segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

nada mais irritante

encontrei uma única vez com fernanda young para um perfil publicado na edição de dezembro de 2006 da tam magazine. foi em um complexo de estúdios, ali na rua turiassu, onde era gravado o programa irritando fernanda young (2006-10). para minha surpresa na época, a conversa não poderia ter sido melhor, mais franca e solta. e ainda acompanhei a gravação do programa com a deborah secco. o resultado foi um texto que gosto até hoje (nem sei porque demorei tanto para colocar aqui). ah, uma breve atualização daquele final de 2006 para esse começo de 2012. fernanda young escreveu mais dois livros, posou para a playboy em 2009 sob a mira de bob wolfenson, apresentou outro programa (duas histéricas), escreveu outras séries e especiais para tv (o sistema, nada fofa, separação?! e macho man) e um novo capítulo cinematográfico na saga de rui e vani (os normais 2 - a noite mais maluca de todas), e ainda adotou duas crianças (já tinha gêmeas do casamento com o roteirista e parceiro alexandre carvalho). detalhe: o título do texto veio da série de retratos que a cia. de foto tirou na época.



UMA FLOR FEITA DE MUITAS PALAVRAS

O complexo de estúdios onde é gravado Irritando Fernanda Young está em processo de ampliação e os entulhos se acumulam sob uma escada, mas no camarim refrigerado tudo parece tranquilo. Por uma janela é possível acompanhar o silencioso frenesi da equipe nos últimos retoques para mais um dia de trabalho na segunda temporada do programa que vai ao ar nas noites de domingo do GNT. Agitada como parece ser o seu costume, a escritora, roteirista e apresentadora recebe o repórter acompanhada de sua irmã e braço-direito, Renata, com uma preocupação martelando a cabeça. “Sempre fico na dúvida se não estou simplesmente ridícula”, diz sobre as camadas de maquiagem necessárias para as luzes da televisão. A irmã lhe tranquiliza e ela senta, ainda agitada, no sofá. Gravando.

“O Saia Justa era bem mais fácil pra mim. Ia totalmente despreparada e às vezes cometia erros medonhos, mas fazia parte porque dramaturgicamente imaginava que o programa devia ser uma conversa entre amigas. Era como sentia e vivia aquilo, falando coisas interessantes, comoventes, falando abobrinhas”, e dá uma pausa nas boas lembranças de seus três anos ao lado de Rita Lee, Marisa Orth e Mônica Waldvogel, a primeira geração do programa. Corta para a câmera 2. “Hoje recebo convidados e tenho que estar preparada. Sinto que estou melhor como entrevistadora. Na primeira temporada era tudo mais anárquico e eu interrompia mais, falava muito de mim... o que continuo fazendo porque sou uma pessoa muito empírica. Faço isso na minha literatura, na TV, como roteirista e apresentadora. Não eliminei essa minha verborragia, esse meu eu egocêntrico e opinativo”, segue em desabalada carreira. Pausa para os comerciais.

Na primeira temporada do programa, a niteroiense radicada em São Paulo por opção e identificação entrevistou figuras tão diversas quanto Fábio Assunção, John Casablancas, Selton Mello, Rita Lee e Daniel Filho (que dirigiu recentemente Muito Gelo e Dois Dedos d’Água, roteiro seu com o marido e parceiro Alexandre Machado). O ecletismo foi aprofundado na segunda temporada que contou com as presenças de Ney Latorraca, Amaury Jr., Eliana, Deborah Secco, Alexandre Herchcovitch e Supla. Volta para a câmera 1. “Seria incapaz de falar com gente que não me interessa, portanto o que todas essas pessoas têm em comum é o fato de me intrigarem de alguma forma. Adoro conversar, adoro escutar os outros e pago por uma boa conversa. É onde tiro os meus insights”, explica. Corta para um close na câmera 3.

“Acho o programa genial. Se é ou não é, não importa. Você não pode fazer nada sem achar genial. Se não acredito porque vou dar a cara a tapa? Mas depois desta temporada gostaria de fazer algo mais quente, algo nas férias sobre as férias. Carnaval na Bahia ou em Olinda, por exemplo”, e dá um sorriso enigmático. Zoom in. Mas Fernanda Young gosta de carnaval? “Não gosto porque não sou aceita, não sambo, sou cheia de manias e hipocondrias. Tudo que não gosto é simplesmente por causa de rancor. É apenas uma reação à rejeição, mas vou começar a ter umas aulas para sambar. Quem sabe descubro que o carnaval é genial”, revela carnavalizando o próprio mau-humor. Vai para a câmera 2.

O lado conhecido de Fernanda Young é este, o do riso a partir de uma afiada observação do cotidiano popularizado pelos seriados televisivos A Comédia da Vida Privada, Os Normais e Minha Nada Mole Vida. Mas seu combustível é mesmo a paixão. Pela comédia e pelo cotidiano, claro, e acima de tudo pela palavra, presença constante, direta e torrencial em seus roteiros e nos sete livros publicados. “O que faço com mais prazer é escrever romances, mas fazer TV não é um bico. Adoro, sou fascinada pela TV. Fico boba com gente que ainda tem preconceito, porque não só acredito na TV como faço com ideologia. Só que os burros, e eles são muitos, vêem isso como desqualificador para minha literatura. Não sou uma pessoa idônea intelectualmente porque trabalho na Rede Globo... pelo amor de Deus!”, e faz uma careta, língua de fora. Sobem os letreiros.


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