quarta-feira, 31 de março de 2010

em cartaz: malditos poloneses!

nunca consegui entender uma coisa: porque com tantos grandes artistas gráficos e ilustradores aqui no país a grande maioria dos posters dos nossos filmes são um lixo? ou, para não ser tão agressivo, apenas redundantes, óbvios, vazios. é como se fosse uma obrigação, coisa pra resolver rapidão, um dia no máximo. tanto que é difícil ver algum deles assinado. bem, durante o cinema novo aconteceram algumas exceções (um salve para o rogério duarte e seus trabalhos com glauber rocha, por exemplo) e claro que temos o grande benício e suas mulheres lindas e voluptuosamente coloridas dos anos 1970. lembro de belos casos mais recentes como terra estrangeira (1996), lavoura arcaica (2001), madame satã (2002), entreatos (2004), o céu de suely (2006) e jogo de cena (2007). mas é pouco, muito pouco para o nosso alto grau de excelência em artes gráficas. aí, navegando no sensacional site polish posters, dá pra ver toda uma escola de profissionais do ramo babando, experimentando, ousando, e em tempos duros de repressão. uma escola de grandes artistas que faziam cartazes para os seus próprios filmes e de outros países que porventura conseguissem transpor a cortina de ferro. e que continua positivo, operante e na ativa. agora, vamos comparar alguns cartazes poloneses de filmes brasileiros que achei com seus respectivos exemplares nacionais (do brasil, digo).

o pagador de promessas (1962) - o polonês, do ano de 1964, é de witold janowski e é impressionante como tem um quê de pintura popular nordestina. o brasileiro não é mal e tem esse alto contraste interessante junto com essa mistura de preto e branco com sépia.

vidas secas (1963) - assinado pela dupla maria ihnatowicz e andrzej krajewski, o polonês é do ano de 1965 e novamente é surpreendentemente nordestino com esse traço forte de xilogravura. agora, o brasileiro é bem fudido também, convenhamos. alto contraste, foto desfocada, seca, bem como a fotografia de luiz carlos barreto, o barretão. será que é do rogério durte?

macunaíma (1969) - aqui o cenário muda de figura porque o cartaz polaco é de 2008 e a dupla joanna gorska e jerzy skakun fez um cartaz bonito, mas que não dialoga bem com o filme (tem algo de oriental nessa grande figura preta, não?). já o cartaz brasileiro é bem divertido, cheio, tropicalista, maluco, bem como o filme de joaquim pedro de andrade. de quem será o desenho?

gabriela, cravo e canela (1983) - putz, o cartaz de 1986 de eugeniusz skorwider é bem massa. olha o alto contraste de novo! e a moça nua. quer dizer... enquanto o brasileiro é aquela coisa auto explicativa e com a obrigatoriedade de colocar os astros do filme.

o cangaceiro (1953) - o lindo cartaz polonês, do ano de 1957, é de waldemar swierzy e dispensa qualquer palavra. já o brasileiro segue a toada de quase todos os cartazes mundiais da década de 1950: ilustração de livro escolar com o máximo de imagens possível.

lá no salaBR, blog dedicado ao cinema brasileiro, começou um interessante projeto de releituras de cartazes de filmes nacionais. chama-se "em cartaz" e mostra que gente boa não falta, basta que os cineastas e produtores tenham vontade de uma peça de divulgação mais bonita, sofisticada. seguem aqui alguns exemplos assinados por raphael morone, joão noberto, diego xavier, elvis martuchelli e mariana nóbrega.


p.s.: e como uma fonte de inspiração e deslumbre eternos, um dos cartazes mais bonitos que já vi na vida. polonês, com certeza. é de não amarás (1988) e foi assinado por andrzej pagowski. me arrependo até hoje de não ter roubado esse cartaz uma certa vez que o filme do kieslowski estava sendo exibido no saudoso cine coc, em ribeirão preto, lá no início da década de 1990. taí ó, quase 79 dólares.

dói. não dói?

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