estreia do australiano Mark Molloy. 

Claro que a vida artística de Edward Regan Murphy é muito mais vasta, intensa, irregular e elétrica que suas quatro encarnações como Axel Foley. Novaiorquino do Brooklyn, Eddie Murphy foi o segundo e último filho de Lilian Murphy e Charles Edward Murphy, casal que se separou quando o pequeno Eddie tinha apenas 3 anos. O pai morreria 5 anos depois ao ser esfaqueado por uma amante e, mais ou menos ao mesmo tempo, a mãe ficou doente e Eddie e o irmão Charles passaram uma temporada em um orfanato. Felizmente, a mãe se recuperou, casou de novo e os irmãos voltaram a ter um lar. 

Aos 15, o totalmente irrequieto Eddie, muito influenciado pelos ídolos Richard Pryor e Peter Sellers, encarou um show de talentos no Roosevelt Youth Center e personificou o cantor Al Green dublando o hit “Let’s Stay Together”. As gargalhadas e aplausos em resposta lhe deram a certeza que aquilo seria sua vida. Quatro anos depois, foi chamado para o elenco fixo do Saturday Night Live e rapidamente tornou-se um dos responsáveis por colocar o programa de novo no radar após algumas temporadas desastrosas no final da década de 1970. Nessa época contracenou com os igualmente jovens James Belushi e Julia Louis-Dreyfus (Eddie e Julia voltariam a se encontrar, em 2023, na comédia Certas Pessoas, disponível na Netflix). 

O sucesso de Eddie no Saturday Night Live foi tão rápido que já em seu segundo ano de programa ganhou a primeira chance no cinema. A comédia policial 48 Horas (1982), de Walter Hill, foi o perfeito carro chefe para o humor e o carisma de Eddie (ainda mais contrastando com o turrão Nick Nolte), e o filme entrou para a lista das dez maiores bilheterias do ano. De 1982 a 1988, Eddie Murphy mandava prender e mandava soltar, não tinha pra ninguém, e assim vieram grandes sucessos como Trocando as Bolas e Um Príncipe em Nova York, ambos dirigidos por John Landis, os dois primeiros Um Tira da Pesada, o especial stand-up Sem Censura, O Rapto do Menino Dourado e até um passo em falso, A Melhor Defesa é o Ataque. Sobre este último disse, em programa do David Letterman em 1984, que só aceitou pelo dinheiro e se arrependeu tanto que afirmou nunca mais faria nada parecido. “Quer dizer, só se for muito, muito, muito, muito dinheiro”, brincou. 

Mas nada que é bom dura para sempre e no final da década de 1980 até meados dos anos 1990, Eddie Murphy passou por sua primeira fase em baixa. Tudo começou com seu primeiro (e único) filme como diretor, Os Donos da Noite, que contou com a presença de dois de seus maiores ídolos, Richard Pryor e Redd Foxx, o amigo Arsenio Hall e o irmão Charlie Murphy. Mesmo sendo uma comédia, o público não comprou a personagem de Eddie sem aquele charme debochado que fez sua fama e o fato de ser ambientado nos distantes anos 1930. O filme foi um fracasso de bilheteria. 

Tentando se recuperar de tamanha frustração optou por projetos certeiros e qual não foi sua surpresa quando 48 Horas - Parte 2, novamente sob direção de Walter Hill, e Um Tira da Pesada 3, agora com John Landis atrás das câmeras, também fracassaram. O mesmo aconteceu com Um Vampiro no Brooklyn, comédia de terror dirigida pelo mestre Wes Craven. 

Já na segunda metade da década de 1990, alguns respiros do bom e velho Eddie, tais como O Professor Aloprado (no qual interpretou vários personagens, uma de suas marcas registradas), o delicioso Os Picaretas (escrito e co-estrelado por Steve Martin e dirigido por Frank Oz), e Mulan (seu primeiro trabalho de voz em animação). Aliás, foi Mushu, o pequeno e divertido demônio chinês de Mulan, que abriu as portas para Eddie interpretar o debochadíssimo Burro em Shrek (2001), animação tão bem sucedida que teve mais três longas e inúmeros especiais. 

Fora Shrek e a atuação coadjuvante indicada ao Oscar em Dreamgirls (2006), os anos 2000 e 2010 foram duros para Eddie. Aconteceu de tudo, desde um dos maiores fracassos de bilheteria da história (a ficção científica Pluto Nash) até comédias familiares risíveis (Imagine Só, A Creche do Papai e Mansão Mal Assombrada), passando por roteiros trash (Norbit e O Grande Dave), escolhas furadas (As Mil Palavras e o drama – um drama!? – Mr. Church) e desperdícios de elenco (com Robert De Niro em É Hora do Show, Owen Wilson em Sou Espião e Ben Stiller e Matthew Broderick em Roubo nas Alturas). A situação ficou tão difícil que o ator assumiu uma semi-aposentadoria em parte dos anos 2010. “Fiquei largado no sofá”, disse em inúmeras entrevistas. 

As coisas mudaram de rumo com Meu Nome é Dolemite (2019), primeira parceria do ator com a Netflix e um projeto muito pessoal. Nesta comédia ambientada nos anos 1970, Eddie interpretou Rudy Ray Moore, ator, cantor e produtor de filmes cult como Dolemite e The Human Tornado. Com o sucesso do filme no streaming, o ator conseguiu produzir Um Príncipe em Nova York 2 e agora, novamente pela Netflix, Um Tira da Pesada 4. “Faço filmes desde 1982 e de lá pra cá tiveram períodos quentes e frios, altos e baixos, mas na minha vida tudo acontece em ciclos. Sempre bom lembrar que muita gente não continua fazendo coisas nesse negócio por tanto tempo quanto eu. Então, sucesso é a exceção, não a regra”, afirmou em entrevista para Al Roker no programa Today em 2019. Eddie Murphy está de volta mais uma vez. 


UM BOX DA PESADA

Um Tira da Pesada (Martin Brest, 1984)

A primeira aventura de Axel Foley em Beverly Hills definiu de vez a persona do ator na telona, com seu jeito charmosamente debochado, e rapidamente tornou-se um ícone pop dos anos 1980. São tantas cenas memoráveis, e algumas totalmente improvisadas, que é até difícil escolher uma (e o então diretor iniciante, Martin Brest, conduz tudo muito bem). Quem poderia imaginar que o filme originalmente seria estrelado por Sylvester Stallone? 

Um Tira da Pesada 2 (Tony Scott, 1987)

Os produtores do segundo filme de Axel Foley decidiram chamar Tony Scott, que acabara de vir do sucesso Top Gun, para injetar ainda mais ação no humor de Eddie. O resultado foi um novo sucesso de bilheteria, mesmo com problemas no roteiro e atrasos frequentes do ator para as filmagens. 

Um Tira da Pesada 3 (John Landis, 1994)

Eddie Murphy não vivia uma fase boa na carreira quando aceitou encarar Axel Foley novamente e parecia uma boa ideia chamar John Landis para dirigí-la. Landis tinha timing de comédia e já havia trabalhado com Eddie em Trocando as Bolas e Um Príncipe em Nova York

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