domingo, 10 de novembro de 2013

vcpraça em são miguel paulista

ontem, 9 de novembro, passei o dia em são miguel paulista, bairro-cidade de 300 mil habitantes na extrema zona leste de são paulo. fui convidado para participar da quarta edição do festival do livro e da literatura de são miguel e minha missão era conversar com quem aparecesse na praça morumbizinho sobre a experiência do #vocêpraça e os assuntos atrelados (arte na rua, ocupação da rua, intervenções, cidade, etc.). e depois andar um tanto pelo bairro fazendo uns #vocêpraça e, aproveitando o embalo, uns #reiopixo.

na bonita e movimentada praça [um dos muitos lugares do festival, programação aqui] acabaram aparecendo umas dez pessoas e eu, que nunca tinha feito nada parecido, deixei logo claro meu amadorismo nessa coisa de falar e que ficassem a vontade para me interromper, afinal o lance ali era para ser realmente uma conversa sobre cidade arte na rua. depois me dei conta que não me apresentei e nem peguei nomes/ocupações/etc. do pessoal que participou. o nervosismo da hora me fez esquecer o lado do jornalista.




único momento que registrei do encontro na praça morumbizinho; poucos depois, carlos (de boné), erika (de saia azul) e cauê (de barba) foram meus guias no rolê por são miguel

mas tirando o meu amadorismo, a conversa foi ótima e durou cerca de uma hora. todo mundo falou, um monte de assuntos foram tratados, consegui tirar algumas risadas (sempre um bom sinal), e saí de lá com aquela sensação boa de encontrar pessoas legais e interessadas, gente que olha pros lados, gente que ouve os outros.

daí que minha sorte máxima foi ter a companhia de três participantes da conversa no rolê posterior para fazer os grafites/pixos. erika, cauê  e carlos, todos integrantes do coletivo caixa preta e moradores ativos do bairro (poucos dias antes tinham espalhado lambes poético-fotográficos por partes de são miguel), foram os meus guias numa caminhada que teve quase 5 km, durou pouco mais de 5 horas, teve um bom consumo de cervejas para hidratar a cabeça aquecida pelo solzão, paradas estratégicas para conversas das mais variadas (de trabalho a relações afetivas), 6 #vocêpraça (mais um na casa de erika e cauê) e 3 #reiopixo.

instantâneo do sábado em são miguel: 6 #vocêpraça e 3 #reiOpixo

no longo caminho de volta pra casa (uns 45 km, por aí) pensei um bocado em como pequenos movimentos pessoais, absolutamente descompromissados, mas feitos com entrega sincera, podem gerar ondas surpreendentes. e que uma das melhores consequências disso são justamente os encontros com pessoas especiais como erika, cauê e carlos. tenho certeza que faremos algo juntos por são miguel, jardim lapenna, jardim pantanal e quetais. isso é só o começo pra todos nós.

fora o trio acima, e o resto das pessoas que participaram da conversa na praça, gostaria muito de agradecer outras que tornaram esse 9 de novembro um dia muito especial pra mim: paula galeano e inácio neto (fundação tide setúbal), e jana soares. beijão, abração, tamos aí sempre.


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

não é tempo para tratar de poéticas agora

capicua são números palíndromos, tipo um 1455665541 ou um 474. números que são lidos da mesma forma em um sentido e no seu reverso. capicua também é o pseudônimo de ana matos fernandes, a comandante da guerrilha cor de rosa, uma rapper portuguesa de 31 anos (portuguesa do porto, claro esteja) que tem um trabalho interessantíssimo e bastante engajado politicamente. saca só essa trinca. 







o título da postagem é o verso final de "não, não, não subscrevo...", do poeta jorge de sena (1919-1978), que capicua usa no final de "jugular". o intelectual português, que também foi crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário, morou no brasil, nas cidades paulistas de assis e araraquara, entre 1959 e 1965.

conheci capicua através de uma tuitada de priscilla scurupa, que disse que a rapper seria uma mistura de lurdez da luz e anelis assumpção. é possível, é uma interessante mistura. e a música que priscilla citou, "casa no campo", tem citação e sampler de elis regina. quer dizer, realmente tem um tanto bom de brasil nas rimas e sonoridades dessa mc portuguesa.



ah, todos os trabalhos de capicua estão para download gratuito em seu site oficial: os dois EPs coletivos que participou em 2006 e 2007 e seus trabalhos solos, a mixtape capicua goes preemo (2008), capicua (2012) e a mixtape capicua goes west (2013), que ela fez rimas sobre beats do kanye west. os dois primeiros clipes são do disco de 2012 e "jugular" é da mixtape deste ano.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

lugar de arte é na rua

essa hora ia chegar, claro. sobre street art só tinha feito um perfil (osgêmeos, 2006) e tratado do assunto numa coluna do yahoo ("arte que desmancha no ar", 2012). então veio o convite da audi magazine para o terceiro frila pra revista e a ideia era falar de quatro cidades que são referências na street art mundial: nova york, são paulo, londres e berlim. e falar com algumas pessoas. e fazer um painel histórico. acho que ficou divertido. agradecimentos a décio galina (que me passou mais uma ótima pauta) e edmundo clairefont (que editou o texto na revista), e também a alex senna, ignacio aronovich e william baglione pelas aspas alcançadas. aqui, como sempre, vai o texto que mandei, sem revisões e edições (daqui pra lá, a única grande diferença está na parte de nova york, que edmundo editou muito bem e ficou mais completo).


QUATRO CAPITAIS DA ARTE DE RUA NO MUNDO

O que é preciso para uma cidade se tornar referência na street art? Saiba um pouco das histórias de Nova York, São Paulo, Londres e Berlim, e alguns de seus personagens

Banksy e Osgêmeos em Nova York

NOVA YORK

No princípio era Nova York, cidade que deu régua, compasso e muitos motivos para que, nos anos 1970, a arte de rua surgisse como uma colorida expressão de revolta contra a degradação urbana e a falta de perspectivas. Um dos pilares do igualmente nascente movimento hip hop, o grafite apareceu primeiro em pichações nos muros, metrôs e trens. Eram jovens como Tracy 168 e Kase 2 afirmando seus próprios nomes em versões estilizadas (tags) diante de uma cidade que não lhes dava a mínima e também sobre rivais de outros bairros e turmas.

Na virada para a década de 1980, a pichação foi se sofisticando a partir do trabalho de artistas como Lee Quiñones, Dondi e Fab 5Freddy. Difundidos por eles, novos tipos de letras (“wild style”) e usos de sprays variados fizeram com que o grafite cruzasse fronteiras e começasse a influenciar artistas que não vieram das ruas, tais como Jean-Michel Basquiat e KeithHaring. Apadrinhados pelo papa da pop art Andy Warhol, Basquiat e Haring foram então os pioneiros a entrarem no circuito das galerias de arte, mas suas mortes precoces, em 1988 e 1990 respectivamente, interromperam um ciclo de reconhecimento que estava apenas começando (e que só voltaria, dessa vez com força total, em Londres nos anos 2000).

A partir dos anos 1990, novas técnicas (adesivos, lambe-lambes e estêncil) se uniram aos incontornáveis sprays atraindo novas gerações para as ruas. “Por sua importância histórica para a arte urbana, Nova York continua recebendo grafiteiros do mundo inteiro e apesar da repressão existe uma cena muito forte com lugares que viraram pontos turísticos”, explica Ignacio Aronovich, fotógrafo, jornalista e criador do site Lost Art. Um dos pontos turísticos mais célebres é o Five Pointz, localizado em Long Island, e que está sendo ameaçado de demolição pela voraz especulação imobiliária. Outras áreas procuradas estão no SoHo, Chelsea, Harlem e Brooklyn.

Nos anos 2000, os artistas de rua nascidos ou baseados em Nova York viram a cena ser incorporada pelo mainstream e o que era considerado vandalismo em outros tempos passou a ilustrar capas de discos, posters de filmes de Hollywood, roupas e até campanhas presidenciais (“Hope”, arte feita por Shepard Fairey, que ficou conhecido por seu “Obey”, foi usada pela campanha de Barack Obama em 2008). As ruas continuam sendo o palco ideal para artistas falarem, das formas mais diversas, sobre o mundo de hoje, e o complexo tabuleiro de Nova York ainda é uma de suas melhores traduções.

Rui Amaral em São Paulo

SÃO PAULO

Cidade feia, cinza, degradada. A gigantesca São Paulo pode ser tudo isso à primeira vista, mas basta dar um pouco de atenção a suas quebradas para ver que é exatamente essa sujeira, essa exclusão do humano nos espaços públicos, que a torna uma das mais instigantes galerias de arte de rua do mundo. Essa história não é de hoje, e vem lá desde os anos 1980 com o surgimento de artistas como Osgêmeos, Speto, Vitché, Rui Amaral e Binho, todos com algum tipo de ligação com a pichação e as cenas de rap e skate da cidade. Em comum, muitas cores e figuras humanas estilizadas.

Na década seguinte veio mais uma leva, dessa vez capitaneada por figuras como Herbert Baglione, Onesto, Zezão, Nunca e Stephan “Calma” Doitschinoff. Foi o tempo de novas experimentações que iam do expressionismo de Baglione ao abstracionismo azulado de Zezão. Também é dessa época Eduardo Kobra que, com o passar do tempo, tornou-se um dos muralistas mais pops da cidade.

A evolução de estilos e a variedade de propostas deram mais um salto nos anos 2000 com a proliferação da internet e a possibilidade de compartilhar rapidamente os registros das intervenções (é sempre bom lembrar que uma das essências da arte de rua é seu curto tempo de vida). Então se juntaram ao grupo jovens artistas como Crânio, Magrela, Treco, Chivitz, Flip e Alex Senna, com estilos bem diferentes e discursos muito pessoais sobre a cidade. Destoando um pouco, mas da mesma geração, Alexandre Orion passou a criar obras que são fotografias de seus grafites e estêncils se relacionando com as pessoas da cidade. Tudo muito novo e cheio de possibilidades.

O paulistano Senna, por exemplo, começou a desenhar nas ruas apenas em 2006, mas já possui um invejável currículo tanto no Brasil quanto no mundo. “Andar na rua é como estar em uma grande galeria”, diz Senna. Só que o artista que assinou trabalhos para grandes marcas como Nike e Hermés vê uma particularidade nas ruas paulistanas. “Talvez as pessoas não saibam, mas São Paulo é com certeza a meca do grafite. A liberdade, os estilos diferentes e a criatividade que existe aqui não tem em lugar nenhum. São Paulo é cheia de pichações e grafite, a cidade é inteira rabiscada, o que de certa forma mostra o quanto as pessoas sentem a necessidade de se expressar”.

No entanto, William Baglione – criador da Society Under Construction (SUC), produtora que toca trabalhos comerciais e curadorias independentes com artistas de rua brasileiros – faz uma ressalva sobre a cidade. “Temos grandes artistas, com excelente técnica e conteúdo, e temos também muito muro pra pintar. Mas não temos um mercado maduro dessa nova arte contemporânea porque ainda existe preconceito por parte das instituições públicas e privadas”. Sem esse mercado consolidado, os artistas locais aproveitam a cidade como portfolio para emplacarem trabalhos remunerados nos Estados Unidos e Europa. Mas só mesmo em São Paulo existe o Beco do Batman, o Museu Aberto de Arte Urbana e a Bienal do Grafite (que agora, no início do ano, teve sua segunda edição). É que cabe muita cor nessa cidade.

Crânio e Alex Senna em Londres

LONDRES

A ligação íntima e explosiva entre o hip hop, o grafite e uma juventude periférica sem perspectivas que deu origem a arte de rua em Nova York no final dos anos 1970 chegou a Londres no início dos anos 1980. Também como em Nova York (e São Paulo), a cena londrina começou com pichações em muros, metrôs e trens. Só que a repressão do Estado de Sua Majestade foi tão forte no final da década de 1980 que acabou atrasando o crescente movimento da arte de rua inglesa e jogou artistas como Robbo e Mode 2 em um limbo por anos.

Outra cidade muito importante na cena foi, e ainda é, Bristol, terra natal do célebre Banksy, que se mudou para Londres durante os anos 1990. Foi na capital que ele deixou de lado o grafite e as pichações, e passou a se aperfeiçoar na técnica do estêncil porque era mais rápido de fazer e podia ser reproduzido facilmente em outros lugares. O calculado anonimato de Banksy acabou lhe trazendo ainda um grande número de fãs que passaram a acompanhá-lo, registrando e compartilhando febrilmente na internet suas ações pela cidade (e, logo depois, pelo mundo). O sucesso de suas ações guerrilheiras e da crítica sócio-política de sua arte de rua (ácida e pop ao mesmo tempo) começou a chamar atenção no início dos anos 2000 e durante o correr da década mudou para sempre o mundo da arte de rua em Londres e no mundo. O negócio ficou tão sério que paredes com seus grafites passaram a ser retiradas de seu lugar de origem para serem vendidas em leilões ou no mercado negro.

Por causa de Banksy, Londres se tornou o centro mundial da arte de rua nesse início de século 21, com direito a grafiteiros do mundo todo sendo disputados por galerias, como foi o caso dos brasileiros Osgêmeos e Nunca e suas gigantescas intervenções no renomado Tate Modern em 2008.

O paulistano Alex Senna esteve recentemente na cidade e foi só elogios. “A cidade acolhe muito bem os artistas de rua, e as pessoas se esforçam muito e te ajudam pra que você pinte lá. Quando cheguei não tinha nenhum muro na manga e mesmo assim fiz umas 30 pinturas”. Porém, ah, porém, Senna também constatou que a cena londrina é um pouco confusa, e devido ao sucesso de Banksy, existem muitas pessoas envolvidas que não são artistas. “Londres tem gente de todo o mundo querendo pintar. No centro da cidade ou nos lugares mais populares, os trabalhos não duram muito. É diferente de São Paulo. Quando digo que a cena está um pouco confusa é porque pra mim street art é feita de amor, liberdade, atitude e respeito. Estão tirando a atitude e o respeito de lá, então se você quer que seu trabalho dure tem que ir pra fora do centro”.

Mesmo com tanta competitividade, ou talvez exatamente por isso, Londres é uma das poucas cidades do mundo que possui roteiros turísticos exclusivamente sobre arte de rua.

Thierry Noir em Berlim

BERLIM

Durante mais de quatro décadas, Berlim foi uma cidade dividida. De um lado, a parte ocidental, capitalista. Do outro, a oriental, socialista. E, a partir de 1961, um longo, alto e muito vigiado muro de concreto rachou a cidade literalmente no meio. A arte de rua berlinense começou no lado ocidental com muitos grafites e pichações que criticavam em várias línguas a própria existência de tão vergonhoso muro. Não era possível fazer o mesmo no lado oriental.

Mas com queda do muro em 1989, a arte de rua na cidade tomou novos rumos e jovens artistas alemães se mudaram de mala e cuia para o lado oriental da cidade, muito mais barato e um tanto degradado pela crise econômica que ajudou a derrubar o regime socialista. Então, de uma hora para a outra, Berlim se tornou um grande museu de arte a céu aberto, com destaque para o East Side Gallery, uma parte preservada do muro que se transformou em patrimônio da humanidade pelo colorido do francês radicado na cidade Thierry Noir.

No decorrer dos anos 1990 e 2000, uma grande variedade de artistas espalhou seus trabalhos pela cidade, apesar da costumeira repressão policial. Daí que apareceu um tanto de tudo: dos personagens simples e irônicos grafitados por Mein Lieber Prost até os estêncils críticos feitos por Alias e XOOOOX, passando pelos divertidos lambe-lambes de El Bocho, os icônicos Yellow Fists, as instalações do coletivo Bosso Fataka e o enigmático trabalho de um dos pioneiros da arte da urbana de Berlim, Tower.

As coisas melhoraram um pouco em 2005 quando Berlim foi declarada pela UNESCO como a “Cidade do Design”, fato que deu a artistas locais e visitantes um apoio maior contra a vandalização do poder público (como em quase todos os lugares do mundo, o Estado alemão prefere manter a cidade cinza). Surgiram assim grandes obras de artistas como Banksy e o italiano Blu que se tornaram parada obrigatória para um novo e crescente tipo de turismo, o da arte de rua.

“O muro foi um fator importante para a história artística da cidade, mas a explosão de arte urbana após a reunificação foi o que fez Berlim entrar na mira do mundo. Kreuzberg, por exemplo, é o meu bairro favorito para ver arte de rua”, explica o brasileiro Ignacio Aronovich, que participou de uma exposição coletiva na cidade, em 2003, ao lado de Banksy e dos norte-americanos Swoon e Shepard Fairey. Outros bairros famosos por suas artes de rua são Mitte, Prenzlauer Berg e Friedrichshain. Em comum a todos esses lugares e a todos os artistas que passam por Berlim, uma vontade de experimentar e olhar para o futuro.




quarta-feira, 23 de outubro de 2013

o que a vida quer da gente é coragem

outro frila pedido por carol patrocínio para outra revista do grupo dasa. dessa vez foi no esquema 'perfil', o que já é algo mais próximo do que faço, e a personagem foi a santista gilze maria costa francisco, que fundou o instituto neo mama, em santos, após lutar e vencer um câncer de mama seguido de mastectomia. mulher forte, decidida e altruísta. uma grande personagem e um excelente ser humano. aí fica fácil escrever sobre... ah, os retratos de gilze foram feitas por anna carolina negri.



CONVERSAR É PREVENIR

A história de Gilze Maria Costa Francisco, enfermeira santista que superou um câncer de mama e criou um instituto para ajudar outras mulheres com informação, consultas e carinho

“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”, escreveu Guimarães Rosa em seu Grande Sertão: Veredas. Gilze Maria Costa Francisco sentiu tudo isso na pele em 1999. Casada, mãe de uma filha e porto seguro da sua família, a enfermeira descobriu um câncer de mama em maio, foi mastectomizada em junho e entre julho e dezembro passou por inúmeras sessões de quimioterapia.

Mesmo com o apoio incondicional da família e conhecimento dos procedimentos, Gilze, hoje com 52 anos, passou por todas as fases comuns a quem recebe tamanho baque: negação, raiva, barganha, depressão e, finalmente, a aceitação. Dez meses depois da descoberta, o câncer foi embora. No entanto, a vida de Gilze nunca mais foi a mesma, para sua própria sorte e a de milhares de mulheres atendidas gratuitamente pelo Instituto Neo Mama, entidade que criou em 2002 na cidade de Santos, litoral de São Paulo.


Mas antes do Neo Mama, Gilze já vinha fazendo diferença. “Criei, ainda em 1999, o site cancerdemama.com.br durante minhas noites de insônia causadas pela quimioterapia. Fui colocando nele minhas experiências como enfermeira e como paciente de câncer”. A opção por uma abordagem mais humana e menos técnica veio naturalmente, afinal a internet daquele tempo tinha pouca informação disponível e a que existia vinha exclusivamente do lado médico. “Tudo surgiu com a vontade de fazer a diferença para mulheres que, como eu, passam pelo câncer de mama. Se eu pudesse conversar com cada uma delas, seria ótimo, mas percebi que podia mudar isso na minha região, e hoje contribuo em todo o país dando palestras, na internet e nas redes sociais. Achei que deveria haver um lugar onde fosse um porto seguro para elas, onde encontrassem respostas e, principalmente, exemplos”.

A cada mês, 200 mulheres procuram respostas no Instituto Neo Mama, que possui em sua sede no bairro santista do Boqueirão um cadastro com mais de 2500. “Isso sem falar nos familiares diretos, cuidadores e amigos, que nos procuram para saber como tratar, o que falar, como falar com elas, se suas reações aos tratamentos e situações são normais, assim como seu comportamento”.

Com o passar dos anos, o jeito tranquilo e franco de Gilze criou uma grande rede multidisciplinar de ajuda com o apoio de muitos voluntários e parcerias. O Neo Mama consegue, por exemplo, mamografias gratuitas a partir de um acordo com laboratórios que exibem propagandas em seu site. Já as consultas são batalhadas através de insistência e algumas amizades. A manutenção do Instituto vem de doações e do dinheiro arrecadado em eventos beneficentes.


Conversar, ouvir e trocar informações, muitas e repetidas vezes. É isso que Gilze tem feito desde que o câncer entrou na sua vida, mas uma descoberta pessoal ajudou e muito nesse processo: resgatar-se é fundamental, priorizar-se também. “Muitas mulheres têm medo de se tocar, de procurar médicos, de perder a mama, esquecendo-se que essa omissão pode lhes custar a vida. Ignorar o que pode nos acontecer é o que de pior podemos fazer por nós mesmas”.

Em poucas palavras, é preciso enfrentar a realidade, mas com altas dosagens de afeto. “Câncer se combate com informação, informação certa, não conversa de comadres: realidade e possibilidades, mitos e verdades, tudo preto no branco, pois não ajudamos ninguém omitindo a verdade. Existem muitas formas de falar o inevitável, e a suave, mas firme, sempre é a melhor, e tem como fazer isso. Basta ter experiência, estudo, atualização constante e compaixão pelo momento de quem está à sua frente”.

Mesmo com tanto trabalho e histórias, Gilze seguiu fazendo exames anuais para se prevenir de novos nódulos e em 2010, após uma cirurgia de redução de estômago e a perda de 65 kg, finalmente colocou uma prótese. “Não é fácil, mas cada caso é um caso, somos únicas e temos que fazer a nossa parte no tratamento. Não adianta termos os melhores médicos e hospitais se não colaborarmos e fazer o que nossa família, amigos e quem nos ama esperam de nós: comprometimento, superação e resiliência. E isso todas nós temos no nosso interior, muitas vezes adormecido”.


CÂNCER DE MAMA: CONHEÇA, PREVINA-SE

É o carcinoma mais comum em mulheres e responde por 22% do total de casos novos/ano no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Segundo o Inca houveram 52.680 novos casos da doença apenas em 2012. Os dados mais recentes de óbitos divulgados apontam que, em 2010, morreram no Brasil 12.852 pessoas devido ao câncer de mama, sendo 147 homens e 12.705 mulheres.

Os fatores de risco, tanto para homens quanto para mulheres são histórico familiar, obesidade, sedentarismo e antecedente de patologias mamárias. Estudos afirmam que boa alimentação e atividades físicas podem reduzir em até 28% o risco de a mulher desenvolver câncer de mama.

“Em termos de prevenção não se fala mais em auto-exame, pois quando uma mulher descobre o câncer de mama através dele, o nódulo já tem mais de 1,5 cm. A mamografia é o ideal no rastreamento desta doença (se houver necessidade, associada à ultrassonografia)”, explica Gilze.


fala baixinho só pra eu ouvir

já faz um bom tempo que fiz esse texto a pedido da amiga carol patrocínio, editora de revistas do grupo dasa lá na new content. uma das coisas boas de ser jornalista frila é pode passear por assuntos variados e o desafio desse texto, especificamente, foi o de ser didático e interessante ao mesmo tempo. acho que deu certo e, como sempre, o texto aqui é a minha versão original, sem revisão e edição.


AO PÉ DO OUVIDO

Em tempos de MP3, saiba como se prevenir dos excessos de barulhos e do mau uso de fones

Impossível viver em qualquer cidade, grande, média ou pequena, sem ser bombardeado diariamente por estímulos sonoros dos mais variados: buzinas, carros de som, promoções em lojas populares anunciadas por megafones, sirenes, bate estacas e por aí vai. Mas esses barulhos são externos e apenas parte do problema. E os que criamos para nós mesmos a partir do uso de aparelhos de entretenimento portáteis colados nos ouvidos?

Médicos otorrinos vêm alertando que a diversão em altos brados proporcionada hoje por iPhones, smartphones, tablets e iPads podem facilmente criar sérios problemas auditivos em seus usuários no futuro. Até mesmo perda de audição permanente. “A maneira como esses aparelhos têm sido usados, sem controle e informação, pode realmente criar uma geração de futuros surdos”, afirma sem meias palavras o Dr. Ricardo Ferreira Bento, professor titular de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP.


Entre tantos cuidados com a saúde necessários nos dias de hoje, o auditivo parece de menos importância. Porém, segundo relatório divulgado em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 360 milhões de pessoas no mundo sofrem de perda de audição, sendo que aproximadamente 15 milhões apenas no Brasil (uma das três deficiências mais comuns no país). É uma importante questão de saúde pública, certamente, mas os especialistas também concordam que é muito fácil se prevenir. “Os fones de ouvido podem ser usados desde que se escute em um nível sonoro médio de aproximadamente 85 db [decibéis]. Até esse volume é possível usar pelo tempo que quiser. Acima disso o tempo vai decrescendo conforme o nível de exposição. A 100 db, por exemplo, tem que ser no máximo 30 minutos por dia”.

Esse limite de decibéis mencionado pelo Dr. Ricardo equivale a ouvir músicas (ou filmes, programas de TV, etc.) com o volume até a metade. Também é importante nunca ouvir o som tão alto a ponto de não saber o que está acontecendo ao seu redor e jamais dormir com o fone no ouvido. Outra recomendação é que se dê preferência aos modelos supra aurais por serem menos nocivos que os fones de inserção (aqueles que entram no canal auditivo). E, claro, fazer um exame de audiometria pelo menos uma vez por ano.


A regularidade do exame é importante porque a perda auditiva é um problema progressivo e que só é percebido a médio/longo prazo. “Existem cinco sintomas básicos associados a patologias do ouvido. A perda auditiva é um deles, sendo que no início a pessoa passa a ter certa dificuldade de entender as palavras em ambientes com ruído. Mas também é preciso estar atento a zumbidos, tonturas, dores ou sensação de ouvido cheio”.

Todo esse cuidado preventivo poderia ser facilitado se houvesse uma lei no Brasil que regulamentasse o limite máximo de decibéis transmitidos pelos fones (existem aparelhos que chegam a 130 db). O limite europeu é de 100 db, considerado razoável pelos especialistas daqui. “No entanto, um problema adicional é que nem todos os aparelhos têm ajustes iguais, portanto o usuário deve consultar o manual para ver qual o nível de volume. Muitos equivalem ao som de uma turbina de avião em decolagem ou de uma britadeira e, consequentemente, são extremamente prejudiciais ao ouvido”.


Ainda no quesito que mistura entretenimento e volume alto, outro acontecimento preocupa os otorrinos: as baladas em casas noturnas. Tanto os usuários quanto os funcionários desses lugares estão sujeitos, sem perceber, a uma longa e constante agressão sonora. A solução pode parecer frustrante, mas segundo o Dr. Ricardo Ferreira, “não há como se preservar nesses casos. Com o tempo a pessoa que frequenta muito essas baladas terá problema de audição e/ou zumbido. A única medida preventiva é usar protetor auricular nos ouvidos”.

Enquanto regulamentações e controles de gerações de ruídos em equipamentos e ambientes não são postos em prática, o jeito é se cuidar por conta própria para deixar tudo soando bem aos ouvidos.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

e se houvessem gifs na renascença?

quem te responde é jamer kerr, canadense de montreal, no tumblr scorpion dagger. tem gif novo (quase) todo dia.














via @_cecilialara com link para o pêssega d'oro.

domingo, 6 de outubro de 2013

o encontro de banksy com o youtube

o inglês banksy está passando o mês de outubro numa residência artística em nova york intitulada "better out than in" ('melhor fora que dentro') e está usando seu site oficial para divulgar as ações. 




já rolaram stencils-grafites bem irônicos como estes acima, acompanhados no site de engraçadíssimos comentários-guias em áudio, e um caminhão transformado em jardim ambulante. mas neste domingo, 6 de outubro, apareceu esse vídeo que marca a estreia do canal oficial de banksy no youtube.



a zuera de banksy não tem limites.

mais doido é quem me diz

daí que rolou meu retorno à revista monet com a matéria sobre gaby gringa, série da gaby amarantos. então veio uma nova colaboração, uma reportagem sobre a segunda temporada da série sessão de terapia, com direito a uma visita no set de filmagens capitaneado por selton mello e entrevistas com quem estava lá no dia: o próprio selton, os atores andré frateschi e derick lecoufle, e o produtor roberto d'ávila (suas falas acabaram entrando como informações no texto). a conversa com o protagonista, o ator zécarlos machado, acabou acontecendo algumas semanas após término das filmagens. achei o resultado bom, conseguiu pegar um pouco da complexidade humana retratada nessa ótima série (que estreia nesta segunda, 7 de outubro, às 22h30 no canal gnt e com transmissão simultânea pela internet). a nota triste foi o falecimento repentino de cláudio cavalcanti agora no final de setembro, poucos dias antes do lançamento da série (foi o último trabalho do ator de 73 anos). selton mello lhe dedicou um texto emocionado e sua forte e silenciosa atuação poderá ser acompanhada às terças. ah, as fotos do meio do texto são minhas (a do garoto derick, inclusive, foi feita com a minha mamiya, que voltou à vida).



FIQUE À VONTADE (MAIS UMA VEZ)

O palco é um útero. O estúdio é um útero. Coisas são gestadas nesses espaços: vida e metáforas da vida. Animado e prolixo, o ator Zécarlos Machado está ensaiando um monólogo em um teatro do Centro de São Paulo, mas abre um sorriso largo quando o assunto é Sessão de Terapia, série que protagoniza e cuja segunda temporada acabou de ser gravada há poucas semanas. “Tem coisas que você quer que acabem logo. E tem outras que você quer que voltem por vários motivos. Voltar nesse caso foi muito consagrador porque considero um material dramático da maior qualidade e acho que fiquei devendo na primeira temporada. É uma questão pessoal minha, não é nada grave, mas senti que poderia ter ido mais”, e o ator relembra a agenda puxada de gravações no ano passado, principalmente para ele que, como o terapeuta Theo Cecatto, está presente em todos os episódios.


O público, obviamente, não sentiu nada disso e a primeira temporada foi um sucesso muito maior que a expectativa de todos e atraiu cerca de 9,5 milhões de pessoas ao GNT considerando todas as exibições da série dirigida por Selton Mello, que também está de volta no comando. “É um trabalho muito estimulante e uma escola pra mim como diretor. Estou saltando alguns degraus. Porque em cinema você faz um filme depois fica cinco anos pra conseguir dinheiro pra fazer outro e aí vai perdendo a mão. No Sessão de Terapia tenho uma sala pra contar histórias, não tenho pra onde fugir, não tenho flashback. Então é um exercício de concentração, de tom, de ritmo, de linguagem, é uma coisa extraordinária”, explica o ator que recentemente se consagrou também como diretor de longas premiados como Feliz Natal e O Palhaço, e que na série dirigiu todos os 80 episódios das duas temporadas.

Falando especificamente da série, Mello diz que existe um salto de cerca de seis meses entre as temporadas, tempo o bastante para Dr. Theo se separar, mudar de casa e atender novos pacientes. Um deles é o garoto Daniel (Derick Lecoufle), filho do agora ex-casal João (André Frateschi) e Ana (Mariana Lima). Estreante como ator, Lecoufle encantou a todos no set com sua tranquila naturalidade. “Só tinha feito duas figurações em publicidade, aí fui chamado para um teste e passei depois de muitas etapas. Quando vi que era do Selton [Mello] achei que era comédia, mas minha mãe disse que não, que era um negócio bem tenso [risos]”, disse o garoto de 10 anos que antes só tinha interesse por música, mas que gostou muito dessa coisa de atuar, de ser outro. “Meus pais não são separados, mas tenho muitos amigos com pais separados, então entendo o Daniel e ele é gente boa, é um garoto incrível”, completa.



Já André Frateschi, que volta ao papel de João, comemora a “sorte de poder aprofundar um personagem, fato que não é comum na TV”. Mas como acabou de se tornar pai na vida real, o ator viu no texto algumas questões perturbadoras. “Foi difícil ver o filho ser usado como uma peça no jogo deles, e de um jeito irresponsável, pra atingir um ao outro. O moleque está no meio dessa roda viva e começa a mostrar que essas coisas estão lhe afetando”. No entanto também vê alguns avanços no seu personagem, tais como uma relação menos hostil, menos refratária, com o Dr. Theo, e uma interessante troca de papéis com a ex-mulher. “Minha sensação nessa segunda temporada é que o João aprendeu a usar o Theo pra se ajudar e que conseguiu resolver o ciúme que tinha da Ana, que se cansou desse jogo, dessa relação atormentada”.

Em comum a todos os depoimentos destes envolvidos na série foi possível notar como as questões levantadas pelos personagens ressoavam na vida de cada um. “É um trabalho lindo, sabe? Porque é a vida, porque somos nós e nossas fraquezas, sonhos, desejos, desejos não concluídos, são várias qualidades de grandes e pequenos dramas humanos. E em todos os personagens você vê a terapia agindo. É, de certa forma, uma homenagem a profissão do terapeuta. Eu, por exemplo, faço terapia e acho importantíssimo, mas foi muito interessante ter retornos de espectadores que resolveram coisas pessoais só de assistir a série. Sessão de Terapia é uma tremenda viagem emocional, e é um trabalho pra quem não tem pressa, pra quem faz e pra quem assiste”, diz Selton Mello que, no set de filmagens, repetia um mântrico “Suavidade em tudo” tanto para os atores quanto para a equipe técnica.


Para o expansivo Zécarlos Machado, integrante do célebre grupo teatral Tapa, essa história de “suavidade” foi um desafio a mais. “O terapeuta tem uma chave diferente do ator. Um só ouve, enquanto outro só fala. Então precisei de menos tensão e mais atenção para trabalhar essa capacidade de ouvir o outro, enquanto aguçava minha própria investigação sobre a alma humana. Afinal, ver o outro é ver a si mesmo”, relembra o ator para logo depois enumerar algumas leituras que o acompanharam durante as filmagens (Carl Jung, Sigmund Freud e o dramaturgo August Strindberg). 

“O Zécarlos é realmente muito diferente do Theo. Foi um trabalho de contenção e ele detonou! Porque são os outros que solam e ele fica lá ouvindo, mas você percebe um ser delirante através dos olhos dele. É aquela coisa: se atuar muito vira um ator sentado no sofá falando, se não atuar nada vira confissão e aí não é ficção. É um tom muito perigoso, um equilíbrio muito delicado, e a gente encontrou essa cara para a série”, aí é novamente Selton Mello, um dos maiores entusiastas que Sessão de Terapia tenha mais temporadas no Brasil. A versão original israelense teve apenas duas e a norte-americana, mais conhecida, acabou tendo uma terceira. “No Brasil, se bobear, podem rolar cinco, seis temporadas, porque a gente aqui tem o hábito de assistir dramaturgia diariamente na TV por causa das novelas”.


No que depender de Selton, Zécarlos e do resto da equipe, incluindo a produtora Moonshot de Roberto D’Ávila que trouxe a série para o país, Sessão de Terapia terá uma vida longa (a estreia da segunda temporada será acompanhada do lançamento em DVD da primeira e de um livro escrito pela roteirista-chefe Jaqueline Vargas).

“Todo mundo percebeu alguma coisa especial nesse trabalho, alguma coisa pra vida”, conclui Zécarlos diante dessa fascinante e assustadora matéria prima que é o ser humano.


FREUD EXPLICA?
Saiba quem são os novos pacientes do Dr. Theo, lembrando que às sextas ele continua sendo analisado pela sua terapeuta, Dora (Selma Egrei)


SEGUNDA
Carol (Bianca Comparato)
Jovem universitária de 25 anos, Carol procura terapia após descobrir que está com câncer. Ela entra em estado de negação da doença e chega a se recusar a dar início a dolorosa, porém necessária, quimioterapia. A atriz Bianca Comparato raspou a cabeça para dar mais veracidade ao personagem.

TERÇA
Otávio (Cláudio Cavalcanti)
O empresário de 70 anos nunca fez terapia e chega ao consultório do Dr. Theo com o objetivo de resolver rapidamente um mal estar e umas dores no peito que vem sentindo. No decorrer das conversas, Otávio descobre que está sofrendo de ataques de ansiedade e que a saída da sua filha caçula de casa tem mais influência nisso do que imagina.


QUARTA
Paula (Adriana Lessa)
Aos 41, Paula é uma advogada bem sucedida, mas sua vida dá um nó quando decide ser mãe, mas descobre que seus óvulos estão ficando velhos e que seu marido, que já tem filhos do primeiro casamento, não está lhe dando apoio. Um aborto no passado e um pai dominador podem ser as chaves para Theo entender mais sobre Paula.

QUINTA
Daniel (Derick Lecoufle)
Após a separação dos pais interpretados por André Frateschi e Mariana Lima, que estiveram em terapia na primeira temporada, o estudante de 10 anos se vê em crise e se torna um comedor compulsivo. Super protegido pela mãe e cobrado pelo pai, Daniel encontra em Theo tanto um porto seguro quanto uma forma de se entender com os pais.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

um anda bonito, o outro elegante

taí o primeiro frila para a revista top magazine: perfil de kadu dantas, disputado blogueiro de moda masculina. conversa boa a do mineiro que segue aqui em perfil na boa e velha versão original e sem revisão (na revista, o texto editado vem acompanhado das belas fotos de larissa felsen). esse gif espertinho peguei do blog dele.


BKLOOKGIF

UM CLÁSSICO QUE OUSA

Saiba como Kadu Dantas criou um blog de moda masculina e em menos de um ano se tornou referência em elegância no Brasil

Ele não anda, ele desfila. O tempo até virou e o sol foi embora em São Paulo, mas Kadu Dantas, 31 anos, encara com uma invejável naturalidade poses, olhares e movimentos para as fotos que ilustram este perfil. Chega a sugerir uma coisa ou outra e a fotógrafa elogia tamanha desenvoltura. “A gente sabe o que funciona, né?”, confessa sem falsa modéstia. Jornalista por acidente e estiloso desde que se entende por gente, o mineiro de Alfenas se transformou rapidamente em uma das referências de elegância masculina no mundo fashion paulistano. E tudo em decorrência de um blog que criou há pouco mais de um ano, veja só você. Mas antes do surgimento do Blog do Kadu muita coisa aconteceu na vida deste rapaz.



“Saí de Alfenas e fui fazer Odontologia em Ribeirão Preto, mas não me interessei e saí no último ano. Nesse meio tempo meus pais se mudaram para Belo Horizonte e fui pra lá. Queria prestar Publicidade, mas acabei entrando em Jornalismo e me identifiquei muito”, relembra.  Foi na capital de Minas Gerais que a vida de Kadu deu a primeira virada. Uma virada com nome e sobrenome: Mariana Maffei Feola. “Conheci a Mariana e ficamos muito amigos e ela me convidou para passar as férias de janeiro na casa da família dela em Orlando, nos Estados Unidos. Ah, claro, vou sim... imagina, estudante, vivendo de mesada”.

Daí que um belo dia toca o telefone da casa de Kadu. Era uma sexta-feira e do outro lado da linha a mãe de Mariana reiterava o convite. Foi só então que descobriu que Mariana era filha de ninguém menos que a apresentadora Ana Maria Braga. Não só as férias glamourosas aconteceram como Kadu foi convidado estagiar em jornalismo no programa Mais Você (TV Globo). “Como meus pais não moravam mais em Belo Horizonte, não tinha nada que me prendesse a cidade, então juntei minhas coisas e vim pra São Paulo. Fazia de tudo no programa, desde escolher receita até sugerir pautas. Isso foi em 2006. Fiquei lá 8 meses. Foi uma experiência muito legal, mas vi que televisão não era pra mim”.



Em São Paulo, Kadu começou a se desdobrar em muitos. Transferiu a faculdade de jornalismo, trabalhou em eventos, fez assessoria de imprensa e foi costurando uma rede de contatos que mais tarde se mostraria decisiva em sua vida. E, com apenas dois anos de cidade, conseguiu montar um negócio próprio, feito admirável em um mercado altamente competitivo. Nasceu então, em 2008, a Ray Comunicação, uma assessoria de imprensa com foco em moda. “Sempre gostei de moda, desde pequeno, sempre me interessei”.

Quatro anos se passaram, o negócio já andava com as próprias pernas, e o irrequieto Kadu Dantas sentiu aquele comichão por novos desafios. Numa reunião de trabalho, em meio a uma brincadeira sobre blogueiras de moda, disse que faria o seu próprio e que seria melhor. Acabou descobrindo em uma pesquisa na internet que não existia no Brasil, nem no mundo, um blog exclusivamente dedicado a moda masculina com looks diferentes todo dia (menos domingo, que é dia de descanso). Tinho um nicho ali e Kadu viu que era unir o útil ao agradável, afinal era constantemente elogiado pelo bom gosto no vestir.



“Comecei a fazer despretensiosamente. Primeiro com fotos das roupas montadas no chão, depois no espelho do elevador, mas por causa da minha rede de contatos já tive um número de acessos muito bacana no primeiro final de semana. Fiquei surpreso. Mas depois que fui convidado por uma marca para cobrir a Semana de Moda de Nova York, com apenas um mês de blog, vi que não dava pra continuar no amadorismo e contratei um fotógrafo”. O resultado direto dessa ação foi o aumento expressivo de acessos ao Blog do Kadu, que hoje chegam a 70 mil visitantes únicos por mês, uma média de 250 mil pageviews/mês.

“Não sabia se ia dar certo, tinha medo de ser até apedrejado porque quer queira quer não vivemos num país preconceituoso e sou gay assumido, casado, feliz. Mas o engraçado é que a maioria das perguntas que recebo são de leitores héteros. Sabe aqueles que a mulher diz ‘Veja esse blog pra você aprender a se vestir melhor’? [risos]. Acho que já ficou pra trás essa coisa de quem gosta de moda é gay. Eu, no blog, falo com todo mundo”. Pelo retorno de seus leitores, Kadu descobriu que as pessoas se interessavam em sua opinião e no seu (bom) gosto porque ele é uma pessoa real. E o que é de verdade tem credibilidade.



A imagem de Kadu, sempre elegante e desenvolto pelas ruas do Jardins, começou a rodar velozmente pela internet, o que lhe rendeu uma participação no programa Sob Medida (Rede TV) e muitos convites de parcerias. “Blog de moda é um jeito das marcas chegarem mais rapidamente a esse tipo de consumidor que é exigente e difícil, que é o masculino. Mas só aparecem no meu blog marcas que uso e que fazem parte do meu lifestyle. Não tenho contrato de exclusividade com ninguém. Uso o que quero independente de parcerias. Não posso subestimar meu leitor porque quando você fica muito vendido as pessoas percebem”.

No que depender de sua infindável curiosidade isso não vai acontecer, pois Kadu acredita que a moda é maior que uma marca ou outra, e um relógio vagabundo de plástico pode conviver muito bem com uma bolsa de Milão. “Um amigo me definiu do seguinte jeito: ‘Você é um clássico que ousa’. É exatamente isso. Não sou moderno, mas sempre coloco alguma coisa que faça a roupa ficar mais ousada”. Começa então a lembrar de cabeça alguns homens chiques com quem se identifica: os estilistas Tom Ford e Michael Bastian, o produtor musical Mark Ronson, os atores ícones Marlon Brando e Steve McQueen, e o brasileiro Oskar Metsavaht. “Elegância está mais ligada a atitude e comportamento que na roupa em si. Mas se isso vier numa embalagem boa, fica melhor ainda, entendeu? [risos]”.

Embaixador no Brasil de marcas internacionais, único blogueiro do mundo a visitar a fábrica da Louis Vuitton na França e a transmitir desfiles na internet, Kadu Dantas diz que jamais imaginaria que sua paixão pela moda iria lhe trazer tantas surpresas. “Com um ano de blog realizei 80% dos meus sonhos. Fui a todas as principais semanas de moda do mundo, tive acesso aos bastidores e conheci a maioria dos grandes estilistas. É muita felicidade. Por isso procuro fazer o blog cada vez com mais empenho, buscando sempre o melhor pros meus leitores, mas sem largar a Ray Comunicação, que foi uma importante conquista pessoal”.

Ao seu lado, no sofá, a vira-lata Chloe dá uma olhada e entende tudo. Esse dono que ela arrumou não vai aquietar o facho tão cedo.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

troca troca (musicalmente falando)

de volta à revista da gol, agora na edição de setembro saiu uma matéria sobre o disco mundo livre s.a. vs. nação zumbi, com aspas de fred 04 e jorge du peixe (em boas, mesmo que breves, conversas por telefone). achei que o disco seria bom, não tinha dúvidas sobre isso, mas me surpreendi com a liberdade e originalidade de todas as versões, e de como o jeito de uma banda se misturou com as músicas da outra (e vice-versa, etc). as minhas preferidas foram mundo livre de "a praieira", "rios, pontes e overdrives" e "samba makossa" e nação de "bolo de ameixa", "musa da ilha grande" e "o velho james brouse já dizia". 



O MANGUE NÃO PARA

Mundo Livre e Nação Zumbi refazem clássicos um do outro em disco que celebra a atualidade e o poder musical do movimento mangue beat

Pouco se falou, mas em 2012 se completaram 20 anos desde que um bando de caranguejos com cérebro enfiou antenas parabólicas na lama. A antena rodou meio mundo, mas continua lá, firme e forte, e tanto é verdade que as duas principais bandas do mangue beat continuam ativas e acabaram de se reunir em um excelente tributo ao movimento (ou seja, a eles próprios). É que o disco Mundo Livre S.A. vs. Nação Zumbi tem 14 faixas e em sua primeira metade, a banda liderada por Fred ZeroQuatro refaz clássicos dos amigos como “A Praieira” e “Samba Makossa”. Na segunda parte, é a vez do grupo de Jorge Du Peixe devolver a cortesia em versões de “Bolo de Ameixa” e “Musa da Ilha Grande”. Todas continuam fundamentais, mas a surpresa é que também parecem atuais, novinhas em folha.

“O mangue beat é um movimento conhecido pela diversidade, não existe uma sonoridade padrão. E o Nação tem um som próprio, um som forte. Eles podem tocar qualquer coisa que vai parecer Nação. É um som complicado de simular, então a gente tentou fazer com que as músicas deles soassem como a gente tivesse acabado de fazer, como se fossem nossa [risos]”, afirmou Fred ZeroQuatro após lembrar de um show em 1994, no Rio de Janeiro, no qual foi chamado de emergência para substituir o guitarrista Lúcio Maia, do então Chico Science & Nação Zumbi. Outra lembrança que o ajudou neste projeto foi a Orquestra Manguefônica, uma big band formada pelos dois grupos e que fez uma série de shows na segunda metade dos anos 2000.

“A gente tomou um cuidado muito grande para não tirar a essência das músicas do Mundo Livre porque somos fãs também. Ao mesmo tempo queríamos mostrar que são músicas elásticas e que podem trazer novidades. Fizemos versões em estados alterados e elas superaram nossas expectativas também [risos]”, disse Jorge Du Peixe, que também declarou que o próximo disco de estúdio do Nação Zumbi sai em 2014 após um longo recesso da banda para projetos pessoais de seus integrantes. Certeza que o mangue nunca deixará de nos surpreender.


FILHOTES DE CARANGUEJO 
Líderes das duas bandas indicam herdeiros do manguebeat

FRED ZEROQUATRO: “Não tenho mais aquela energia pra acompanhar tudo, mas sou muito fã do Eddie, que é de uma segunda geração do mangue beat. Entre os mais recentes destacaria a Academia da Berlinda, a Catarina Dee Jah e a Orquestra Contemporânea de Olinda. Tem muita coisa acontecendo, melhor mesmo acompanhar blogs como o Recife Rock e o Coquetel Molotov”.


JORGE DU PEIXE: “Prefiro falar de Brasil porque o mangue beat ajudou o país a se reconhecer cantando a nossa língua. E tem muita referência boa aqui, e gente nova cheia de ideias. Tem que colocar essa meninada pra se coçar como tenho feito com meu filho [Ramon Lira] e minha nora [Louise Taynã, filha de Chico Science] no Afrobombas. É que tudo influencia tudo, basta abrir os ouvidos”.

p.s.: tem ainda esse video curto com bastidores do nação gravando "livre iniciativa".


atualização: saiu o clipe com o nação zumbi tocando "musa da ilha grande". imagens de estúdio durante a gravação, na verdade, e os tambores/percussão não aparecem (parece que o nação virou um quarteto com jorge du peixe, lúcio maia, dengue e pupillo).