sábado, 4 de novembro de 2023

missão impossível só se for pra tu

mais uma frila massa real pra querida revista monet, dessa vez sobre a franquia Missão Impossível e todos os desdobramentos na psiquê de Tom Cruise risos. acho sinceramente que é uma das franquias mais regulares em termos de qualidade. e ainda são pop com estilo, realismo e adrenalina com propósito. segue o texto.


CORRA ETHAN, CORRA
 
A história de uma das franquias mais bem sucedidas da história é retrato fiel da pulsão por adrenalina do produtor e astro Tom Cruise
 
Já são 27 anos que Ethan Hunt corre sem parar. Às vezes para salvar colegas de trabalho, noutras a si próprio, mas, quase sempre, para evitar o fim do mundo mesmo. A princípio, o agente super secreto interpretado por Tom Cruise teria apenas uma aventura, o primeiro Missão Impossível. Era também a primeira aventura de Cruise como produtor. Mas o filme foi tão bem recebido pela crítica e pelo público, e Cruise claramente se identificou tanto com o personagem, que o filme de 1996 se multiplicou por anos a fio até chegar, em 2023, ao sétimo longa: Missão Impossível – Acerto de Contas, Parte 1 (a segunda parte, só em 2025).
 
O objetivo do primeiro filme da franquia era, em si, ambicioso ao trazer para o mundo digital e fraturado pós queda do Muro de Berlim personagens e conceitos criados durante a maniqueísta Guerra Fria (a série televisiva original foi ao ar de 1966 a 1973, com um chorinho em 1988). Sai o ‘nós contra eles’, entra ‘o inimigo está em todos os lugares’ ou ‘o inimigo é invisível’ ou ainda ‘o inimigo somos nós’. Especialista em dualidades, máscaras e espetáculo, o diretor Brian De Palma foi a escolha perfeita do produtor Cruise.
 
De Palma estava numa fase boa, afinal de contas seu filme anterior, O Pagamento Final (1993), é considerado até hoje um dos pontos altos de sua longa carreira (que, entre outros, conta com clássicos como Carrie, Blow Out, Scarface e Os Intocáveis). O diretor relembrou esse período em uma entrevista para a Associated Press em 2020: “Em meus 50 e poucos anos, fiz O Pagamento Final e depois Missão Impossível. Não existe nada melhor do que isso. Você tem todo o poder e ferramentas à sua disposição. Quando você tem o sistema de Hollywood trabalhando para você, você pode fazer coisas notáveis”.
 
Mas o diretor queria mais e junto com os roteiristas David Koepp (Jurassic Park), Robert Towne (Chinatown) e Steve Zaillian (A Lista de Schindler), e com o aval de Cruise obviamente, fez com que Missão Impossível fosse também o funeral da série que o originou. É que o único personagem comum a ambos, Jim Phelps, deixou de ser o líder ético da TV (interpretado por Peter Graves) para ser um traidor cínico no longa (na pele de Jon Voight). Os tempos mudaram e a IMF (Impossible Mission Force) agora possuía uma nova face, a do desobediente e audacioso Ethan Hunt.
 
Na mesma entrevista de 2020, De Palma confessa que o ator/produtor lhe chamou para o segundo filme logo que o sucesso do primeiro ficou evidente. “Depois de fazer Missão Impossível, Tom me pediu para começar a trabalhar no próximo. Eu disse: 'Você tá brincando?' Um destes é suficiente. Por que alguém iria querer fazer outro?’ Claro que a razão pela qual eles fariam outro é pelo dinheiro. Nunca fui diretor de cinema para ganhar dinheiro, o que é um grande problema para Hollywood”.
 
Dinheiro é bom e Tom Cruise não é bobo, mas o que motivou o ator a seguir como Ethan Hunt foi mais do que isso, foi uma identificação profunda com o pragmatismo do agente secreto e sua incapacidade de ficar parado diante de ameaças. E assim foi tentando achar novamente um diretor que atendesse às necessidades aventureiras desse universo: John Woo aplicou suas coreografias e câmeras lentas em Missão Impossível 2 (2000); J.J. Abrams, em seu primeiro filme na direção, injetou drama e mostrou a intimidade do agente em Missão Impossível 3 (2006); e Brad Bird, que era conhecido pelas animações Ratatouille e Os Incríveis, colocou a IMF na berlinda em Missão Impossível – Protocolo Fantasma (2011). Todos os diretores foram profissionais e satisfatórios, e os filmes continuaram indo bem nas bilheterias, mas sempre tinha algo faltando para o casamento durar mais.

Tom Cruise e Christopher McQuarrie
 
Então, para Missão Impossível – Nação Secreta (2015), Cruise chamou outro diretor, mais um, o quinto em cinco filmes. Em meados dos anos 2010, Christopher McQuarrie não era estranho ao atorfoi roteirista de Operação Valquíria (2008) e No Limite do Amanhã (2014), deu alguns pitacos no roteiro de Protocolo Fantasma e o dirigiu em Jack Reacher (2012) –, mas a química e a camaradagem entre os dois ganhou contornos especiais em Nação Secreta.
 
“Não há ego. E não existe um conjunto específico de regras além daquelas que servem para entreter o público. Precisamos envolvê-lo em cada instante do filme, então, de uma forma estranha, o público está conosco em cada reunião de história, em cada exibição de teste, na sala de edição, no set. Isso torna o processo muito democrático. Não se trata realmente de quem está certo e quem está errado. É tudo uma questão de o que é certo para o público. Isso nos permite eliminar conflitos”, afirmou McQuarrie em entrevista para o site MovieMaker, em julho deste ano.
 
Foi assim que Cruise convocou, pela primeira vez, um diretor para retornar e ampliar seus corres como Ethan Hunt. E McQuarrie o fez de forma grandiosa em Missão Impossível – Efeito Fallout (2018), até hoje a maior bilheteria da franquia. A bem sucedida fórmula está toda lá – traições, perseguições, lutas mano a mano, quase fim do mundo, etc –, mas McQuarrie e Cruise conseguiram juntos criar um filme espetacularmente real ou realisticamente espetacular. Tudo é feito diretamente para a câmera, com nada ou quase nada de efeitos especiais, em palcos mais ambiciosos em termos de locações, veículos e coreografias. Dessa forma, sob a direção de McQuarrie, o já folclórico Tom-Cruise-é-o-seu-próprio-dublê ganhou contornos mais desafiadores e perigosos.
 
A dupla literalmente dobrou a aposta em Missão Impossível – Acerto de Contas (Parte 1), afinal de contas um filme só não foi o bastante para dar conta de um novo e assustador antagonista, a Entidade (nada menos que uma Inteligência Artificial que ganha consciência própria e passa a ser disputada por grandes nações/organizações por seu controle). Na sétima aventura de Ethan Hunt, velhos amigos retornam (Ving Rhames e Simon Pegg), bem como o mais recente amor/parceria (Rebecca Ferguson), uma nova colega chega por acidente (Hayley Atwell), um antigo chefe problemático dá as caras (Henry Czerny) e os vilões da vez se mostram particularmente poderosos (Esai Morales e Pom Klementieff, a serviço da Entidade). Todos a serviço do espetáculo e do público, como bem gosta Tom Cruise.
 
“Ele realmente reconhece que é uma estrela de cinema porque as pessoas gostam de seus filmes, e não o contrário”, afirmou Doug Liman, que o dirigiu em No Limite do Amanhã, em matéria no Washington Post. “Não é como se ele fosse o escolhido. Ele genuinamente se preocupa com o público e em dar-lhes de volta o valor do dinheiro gasto”.
 
Saltar de um penhasco dirigindo uma moto e depois abrindo o paraquedas é um dos retornos altamente satisfatórios que Cruise dá a seu público nesta primeira parte de Acerto de Contas (e foi o mais divulgado, vários meses antes do lançamento nos cinemas). É também apenas o início de mais uma sequência eletrizante a bordo de um trem (como no Missão Impossível que deu origem a tudo). Com a parte 2, a luta de Ethan Hunt contra a Entidade terá seu desfecho, mas seu compromisso profissional em salvar o mundo quantas vezes for necessário não tem previsão de fim.
 
Falando recentemente sobre a longevidade de Harrison Ford em uma entrevista para o Sydney Morning Herald, Cruise afirmou que “Harrison Ford é uma lenda; espero continuar indo como ele. Tenho 20 anos para alcançá-lo. Espero continuar fazendo filmes Missão Impossível até ter a idade dele”. E solta aquele sorrisão confiante e orgulhoso de quem tem certeza que nada, pelo menos pra ele, é impossível.

logo abaixo, o making of da impressionante sequência do pulo de moto sobre um enorme penhasco seguido de um salto da moto com paraquedas. o tanto de trabalho para uma sequência, que é curta no filme, é uma coisa de outro mundo.

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