sexta-feira, 15 de agosto de 2025

flutue como uma borboleta, pique como uma abelha

entre trabalhos para o Ministério da Educação e outros para a Forbes Brasil, mais um frila leve e gostoso pra revista Monet: uma costura sobre as sagas Rocky e Creed. sem mais lenga-lenga, o texto...

cartaz polonês de Rocky

NOS RINGUES DA VIDA

Os seis filmes da saga de Rocky Balboa e os três filmes sobre Adonis Creed estão disponíveis entre maratonas e streamings

Década vai, década vem, gerações a perder de vista, e o boxe segue como o esporte referência para histórias de vitórias, derrotas, redenções e superações no cinema. Podem ser cinebiografias de lutadores muito reais como Muhammad Ali (Ali), Jake LaMotta (Touro Indomável), Rocky Graziano (Marcado Pela Sarjeta), James Braddock (A Luta Pela Esperança) ou Rubin Carter (Hurricane – O Furacão). Podem ser ainda peças completamente ficcionais como os notáveis Corpo e Alma, Réquiem para um Lutador, Fat City e Menina de Ouro. Mas nada levou o boxe tão longe, e mostrou tanto da vida e das lutas de um homem como a saga Rocky, criação de Sylvester Stallone. 

Fã de boxe, o ator novaiorquino já tinha quase 30 anos quando sentou para assistir a luta entre Muhammad Ali e Chuck Wepner pelo título mundial em 24 de março de 1975. Aconteceu tanta coisa nos 15 rounds daquela luta – com direito ao azarão Wepner sendo um dos pouco a levar Ali à lona (que mesmo assim ganhou) –, que Stallone ficou dias pensando nela, obsessivamente. Pouco tempo depois sentou diante de uma máquina de escrever e o primeiro roteiro de Rocky nasceu em pouco mais de três dias. 

Até aquele momento Stallone era pouco ou nada conhecido. Em seu currículo, alguns papéis minúsculos em grandes filmes do início dos anos 1970 como MASH, Bananas, Klute e Essa Pequena é uma Parada, e outros pequenos em filmes pouco lembrados como Os Lordes de Flatbush, O Últimos dos Valentões e Corrida da Morte. Mas ali, vendo a história que ele próprio criou sobre um lutador desacreditado em busca de uma segunda chance, sentiu que Rocky Balboa era ele, só podia ser ele. 

Seus agentes à época sentiram que o roteiro tinha futuro e saíram por Hollywood batendo de porta em porta. Todos se interessaram, mas quando ficavam sabendo que Stallone não abria mão de interpretar o lutador, desconversavam. Queriam um Robert Redford, um Ryan O’Neal, um Burt Reynolds, um James Caan, queriam alguém com apelo comercial e branquitude. Ofereceram até US$ 360 mil pelo roteiro se ele ficasse de fora, e em um momento que Stallone tinha pouco mais de 100 dólares no banco e tinha acabado de vender o próprio cachorro para pagar as contas. 

“Eu sabia que se vendesse esse roteiro, e ele se saísse muito, muito bem, eu ia pular de um prédio se não estivesse nele. Não tenho a mínima dúvida. Então, essa é uma daquelas coisas em que você simplesmente arrisca, voa pelo seu próprio ritmo e diz: ‘Preciso tentar. Preciso fazer’. Podia estar totalmente errado e levar muita gente comigo, mas acreditava muito nisso”, disse o ator em entrevista para Michael Watson no especial televisivo The Rocky Story. 

Stallone arriscou tudo e Rocky foi a maior bilheteria do ano de 1976, teve 9 indicações ao Oscar (levou de melhor filme, edição e direção para John G. Avildsen, que poucos anos depois dirigiria Karatê Kid) e se tornou um fenômeno pop ao criar não apenas um, mas dois personagens icônicos (Rocky, obviamente, e seu rival-amigo Apollo Creed). 

Stallone não demorou muito para voltar ao personagem e Rocky II foi lançado em 1979 com o ator também assumindo a direção dessa dramática revanche contra Apollo Creed (Carl Weathers). Rocky torna-se, finalmente, campeão. Três anos depois, em Rocky III, o boxeador está prestes a se aposentar quando é chamado para defender novamente o título contra o jovem James “Clubber” Lang (Mr. T) e chama o agora amigo Apollo Creed para lhe treinar. No mesmo ano de 1982, Stallone também lança Rambo – Programado para Matar e solidifica seu status de estrela mundial. 

Outros três anos se passaram e então Stallone, no auge de sua fama, deu sua contribuição para a Guerra Fria em Rocky IV (e, também em 1985, no segundo Rambo). O astro assume novamente assume roteiro e direção em um filme que se afasta do realismo dos três primeiros e hoje soa inescapavelmente datado, com direito a perda trágica do amigo Apollo Creed, um boxeador vilão soviético (Drago, interpretado por Dolph Lundgren) e um final tão catártico quando ingenuamente esperançoso (“Se eu mudei, se vocês mudaram, o mundo todo pode mudar”, grita Rocky do alto do ringue). 

Rocky IV até fez sucesso comercial, mas foi duramente espancado pela crítica especializada. Stallone tentou se reerguer com o violento Cobra e o divertido Tango & Cash, mas sua carreira entrou numa espiral de péssimas escolhas, incluindo o retorno ao boxe em Rocky V. Lançado em 1990, o filme marca o retorno do diretor do primeiro (John G. Avildsen) e ao realismo da vida de um ex-lutador com problemas financeiros e de saúde. Ninguém se interessou pelo filme e Stallone tanto se arrependeu de fazê-lo que passou anos e anos buscando um desfecho mais honroso para o personagem que criou. 

Rocky Balboa, o sexto e último filme da saga, flagra o personagem recém-viúvo e dono de um restaurante italiano, ao mesmo tempo buscando uma relação melhor com o filho em lutas que não espera vencer. Stallone volta a assinar direção e roteiro em um filme que, lançado em 2006, é orgulhoso de suas raízes e dos dramas de um personagem complexo que passou por poucas e boas. 

CREED, O FILHO DO CARA 

Em 2013, os estúdios MGM anunciaram Creed, um spin-off da saga Rocky para uma nova geração. O foco agora seria o problemático Adonis Creed (Michael B. Jordan), filho de um caso extraconjugal de Apollo Creed, e a direção e roteiro seriam assumidos pelo igualmente jovem Ryan Coogler, em seu segundo longa (o terceiro seria nada menos que Pantera Negra). Stallone volta a encarnar Rocky, dessa vez como mentor do jovem Creed. Lançado em 2015, o enérgico Creed deu uma nova vida ao Universo Rocky. 

O ator e seu personagem voltam em Creed II com direito a um duro acerto de contas com o passado, afinal de contas o rival de Adonis Creed é o russo Viktor (Florian Munteanu), filho de Drago, o homem que matou Apollo. Stallone também assina o roteiro deste filme lançado em 2018 e que talvez seja a última aparição de Rocky Balboa, pois em Creed III, lançado em 2023, o ator não aparece mais nem como produtor executivo. A razão disto pode ser uma briga de décadas pelos direitos do personagem. 

“Acho que nunca terei os direitos de Rocky. Foi feito um acordo sem que eu soubesse, por pessoas que achava que eram próximas, e elas basicamente cederam quaisquer direitos que eu teria. Na época, eu estava tão animado para trabalhar e não entendia que isso era um negócio. Quem diria que Rocky continuaria por mais 45 anos? Nunca usei nenhuma [linha de diálogo] de ninguém — e a ironia é que não sou dono de nada disso. E pessoas que literalmente não fizeram nada, controlam isso”, disse Stallone ao Hollywood Reporter. 

Enquanto Stallone lamenta o futuro de seu personagem, Michael B. Jordan comemora o sucesso da franquia Creed. Em Creed III estreou como diretor e já existem planos para um quarto filme. Hollywood não pode parar.

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