em um tempo, como tantos outros, no qual a mídia impressa e televisiva mais desinforma que qualquer outra coisa, é sempre bom ouvir o mestre gay talese. seguem abaixo alguns trechos do excelente vida de escritor (cia. das letras, 2009 - páginas 228 a 230) sobre a arrogância do "quarto poder".
"nós, da mídia, adotávamos dois pesos e duas medidas, e, de acordo com nossos interesses, nos definíamos alternadamente como sendo "de dentro" e "de fora". éramos "de fora" nos casos em que não estávamos envolvidos pessoalmente com os "de dentro", cultivados como fontes, e éramos "de dentro" no sentido de que vivíamos sob o escudo protetor da primeira emenda e justificávamos a invasão de privacidade de outras pessoas de uma maneira que, se fizessem o mesmo conosco, havíamos de protestar. éramos seres efêmeros. a maior parte do que escrevíamos se circunscrevia a um único dia e, como profissionais, vivíamos vicariamente pelos altos e baixos de outras pessoas. nossos sentimentos eram filtrados; nossa sensibilidade, de segunda mão".
"éramos bajuladores, galanteadores, negociadores lisonjeiros, e usávamos como moeda de troca o que podíamos oferecer aos que tratavam conosco. oferecíamos voz aos emudecidos, oportunidade de esclarecimento aos incompreendidos, reabilitação aos caluniados. podíamos servir como pregoeiros para perseguidores de publicidade, caixa de ressonância para políticos oportunistas, refletores para estrelas teatrais e outros luminares. éramos convidados para estreias na broadway, para banquetes e outras noites de gala. (...) seja lá o que for que nos faltasse em termos de ética e caráter, nós nos justificávamos dizendo que éramos os guardiões mal remunerados do interesse público".
"o que escrevíamos às pressas era frequentemente incompleto, confuso e inexato. embora nossos editores tentassem corrigir essas falhas publicando erratas, essa nunca eram tão longas ou destacadas como tinham sido os artigos defeituosos que ensejavam a correção. nossos editores defendiam a objetividade e a imparcialidade, a apresentação de diferentes posições, de maneira a sermos justos e igualitários em relação a todas as partes envolvidas. mas atingir esse objetivo era improvável, se não impossível. nossos editores - todos os editores - submetiam a cobertura noticiosa a seu critério do que era justo e equilibrado, do que era muito importante, importante ou de nenhuma importância. suas impressões digitais estavam em cada artigo, cada título, cada fotografia, cada página diagramada do jornal. podia-se remontar tudo o que se publicava, ou não se publicava, ao eu subjetivo deles, a seus valores íntimos, a suas vaidades e cricatrizes de batalha, a sua história ancestral, a sua origem geográfica e a qualquer tipo de influência que a política, raça ou religião tivessem exercido sobre eles".
lembrou de alguma coisa? algo soou familiar? pois então... e como faixa bônus, ou video bônus, segue um video interessante de talese falando sobre jornalismo no século 21. não concordo com alguns tiques nostálgicos, mas entendo, completamente.
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