domingo, 23 de novembro de 2025

as 82 vidas de jards macalé

tinha acabado um trabalho e estava prestes a sair pra pegar filha na escola quando dei uma espiada no Instagram. foi então que pulou na minha cara a notícia da morte do Jards Macalé no perfil do próprio Jards. tinha acabado de ser publicada. 1 minuto atrás. lembro bem disso também. 17 de novembro de 2025, a tarde de uma segunda-feira. achei que que iria lamentar. cara foda. um dos maiores. ídolo. viveu bons 82 anos, com vários anos não bons, mas 82, então era de se esperar. ao mesmo tempo tava produzindo bastante, coisas inéditas, numa longa fase ótima. porra, mesmo assim.

só que senti mais do que esperava. chorei uma, duas, três vezes. era por ele, o romântico debochado, o sambista abolerado, o inquieto zen, um artista tão original no que criava quanto no que recriava (afinal ele 'jardsificou' Ismael Silva, Zé Keti, Noel Rosa, Tom Jobim, Geraldo Pereira, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola, Lupicínio Rodrigues, etc). mas chorei por mim também, provavelmente, porque a sensação foi a de perder um tio muito querido, aquele tipo de tio (ou tia) que transforma sua vida de alguma forma, mostra coisas, tem um humor mais livre. já perdi um tio assim (salve Flores!) e é uma ausência que nunca passa.

passei a noite e a manhã seguinte com esse baque, um vazio. mas também feliz de ouvir tantas histórias de tanta gente, de tanto amor e aprendizado e piada. de lembrar da vez que o entrevistei nos tempos do Gafieiras (e fotografei e escrevi o texto de abre) e vi e fotografei um show dele no pequenino e saudoso Villaggio Café, tudo no mesmo 1º de abril de 2006. e feliz de ver como ele, a música dele, o jeito, o humor, fazem parte do que sou (como Itamar Assumpção, Buster Keaton, Laerte, etc etc etc). oras bolas, é de uma música dele o nome desse blog e um resumo de mim: meu segredo é que sou um rapaz esforçado.

tudo ok no Villaggio Café, em 2006

nos dias e noites que se seguiram desta semana, enquanto trabalhava, ouvi pela primeira vez a discografia de Jards em ordem cronológica, participações em outros discos, pra fazer a minha playlist dele, um resumão musical de 60 anos de carreira. olha só. escuta isso. que cara foda esse Jards Macalé.


acima, a playlist, e abaixo, a lista das 82 músicas pros 82 anos de vida de Jards Macalé, um dos maiores da história mundial de gentes e artistas. é tanto uma homenagem a ele quanto um registro da minha jornada pela música dele, em discos próprios, participações, tributos, ao vivos e em estúdio. mantive a ordem cronológica (só uma que não consegui info) e não estabeleci cotas por disco. o tanto que a música, a voz e o humor de Jards fizeram trilha da minha vida é uma coisa que não tá no gibi.

"Sem essa" (1969)
"Soluços" (1969)
"Farinha do desprezo" (1972)
"Vinheta Vapor Barato/Revendo amigos" (1972)
"Mal secreto" (1972)
"Movimento dos barcos" (1972)
"Meu amor me agarra e geme e treme e chora e mata" (1972)
"Rua Real Grandeza" (1974)
"Imagens" (1974)
"Anjo exterminado" (1974)
"Dona de castelo" (1974)
"Mambo da Cantareira" (1974)
"Mora na filosofia/E daí?" (1974)
"Boneca semiótica" (1974)
"Choro do Archanjo" (1976)
"Conto do pintor" (1976)
"Sim ou não" (1976)
"Black and blue" (1976)
"Contrastes" (1976)
"Pai e mãe" (1977)
"Vela no breu" (1977)
"Tio Barnabé", com Marlui Miranda (1977)
"Cabritada mal sucedida" (1981)
"Olha o Padilha" (1981)
"Chega de saudade" (1981)
"Let's Play That", com Naná Vasconcelos (1983-1994)
"Pano pra manga", com Naná Vasconcelos (1983-1994)
"Luz", com Naná Vasconcelos (1983-1994)
"Quero viver sem grilo" (?)
"Crotalus Terrificus" (1985)
"Para ver as meninas" (1987)
"Luz negra" (1987)
"Exemplo" (1987)
"Acertei no milhar" (1987)
"Cor de cinza" (1991)
"Falta um zero no meu ordenado" (1994)
"Estrupício", com Itamar Assumpção (1994)
"Laranja madura", com Itamar Assumpção (1995)
"Dindi" (1996)
"Rei de Janeiro" (1998)
"Favela" (1998)
"Cidade Lagoa" (1998)
"Mais uma luz" (1998)
"Coração do Brasil", com Monarco (1998)
"O Rei do gatilho" (2001)
"Choro esdrúxulo" (2001)
"Tira os óculos e recolhe o homem" (2001)
"Roendo as unhas" (2003)
"Positivismo" (2003)
"Berceuse Crioulle", com Maria Bethânia (2005)
"Senhor dos sábados" (2005)
"Vapor barato", com Jr. Tolstoi (2005)
"Olhos de lince", com Waly Salomão (2005)
"Pontos de luz", com As Gatas (2005)
"Ne me quitte pas" (2008)
"Ronda" (2008)
"Só assumo só" (2008)
"Juízo final", com Elton Medeiros (2011)
"Negra melodia", com Luiz Melodia (2011)
"Faisão dourado (Tendência e cor)", com Dorgas (2012)
"Cogito", com Rogério Skylab (2014)
"Volta", com Samba Noir (2015)
"Gotham City" (2015)
"Canalha" (2015)
"A saudade mata a gente", com Guinga, Moacyr Luz e Zé Renato (2016)
"Vampiro de Copacabana" (2019)
"Trevas" (2019)
"Buraco da Consolação", com Tim Bernardes (2019)
"Pacto de sangue" (2019)
"Meu amor meu cansaço" (2019)
"Tempo e contratempo" (2019)
"Peixe", com Juçara Marçal (2019)
"Ontem e hoje", com João Donato (2021)
"Síntese do lance", com João Donato (2021)
"Um abraço do João", com João Donato (2021)
"Sem samba não dá", com Criolo e Ana Frango Elétrico (2023)
"Amor inatura" (2023)
"Coração bifurcado" (2023)
"Grãos de açucar" (2023)
"A foto do amor" (2023)
"Para um novo amor chegar" (2023)
"Acender as velas", com Sergio Krakowski Trio (2024)

Jards, durante a entrevista para o Gafieiras, em 2006
[foto minha]

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