quarta-feira, 16 de setembro de 2009

roberta sá ao vivo e a cores

encontrei pela primeira vez com a cantora roberta sá no final de 2006 para uma reportagem pra tam magazine que saiu em dezembro do mesmo ano (ela estava entre o primeiro e o segundo disco). depois a entrevistei por telefone pra monet, logo após o lançamento do segundo. muito simpática e acessível, a cantora está agora lançando seu terceiro trabalho, e o primeiro dvd ao vivo, pra se ter alegria (mp,b/universal, 2009). gosto bastante dos discos de estúdio e roberta certamente é uma das boas cantoras brasileiras do momento, mas algo me incomodou neste ao vivo (que tem participações de marcelo d2, hamilton de holanda e do maridão pedro luís). ela parece cercada de uma aura de diva, cheia de caras, bocas e gestos, a voz muito impostada. falarei com mais calma, e após assistir novamente o dvd, no gafieiras. no site, aliás, falamos do primeiro (braseiro, 2005) e do segundo disco (que belo estranho dia pra se ter alegria, 2007). detalhe: o show pra se ter alegria será exibido pelo canal brasil (que é parceiro do projeto) em novembro. segue então meu texto de 2006.


AS MUITAS CORES DE ROBERTA SÁ

É samba o que toca no fim do corredor de uma loja colorida e feminina nos Jardins, em São Paulo. Roberta Sá está em casa, quadruplamente em casa. Feminina, colorida, apaixonada por sambas de todas as idades e irmã da dona da tal loja, a cantora que nasceu em Natal (RN) e se mudou aos 9 anos para o Rio de Janeiro é também a dona da voz que sai das caixas de som. A reportagem a pegou em meio ao delicado processo de escolher roupas para as fotos e para o show que faz na mesma noite cumprindo uma movimentada agenda até o fim do ano, época em que pretende dar uma pausa e iniciar a produção de seu aguardado segundo disco.

“Acho que você tem quer fazer um disco quando está com vontade. É uma história nova, não uma obrigação, e só agora é que está começando a pintar novamente essa vontade. Minha vida ficou muito intensa depois que lancei o primeiro disco e agora, depois de tudo que eu ouvi, cantei e li nestes dois anos, é que estou com novas histórias para contar”, explicou sobre o disco que deseja lançar em 2007. Revelada para o grande público há cerca de três anos quando, após uma breve passagem pelo programa Fama (TV Globo), emplacou sua interpretação de “Vizinha do lado” de Dorival Caymmi na trilha sonora da novela Celebridade (TV Globo), Roberta Sá aproveitou o embalo e lançou seu disco de estréia, o elogiado Braseiro (MP,B/Universal), no início de 2005. Além de Caymmi, o disco trouxe uma intérprete segura em canções de autores como Chico Buarque, Marcelo Camelo, Paulinho da Viola, Janet de Almeida, Pedro Luís, Teresa Cristina, Lula Queiroga e Paulo César Pinheiro, entre outros.

“Estou com mais controle da minha voz e da minha emoção no palco. Ficava muito emocionada, mas não acho que fosse ruim, mas é preciso certo autocontrole para canalizar no que as canções pedem”, revelou enquanto se acomodava entre as inúmeras almofadas coloridas de um sofá rústico de madeira. A emoção que Roberta Sá canta atende pelo nome de samba, mas não pára por aí. “Tudo me interessa em questão de música brasileira. Sou apaixonada por todos os ritmos, um tanto porque sou de Natal e lá convivi com a cultura nordestina desde criança, mas em casa também se ouvia de tudo, de Tom Jobim a Geraldo Azevedo, de Ney Matogrosso a MPB-4. Depois que fui para o Rio tive contato também com a música pop, tipo Lulu Santos e Paralamas”, e sorri ao relembrar da mudança que a deixou mais esperta, segundo ela própria.

Foi esta esperteza que não a deixou deslumbrada quando se viu em um programa de TV ou na trilha de uma novela das oito de sucesso. “Fiz essas coisas porque aconteceram na minha vida. O foco não é ficar famosa e sim fazer um trabalho consistente, por isso não tem problema fazer um programa de TV ou participar de um festival [a cantora defendeu “Girando a renda” de Pedro Luís, em dueto com o próprio, e pegou o terceiro lugar no Festival da TV Cultura no final de 2005], porque tudo soma. Eu não penso muito, não sei se é um defeito, mas estou experimentando as coisas e acho que nada é mais enriquecedor que isso”, disse sob a vista de dois coqueiros de acrílico roxo, suspensos na parede.

Todas as cores penduradas nas araras da loja davam uma sensação de que qualquer combinação poderia ser possível. Alegre, triste, novo ou velho, tanto faz. “Sou uma cantora de música popular brasileira como tantas outras. Tento fazer uma música brasileira contemporânea, mas olhando pras coisas maravilhosas que já foram feitas, porque são a minha referência, são o que sou”, assina embaixo como em uma carta de intenções, mas também não admite saudosismo. “Não se faz mais música como antigamente, porque hoje não é antigamente! E antigamente também não se fazia música como mais antigamente ainda. Escuto muita coisa boa hoje em dia. Músicas, cantoras, uma nova geração... acho que estamos vivendo um momento muito especial da música brasileira”, retruca e se coloca. O tempo da entrevista vai escoando e o fotógrafo ansioso para entrar em cena. Os vestidos, os coqueiros de acrílico, as almofadas e todas as cores da loja-cenário também. “O que mais gosto na vida é ouvir e escolher canções para fazer uma música atual, mas respeitando a música brasileira de sempre”, disse e sua voz nunca pareceu tanto quanto a que saía das caixas de som daquela loja feminina e colorida.

pra encerrar, um dueto de roberta sá com o português antônio zambujo no belo e moderno fado "eu já não sei". essa música, numa outra gravação mas também com a presença de zambujo, está presente nos extras do dvd de roberta. são encontros em estúdio e no mesmo ambiente, a cantora duela com chico buarque ("mambembe"), ney matogrosso ("peito vazio"), trio madeira brasil e yamandú costa.

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