segunda-feira, 11 de março de 2013

naldo ou naldo benny, pra mim tanto faz

após uma entrevista com lia sophia e uma breve reportagem sobre a série "cidades ilustradas" na edição de fevereiro da revista da gol, fiz agora pra de março um longo perfil do cantor naldo (naldo benny). a entrevista aconteceu na tarde da sexta de carnaval lá na fundição progresso, no rio de janeiro, e a noite fui ver um show seu no clube monte líbano, na lagoa rodrigo de freitas. pessoalmente não gosto do som dele, acho que falta uma sujeira aqui e ali, mas é impressionante ver o tanto que o cara deu duro, além de ser trabalhador, obstinado e sério, até colher os frutos, os muitos frutos, nesse seu momento de sucesso (e ainda é gente boa). como sempre, a versão no esforçado é maior que a publicada, mas tenho que agradecer a thiago lotufo, que tanto me chamou pra fazer o perfil como fez uma ótima edição. ah, e as fotos que tirei foram feitas durante o trabalho do marcelo corrêa, autor dos retratos do cantor que estampam a revista.



E ELE QUER MAIS

Sucesso absoluto do verão com músicas como “Amor de Chocolate”, o carioca Naldo, agora Naldo Benny, prepara-se para dominar o mundo com sua mistura de funk, pop e calor da noite

O sorriso de Naldo chega antes de seu próprio dono e motivos não lhe faltam. É o seu cartão de visitas, sua bandeira, a música que faz e, de um ano para cá, seu estrondoso sucesso. Neste verão foi simplesmente impossível andar em qualquer cidade brasileira sem ouvi-lo cantar “uísque ou água de coco, pra mim tanto faz”. De postos de gasolina a coberturas, de bailes de debutantes no interior a barracas de praia, tanto faz. E o carioca diz que isso é só começo, que tem muito chão pela frente e muita coisa para acontecer.

Quando a reportagem da Gol encontrou com o cantor, na tarde da sexta-feira de carnaval, ele estava voltando de Salvador e nos dias seguintes iria encarar um novo batidão de shows (de 2 a 4 por noite e às vezes em cidades e estados diferentes), encontrar com Will Smith e Kanye West no Rio de Janeiro, e participar de um arrastão com Ivete Sangalo e Gaby Amarantos, novamente em Salvador. E o sorrisão lá, fácil, grande, querendo mais.

Mas antes da conversa, a sessão de fotos. O palco da vez é a Fundição Progresso, lugar que frequentou quando fez aulas de movimentos de solo no espaço da Intrépida Trupe. Cuidadoso com a aparência e muito consciente de seus movimentos, o garoto que nasceu em Bonsucesso e cresceu no Complexo da Maré sabe como e de que jeito quer aparecer. Adora usar tênis, por exemplo. É seu objeto de consumo preferido e contabiliza cerca de 350 pares em casa, todos impecáveis. “Uso, chego em casa, limpo e guardo”, diz enquanto pega emprestado o tênis de seu produtor, Thiago Rodrigues, pois justamente naquele dia calçava uma sapatilha. No entanto, antes de colocar no pé não resiste e acaba dando uma esfregadinha. “Eu já gosto de tênis marcado”, diz o produtor se divertindo com a mania de Naldo.



Enquanto as fotos são feitas nos inúmeros cenários possíveis da Fundição chega Rique Silva, produtor geral e irmão do cantor, com mais alguns acessórios. Quatro anos mais novo, Rique começou a trabalhar ainda no tempo de Naldo & Lula, e a dupla já fazia algum sucesso no Rio de Janeiro quando, em 2008, Lula foi assassinado. Nascido Jorge Luiz da Silva, Lula era dois anos mais novo que Naldo e outros dois mais velho que Rique, bem irmão do meio mesmo, e sempre foi considerado o mais brincalhão da família. 

Os dois cantavam juntos desde os 15 anos e ambos começaram, ainda crianças, na Assembleia de Deus que os pais sempre frequentaram. O gosto por black music e os ídolos eternos Stevie Wonder e Michael Jackson também os uniam, mas foi pelo funk carioca, ritmo mais próximo e acessível, que entraram na música. Só que não queriam cantar “proibidões” (funks feitos para facções criminosas) e sabiam que podiam colocar sensualidade em suas letras sem apelar para vulgaridade. Restava procurar qual caminho e trabalhar duro em busca de uma carreira e não apenas uma música de sucesso.

A sorte dos irmãos mudou quando em 2005 a música “Tá Surdo” entrou numa das disputadas coletâneas do veterano DJ Marlboro. Daí surgiram convites para TV, elogios de Ivete Sangalo, clipes e shows, muitos shows, principalmente no Rio de Janeiro. Naldo, que quase desistiu da carreira após a tragédia, chama hoje o irmão de “meu anjo bom”.

“A gente tem uma base familiar muito forte, nossos pais sempre nos mantiveram unidos, e tem a nossa fé também. Acho que essas são algumas razões do sucesso do Naldo. E tem essa roupagem nova que ele deu ao funk, mais puxada para o pop. Quer dizer, nós sempre buscamos o sucesso, mas nunca imaginei que fosse acontecer desse jeito. Assusta um pouco”, explica Rique. 



A tal roupagem nova a que se refere o irmão-produtor ganhou contornos mais claros quando Na Veia, a estreia solo de Naldo, foi lançado de forma independente em 2009 como uma espécie de homenagem ao irmão. O disco trouxe material que vinha sendo trabalhado desde os tempos da dupla, mas de um jeito mais eletrônico e festeiro. E quando começaram os shows houve bastante investimento na dança e em coreografias, uma sugestão de Lula para incrementar o espetáculo. “O gancho dele é o de ser um romântico tipo Buchecha, machão tipo MC Leozinho, e meio ostentador estilo gangsta rap. Nessa pegada do romantismo acho que ele acaba fazendo uma mistura com o pagode mais romântico e o sertanejo. Ou seja, joga num campo que tem muitos admiradores”, explica o jornalista Pedro Alexandre Sanches sobre as variadas misturas do cantor.

As fotos acabam e é hora de Naldo falar. Sempre acompanhado da namorada Ellen Cardoso, a Mulher Moranguinho, ele não aparenta nenhum sinal de cansaço. “Sempre tive certeza que quando meu trabalho conseguisse chegar até o povo, o sucesso aconteceria. Sempre fui muito dedicado, trabalhei muito e sou completamente alucinado pelo palco e pela música. Acho que isso é que não me faz me deslumbrar. Estou sempre pensando no trabalho e em como melhorá-lo”, diz o novo popstar brasileiro que já foi ajudante de feirante, engraxate e segurança de supermercado.

Como disse o irmão Rique logo acima, a coesão familiar teve um papel fundamental nessa perseguição determinada de Naldo pelo sonho de uma carreira musical. A mãe Ivonete vendia produtos cosméticos pra ajudar a pagar seus estudos de canto, as irmãs tomavam conta de Pablo, o filho de 15 anos do cantor resultado de um namorico adolescente, e o pai Manoel, soldador elétrico, lhe dava conselhos que traz até hoje no coração. 

“Ele me disse uma vez que ‘em pelo menos uma coisa na vida se você não for o melhor tem que tentar ser’. Já dá minha mãe trouxe a fé em Deus para o meu dia-a-dia. E dos dois, o respeito e o carinho pelo próximo. Independente do sucesso, carrego dentro de mim esse respeito pelo ser humano”, e nessa hora Naldo lembra quando ganhou o DVD de Ouro (25 mil cópias) pelo Na Veia Tour em janeiro deste ano. Antes de entrar no palco do Citibank Hall, no Rio de Janeiro, sua mãe lhe puxou de canto e disse, com os olhos cheios de lágrimas, que sempre acreditou nele. Pausa para recuperar o fôlego.

“Ah, tenho orgulho mesmo”, diz Dona Ivonete ao telefone. “Ele sempre foi muito honesto, muito trabalhador, e sempre buscou esse sonho com aquele sorrisão bonito. Agorinha mesmo estava fazendo unha na varanda e começou a tocar na vizinha uma música do Naldo & Lula... [e começa a cantarolar] ‘Não sei se sou / O cara que você sonhou / Você precisa acreditar / Não gosto de te ver chorar’... fiquei emocionada. Gosto das músicas também, viu? Só tem umas letras que eu mudaria um pouquinho”, e ri timidamente. Está falando de “Exagerado”, mais especificamente do verso “Falar besteiras no ouvido até você gozar”. Ela trocaria facilmente a última palavra por “pirar” e quando Naldo canta a música na TV ele faz o mesmo.



“Pra minha família nunca houve problema entre as letras mais quentes e a religião. Eles sempre entenderam isso. Sabe que até mostrei minhas músicas para um pastor da minha igreja? Ele disse que não tinha nada de mais, que amor é coisa de Deus”, explica Naldo. Entre as músicas mais “quentes” de seu repertório estão “Exagerado”, “Amor de Chocolate”, “Chantilly” e “Sem Sutiã”, mas também existe espaço para o romantismo de “Meu Corpo Quer Você” (música que, em dueto com Preta Gil, entrou na trilha da novela Salve Jorge).

Só que entre esses dois pólos, a dança acaba aumentando ainda mais o calor das letras (inclusive das românticas). “Quero falar de amor sim, mas também de coisas que rolam na noite e entre quatro paredes. Hoje tenho mais liberdade e quero colocar músicas mais românticas no CD e DVD que lançarei no meio do ano. Mas pra pista não tem jeito, tem que fazer algo mais quente, mais pesado”, confessa. 

Seu próximo trabalho se chamará Benny e será o primeiro assinado por Naldo Benny, seu novo nome artístico pensado para o mercado internacional. Nesse caminho já deu outros dois passos: uma versão em espanhol de “Exagerado” e a participação do rapper norte-americano Fat Joe em “Se Joga”. “Hoje consigo brincar com os universos do funk e do pop. E isso é um som para o mundo. Li que ‘Benny’ em hebraico quer dizer justo, bendito, abençoado, e achei que tinha tudo a ver com essa história mais moderna”, e os olhos brilham ao falar que se programou este ano para três viagens aos Estados Unidos. Em duas se apresentará e em outra conhecerá, via o novo amigo Fat Joe, Chris Brown e Snoop Dogg. O sonho de parcerias com alguns de seus maiores ídolos está cada vez mais próximo.

Logo ali ao lado, por toda Lapa e Rio de Janeiro, o carnaval pega fogo e Naldo tem dois shows à noite. O segundo, com banda e dançarinos, é em um clube tradicional na Lagoa Rodrigo de Freitas, o público previsto é de 4 mil pessoas e os ingressos estão esgotados. “Nunca tive medo de nada. Eu quero o Grammy, a carreira internacional, e vou conseguir. Sei que vai ser trabalhoso e exigir muito de mim. Mas não tenho medo não.” Will Smith que o diga, afinal, dias depois, presenciou Naldo ser adorado e cantado histericamente por centenas de fãs que nem deram bola para o astro norte-americano.

Agora, se Naldo não tem medo de tamanha ousadia internacional obviamente não temeria esse seu público novo de classe média alta e seus cercadinhos VIP. Então, quando sobe ao palco, trata logo de hipnotizar a todos com sua eletricidade e uma saraivada de hits. Mas também faz questão de bater no peito suas origens e canta alto um hino para muitos brasileiros como ele: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci”. Em seu caso, com um Grammy à tiracolo.



p.s.: abaixo, o texto nas sete páginas da revista.





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