histórias que nossas babás não contavam (1979), de oswaldo de oliveira, com adele fátima (clara das neves) e costinha (caçador)
NO REALISMO DAS CURVAS
Benicio e o Canal Brasil são inseparáveis. Duvida? Autor de mais de 250 cartazes de cinema, principalmentem entre os anos de 1968 e 1989, o ilustrador gaúcho José Luiz Benicio da Fonseca criou todo um imaginário de sensualidade, realidade e bom humor que há dez anos serve como base para a programação do Canal Brasil. Pornochanchadas, dramas, comédias, todos os gêneros imagináveis feitos no país já passaram por seus pincéis. E imaginar que, por pouco, Benicio não foi pianista profissional. Chegou a ser contratado pela Rádio Gaúcha e tocou na célebre Rádio Nacional. Mas na década de 1950, ele descobriu que não era notívago, muito menos boêmio, e abraçou de vez o desenho que já encarava como profissão. Hoje, aos 72 anos e ainda em plena atividade, coleciona números impressionantes, tais como 2 mil capas de livros, e a fama de mestre.
“Olha, o grande barato nessa vida é fazer aquilo que se gosta. Sempre quis desenhar, sempre gostei, e ainda sinto prazer mesmo com mais de 50 anos de profissão. Sobre esse lado do meu trabalho [dos cartazes] tenho um carinho especial porque qualquer ilustração grande me encanta”, afirmou Benicio em conversa por telefone. Seu primeiro cartaz foi do thriller policial Os Carrascos Estão Entre Nós (1968), de Adolpho Chadler, no qual utilizou elementos que faziam sucesso em suas capas de livros de ficção popular: espionagem, aventura e erotismo. Este cartaz serviu como uma consolidação do talento, artístico e comercial, do gaúcho.
Logo vieram novas encomendas, quase sempre implorando por suas mulheres lindas, insinuantes e seminuas. Por essas e outras belezuras, Benicio foi o artista ideal para ilustrar as comédias ligeiramente eróticas e extremamente populares da década de 1970. Filmes com títulos sugestivos como Lua-de-Mel & Amendoim (1971), A Super Fêmea (1973), Cada Um Dá Que Tem (1975) e A Dama da Zona (1979). “Dificilmente via esses filmes para fazer o cartaz porque quando me encomendavam eles nem estavam prontos. Mas não era fundamental, pois o que funcionava mesmo era a conversa com o diretor ou produtor. O cartaz tinha que contar um pouco a história e chamar atenção, claro”. E depois, Benicio? Nem assistia essas pornochanchadas quanto estreavam? “De vez em quando e mais por curiosidade, mas não era uma coisa que me deixava maluco, não”, e riu meio tímido, meio maroto. “Lembro que gostei de Histórias Que Nossas Babás Não Contavam com aquela mulata linda, Adele Fátima. Achei a história divertida. Pena que a produção era muito precária”.
Claro que a arte de Benicio vai muito além desses pedaços de mau caminho. Seu apuro gráfico, a versatilidade e a opção por um realismo minucioso também foram vitrine para filmes de prestígio como Toda Nudez Será Castigada (1973), Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) e Anjos do Arrabalde (1987), bem como o cultuado O Profeta da Fome (1970), dirigido por Maurice Capovilla e protagonizado por José Mojica Marins, o Zé do Caixão.
Por outro lado, o mesmo artista que causava arrepios nos moralistas e na Censura Federal assinou todos os cartazes das comédias infantis d’Os Trapalhões, desde Robin Hood, o Trapalhão da Floresta (1974) até Os Trapalhões na Terra dos Monstros (1989), passando por clássicos como Os Saltimbancos Trapalhões (1981). “É uma outra maneira de trabalhar quando se visa o público infantil. Uso cores mais vivas, mais ação, nada de sensualidade. Nunca fui amigo de nenhum deles, mas o Renato Aragão gostava do meu trabalho e sempre me chamava. Era ele, sempre muito acessível, que ia com mais freqüência nas reuniões para contar a sinopse do filme e apontar quais elementos deveriam entrar no cartaz”.
A partir da década de 1990 com a entrada dos computadores e um uso maior da fotografia, o encontro entre Benicio e os cartazes de cinema foi rareando. Recentemente assinou Pelé Eterno e Casseta & Planeta: A Taça do Mundo é Nossa, ambos em 2004. “Não dá para ignorar o computador e, para falar a verdade, o bom gosto está em qualquer lugar, então está tudo bem”, diz com aquela tranqüilidade de quem sabe o que fez. E, olha, ele fez bem feito.
as grã-finas e o camelô (1976), de ismar porto, com carlo mossy, kátia d'angelo e, de novo, adele fátima
2 comentários:
Conheci o Benício pessoalmente em 2007, no IlustraBrasil do Senac Lapa Scipião. Gente finíssima! É legal poder encontrar essas figuras que povoam nosso imaginário.
aê érico, ainda hoje, mais pra noite, subo alguns cartazes do homem.
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