terça-feira, 29 de setembro de 2009

everybody macacada



mais um video genial e musical dos trapalhões. o ano é 1986 e a música é "o patrão mandou", com participação de seu autor, paulinho soares (1944-2004). pouco lembrado, o sambista de carreira breve já foi cantando e tocado por gente como beth carvalho, noite ilustrada, milton banana, ivon cury, lafayette, trio ternura, doris monteiro, trio esperança, entre outros. dica de @aomirante.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

beck vs. leonard cohen

já tinha ouvido bastante sobre o projeto record club, no qual beck hansen vem recriando discos clássicos faixa-a-faixa (em video, no estúdio, ao vivo, em um curto espaço de tempo e com alguns amigos convidados), mas ainda não tinha dado um pulo lá até que carol nogueira avisou de novidades no sítio. bem, o primeiro disco trabalhado pelo beck e seus amigos foi the velvet underground & nico (polydor, 1967) e agora a turma está disponibilizando videos de songs of leonard cohen (columbia, 1968). "o beck transformou uma das músicas do leonard cohen em rap", disse ela (e, pensando bem, a combinação faz sentido). a faixa é "master song", a segunda do disco, e traz as participações do devendra banhart e do mgmt (em outras faixas tem binki shapiro, do little joy). também estão disponíveis "suzanne" e "winter lady".



aqui, a versão original de "master song".


domingo, 27 de setembro de 2009

duas fotos

casa dominada, são paulo, 2009

casa dominada, são paulo, 2009

domingueira dose dupla

moleque. kid cudi é um moleque. o rapper tem 25 anos, é natural de cleveland (ohio) e surgiu em 2008 pagando geral com uma das melhores músicas do ano ("day'n'nite"), retirada de sua mixtape de estreia (a kid named cudi). na sequência assinou com o selo do kanye west (g.o.o.d. music), participou de seu disco 808s & heartbreak, e ficou amigo do common e do john legend, entre outros. muito bem. cudi acabou de lançar seu disco de estreia, o impressionante man on the moon: the end of day (g.o.o.d. music/universal motown, 2009) e taí mais uma entre as inúmeras provas que o rap continua vivo e mutante (para o bem). vieram outros temas paras as rimas vindas de um cotidiano mais urbano, global, classe média e cansado da ostentação gangsta & superstar; vieram também, sempre no caso dos eua, a música eletrônica, a psicodelia e o rock para enriquecer as batidas. sobre o disco: fora uma regravação oportuna de "day'n'nite", o disco ainda traz faixas ótimas como "make her say" (com common, kanye west e lady gaga sampleada), "alive" (com o duo electrorock ratatat) e "pursuit of happiness" (com o ratatat e o mgmt). escuta só uma versão ao vivo de "pursuit of happiness", com a presença do ratatat, no programa do mestre david letterman (que tem uma produção musical antenadíssima).



foda. aí, de tanto ouvir esse disco do kid cudi, principalmente essas citadas, deu uma vontade de ouvir mais ratatat. a dupla mike stroud (guitarras) e evan mast (sintetizadores) é uma das dívidas que tenho com o mano oga mendonça que me apresentou o duo no ano passado, época do lançamento do sensacional lp3 (xl recordings, 2008). então, pra encerrar a domingueira de hoje que o dia tá bonito, ouçam o rock instrumental e psicodélico dos maninhos de washington/nova york.

sábado, 26 de setembro de 2009

duas fotos e meia

casa dos pais de santos dumont (1873-1932), ouro preto, 2006

casa dos pais de santos dumont (1873-1932), ouro preto, 2006

e taí a fachada da casa pra não falarem por aí que ando inventando...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

CORJA #4

demorou, mas taí o que você queria: o corjacast #4. não lembro direito daquela quinta. sei que era de noite e eu tava de barriga vazia. sei que os uevitos de mani e as ruffles (cebola & salsa?) não deram conta desse vazio e que a combinação cerveja/cachaça se mostrou explosiva no decorrer da gravação. ah, lembro do valtinho assediando a cachorrinha do edson, a clementina. lembro do oga de fone nos ouvidos, dos fios se misturando aos dreads, dos fios tomando a mesa (ver foto abaixo) e do edson lamentando uma garrafa de cachaça quebrada por sua secretária do lar. o resto tá registrado aí, com direito a algumas novidades inseridas pela mente inquieta e atarefada de oga.

e o som? temos emicida (com participação de rashid, projota & fioti), n.e.r.d., evaldo braga, nick cave e nervoso e os calmantes. ao fundo, o mestre joão parahyba. sempre oferecemos a oportunidade de baixar o programa inteirinho em mp3. tá AQUI. e aguardem que o próximo corjacast terá endereço próprio, player novo, etc. e tal. a corja é assim, servindo bem para servir sempre, como aquele garçom amigo do reginaldo rossi. comentários, dicas, elogios hiperbólicos e xingamentos moderados são sempre bem-vindos.


o fab four em momento de mesa posta

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

velho/novo

Jumbo Elektro meets Os Saltimbancos Trapalhoes from juliana mundim on Vimeo.

que bonito... saltimbancos trapalhões (1981) de um lado. "rachel", música de terrorist!? the last album (before the armageddon) (phonobase, 2009), segundo disco do jumbo elektro, do outro. mashup videoclípico assinado por juliana mundim, do pocket films for travelers.

esse disco novo do jumbo, aliás, está sendo vendido de diversas e interessantes formas: a versão em mp3 128kbps é gratuita no site da mondo 77; enquanto, no site oficial, o mp3 320kbps sai por R$ 2, o FLAC é R$ 3,50, em WAV é R$ 5 e o bom e velho CD (+ mp3) custa módicos R$ 11,90. pra encerrar, a phonobase disponibilizou um canal para os fãs montarem lojinhas virtuais próprias pra vender o disco.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

o turbante e a linguagem

o deserto tem blues. tinariwen é isso, o lamento do saara e dos povos nômades (os tuaregs) que lutam por sua cultura a despeito de não possuirem um estado-nação que os proteja. a banda - cujo nome significa, apropriadamente, "espaços vazios" - foi criada no início da década de 1980 por ex-integrantes de milícias a serviço de muammar kadafi. claro que eles foram obrigados a pegar em armas já que não tinham nenhuma agenda política ligada ao ditador da líbia ou a nenhum outro governo do norte da áfrica, como por exemplo com o mali, a terra de amadou & mariam, que os abrigou e rejeitou em tempos diferentes (a única "agenda política" que possuem é consigo próprios).

o pessoal do tinariwen trocou as flautas tradicionais de seu povo por guitarras e criou um blues-rock absurdamente original que versa sobre o exílio, a água, a repressão de seu povo e o despertar político (eles cantam em um estilo denominado "tishoumaren" ou "música dos desempregados"). o som deles começou a ser ouvido e divulgado através de fitas k-7 e chegou ao cd no início dos anos 2000. nasceram assim os álbuns the radio tisdas sessions (wayward, 2001) e amassakoul (world village, 2004) que lhe trouxeram shows na europa e estados unidos. fui conhecê-los dois anos atrás pelo disco amam iman: water is life (world village, 2007) e agora eles voltam aos meus ouvidos com o igualmente genial imidiwan: companions
(independiente, 2009) que é cd e dvd. é mais do mesmo, o que no caso do tinariwen é muita coisa. abaixo segue um trecho desse dvd.



e aí, gal costa (e jorge ben)? vocês tem algo a dizer?



para quem não sabe, "tuareg" (jorge ben) é do disco gal costa (philips, 1969), o segundo trabalho solo da baiana. essa música só foi gravada outras duas vezes, por lulu santos e kátia b.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

pagode-folk-indie

é o que eu sempre digo: o google translator é a revolução que veio pra unir as nações, acabar com as guerras, destruir os muros, diluir os preconceitos... enfim, uma loucura de cabo a rabo. por exemplo, vi lá no let it blog uma série de videos com versões em inglês (na base do voz & violão) para sucessos do pagode da década de 1990. estão lá, no canal pagodeversions, clássicos do só pra contrariar ("que se chama amor"), molejo ("caçamba") e do exalta samba ("eu me apaixonei pela pessoa errada"), que você vê e ouve logo abaixo.



coincidência ou não, poucas semanas atrás havia conhecido o igualmente genial blog embracing brazilian poetry, que passa para a língua daquele cara lá, o shakespeare, canções de carlinhos brown, é o tcham, latino, chatuba de mesquita, kelly key, ivete sangalo, raimundos e por aí vai (com direito a importantes introduções contextualizadoras para os gringos a antenados). globalização, a gente se vê por aí.

p.s.: uma brincadeira parecida começa a tomar corpo no twitter. o mano edson franco, corjaman de primeira grandeza, deu início ao #Brazilianquotes, traduções para o inglês de ditados populares bem nossos. o resultado, claro, é hilário e já ganhou muitas contribuições.

atualização em 24 de outubro: o mano que faz o pagode versions é brasileiro, claro, e mora em buenos aires. chama-se túlio pires bragança e tem um blog chamado aires buenos.

domingo, 20 de setembro de 2009

domingueira

parece que vai chover aqui em são paulo. chuva forte. mas nem por isso a gente deixa de pensar no sol ou em, pelo menos, cantar o sol. então escolhi o clipe novo do slim rimografia ("sol", ahá!) pra essa edição da domingueira. o lançamento rolou ontem no espaço + soma e pena que não pude ir, mas o video tá aqui. e tem texto sobre o rapper paulistano, assinado por gisele coutinho, lá no noiz. chove chuva, chove sem parar, pra depois deixar o sol brilhar.

Slim Rimografia - SOL (por: www.centralhiphop.com) from Ponto4 Digital on Vimeo.

p.s.: coincidência boa. quando soltei o clipe aqui em casa, o som dos passarinhos de uma árvore próxima se confundiu com os passarinhos do clipe. não dava pra saber onde terminava um e começava o outro.

sábado, 19 de setembro de 2009

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

busteeeeer

deu saudade de um dos meus heróis (e, ocasionalmente, a minha "cara" no twitter), o único e genial buster keaton (1895-1966). aí fui dar uma busca no youtube pra colocar uns videos aqui, dar umas risadas e coisa e tal. achei primeiro esse aqui, uma boa montagem (mashup?) de vários longas e curtas do ator/diretor ao som de "down to the well", nona faixa do disco bossanova (4ad/elektra, 1990) dos pixies.



agora um video com buster relembrando o passado e a "era de ouro da comédia" em 1964, dois anos antes de sua morte, para o programa telescope (cbc).



e por último, alguns trechos da peça buster - o enigma do minotauro que o grupo xpto
montou em 1997. vi duas vezes na época e foi umas das coisas mais bonitas que já vi na vida. uma justa e original homenagem ao mestre.







eu tô rindo. você não tá vendo?

transversão #22

cymande, putz. esse grupo de funk formado no início da década de 1970 na inglaterra teve uma vida breve, e um retorno ainda mais breve ali por 2006, e já é bem conhecido por quem gosta de black music setentista. sua fama também se espalhou porque muitas de suas músicas foram sampleadas por gente como de la soul, beasties boys, fugees, mc solaar e por aí vai. o primeiro trabalho deles, cymande (collectables, 1972), é um desses discos indispensáveis pra vida e com uma quantidade absurda de clássicos ("the message", "bra" e "dove", por exemplo). vieram outros dois discos do mesmo naipe: second time round (janus, 1973) e promised heights (newhouse, 1974). e pronto, ponto final. o que apareceu depois foram singles, coletâneas, relançamentos com faixas bonus e outras bagunças discográficas. vamos tratar aqui no transversão de uma favorita da casa, "brothers on the slide", que foi lançada originalmente em promised heights, mas que foi colocada na versão em cd do disco de estreia, o cymande. de qualquer forma, taí a versão original.



e agora uma regravação de "brothers on the slide" assinada pelos franceses do the dynamics e retirada do disco version excursions (groove attack, 2007). pesquei lá no indispensável blog só pedrada.



mais informações sobre o cymande em um bom site tributo ou então no all music guide.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

roberta sá ao vivo e a cores

encontrei pela primeira vez com a cantora roberta sá no final de 2006 para uma reportagem pra tam magazine que saiu em dezembro do mesmo ano (ela estava entre o primeiro e o segundo disco). depois a entrevistei por telefone pra monet, logo após o lançamento do segundo. muito simpática e acessível, a cantora está agora lançando seu terceiro trabalho, e o primeiro dvd ao vivo, pra se ter alegria (mp,b/universal, 2009). gosto bastante dos discos de estúdio e roberta certamente é uma das boas cantoras brasileiras do momento, mas algo me incomodou neste ao vivo (que tem participações de marcelo d2, hamilton de holanda e do maridão pedro luís). ela parece cercada de uma aura de diva, cheia de caras, bocas e gestos, a voz muito impostada. falarei com mais calma, e após assistir novamente o dvd, no gafieiras. no site, aliás, falamos do primeiro (braseiro, 2005) e do segundo disco (que belo estranho dia pra se ter alegria, 2007). detalhe: o show pra se ter alegria será exibido pelo canal brasil (que é parceiro do projeto) em novembro. segue então meu texto de 2006.


AS MUITAS CORES DE ROBERTA SÁ

É samba o que toca no fim do corredor de uma loja colorida e feminina nos Jardins, em São Paulo. Roberta Sá está em casa, quadruplamente em casa. Feminina, colorida, apaixonada por sambas de todas as idades e irmã da dona da tal loja, a cantora que nasceu em Natal (RN) e se mudou aos 9 anos para o Rio de Janeiro é também a dona da voz que sai das caixas de som. A reportagem a pegou em meio ao delicado processo de escolher roupas para as fotos e para o show que faz na mesma noite cumprindo uma movimentada agenda até o fim do ano, época em que pretende dar uma pausa e iniciar a produção de seu aguardado segundo disco.

“Acho que você tem quer fazer um disco quando está com vontade. É uma história nova, não uma obrigação, e só agora é que está começando a pintar novamente essa vontade. Minha vida ficou muito intensa depois que lancei o primeiro disco e agora, depois de tudo que eu ouvi, cantei e li nestes dois anos, é que estou com novas histórias para contar”, explicou sobre o disco que deseja lançar em 2007. Revelada para o grande público há cerca de três anos quando, após uma breve passagem pelo programa Fama (TV Globo), emplacou sua interpretação de “Vizinha do lado” de Dorival Caymmi na trilha sonora da novela Celebridade (TV Globo), Roberta Sá aproveitou o embalo e lançou seu disco de estréia, o elogiado Braseiro (MP,B/Universal), no início de 2005. Além de Caymmi, o disco trouxe uma intérprete segura em canções de autores como Chico Buarque, Marcelo Camelo, Paulinho da Viola, Janet de Almeida, Pedro Luís, Teresa Cristina, Lula Queiroga e Paulo César Pinheiro, entre outros.

“Estou com mais controle da minha voz e da minha emoção no palco. Ficava muito emocionada, mas não acho que fosse ruim, mas é preciso certo autocontrole para canalizar no que as canções pedem”, revelou enquanto se acomodava entre as inúmeras almofadas coloridas de um sofá rústico de madeira. A emoção que Roberta Sá canta atende pelo nome de samba, mas não pára por aí. “Tudo me interessa em questão de música brasileira. Sou apaixonada por todos os ritmos, um tanto porque sou de Natal e lá convivi com a cultura nordestina desde criança, mas em casa também se ouvia de tudo, de Tom Jobim a Geraldo Azevedo, de Ney Matogrosso a MPB-4. Depois que fui para o Rio tive contato também com a música pop, tipo Lulu Santos e Paralamas”, e sorri ao relembrar da mudança que a deixou mais esperta, segundo ela própria.

Foi esta esperteza que não a deixou deslumbrada quando se viu em um programa de TV ou na trilha de uma novela das oito de sucesso. “Fiz essas coisas porque aconteceram na minha vida. O foco não é ficar famosa e sim fazer um trabalho consistente, por isso não tem problema fazer um programa de TV ou participar de um festival [a cantora defendeu “Girando a renda” de Pedro Luís, em dueto com o próprio, e pegou o terceiro lugar no Festival da TV Cultura no final de 2005], porque tudo soma. Eu não penso muito, não sei se é um defeito, mas estou experimentando as coisas e acho que nada é mais enriquecedor que isso”, disse sob a vista de dois coqueiros de acrílico roxo, suspensos na parede.

Todas as cores penduradas nas araras da loja davam uma sensação de que qualquer combinação poderia ser possível. Alegre, triste, novo ou velho, tanto faz. “Sou uma cantora de música popular brasileira como tantas outras. Tento fazer uma música brasileira contemporânea, mas olhando pras coisas maravilhosas que já foram feitas, porque são a minha referência, são o que sou”, assina embaixo como em uma carta de intenções, mas também não admite saudosismo. “Não se faz mais música como antigamente, porque hoje não é antigamente! E antigamente também não se fazia música como mais antigamente ainda. Escuto muita coisa boa hoje em dia. Músicas, cantoras, uma nova geração... acho que estamos vivendo um momento muito especial da música brasileira”, retruca e se coloca. O tempo da entrevista vai escoando e o fotógrafo ansioso para entrar em cena. Os vestidos, os coqueiros de acrílico, as almofadas e todas as cores da loja-cenário também. “O que mais gosto na vida é ouvir e escolher canções para fazer uma música atual, mas respeitando a música brasileira de sempre”, disse e sua voz nunca pareceu tanto quanto a que saía das caixas de som daquela loja feminina e colorida.

pra encerrar, um dueto de roberta sá com o português antônio zambujo no belo e moderno fado "eu já não sei". essa música, numa outra gravação mas também com a presença de zambujo, está presente nos extras do dvd de roberta. são encontros em estúdio e no mesmo ambiente, a cantora duela com chico buarque ("mambembe"), ney matogrosso ("peito vazio"), trio madeira brasil e yamandú costa.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

voa, biafra, voa



dica de @spiceee. e para quem é mais novinho e não sabe quem diabos é biafra (depois de 1998 ele trocou o 'i' por 'y', portanto byafra), dá um pulo na wikipédia, no youtube, etc. ah, e pra quem duvida, o cantor confirmou o acontecido (durante as filmagens de um documentário sobre o apresentador chacrinha).

duas fotos

mônica salmaso, sesc pompéia, 2006

moska, sesc pompéia, 2006

essas fotos foram tiradas durante o show de lançamento do cd/dvd música ligeira (tamos aí/tratore, 2006), o segundo trabalho do trio formado por mário manga, fábio tagliaferri e o saudoso rodrigo rodrigues (que morreu em abril de 2005, um ano depois da gravação desse trabalho). fiz uma nota sobre esse belo trabalho lá no gafieiras. o show foi emocionante e ainda contou com a participação de gente como arnaldo antunes, cida moreira, ná ozzetti, e a filha de rodrigues, laura lavieri, que cantou em dueto com andré abujamra uma arrepiante versão de "across the universe" dos beatles.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

martim é o nome da fera!

"tá nascendo". acordei assustado. eram 5h20 da manhã quando recebi essa mensagem do mano fernando no celular. era a senha para a chegada de martim, filho dele com cris. respondi alguma coisa meio sonado e feliz, também via mensagem de texto. logo depois que acordei, às 9, liguei pra saber se o moleque já tinha dado o ar da graça. ainda nada, na expectativa. parto normal, sacumé. então, às 10h08, uma nova mensagem, dessa vez de tatiana, que estava lá com o daniel, irmão do fernando, desde umas 7 da manhã: "o martim é lindo". fogos de artifício na minha cabeça! um pouco depois, às 10h44, o próprio fernando diz que "nasceu! fortão, parto normal, 3,5 kg. a cris está ótima".

é isso, minha gente, martim está entre nós. é mais um moleque gente boa - certeza que será, afinal pai e mãe são desse jeito - pr'um mundo que precisa de mais gente assim. queria deixar registrado isso pra no futuro, quando ele der um daqueles ocasionais auto-google, achar essa página empoeirada de bytes passados. bem vindo, martim! um beijo, um abraço e um apertão. a gente se verá muito por aí. assinado: marujada de martim parangolá.

domingo, 13 de setembro de 2009

"não venha querendo você se espantar"

hoje, 13 de setembro, itamar assumpção faria 60 anos. seguem abaixo dois videos do programa mosaicos (tv cultura), que foi ao ar no dia 8 de setembro homenageando o mestre. teve donazica (da filha anelis assumpção), curumim e os rappers do z'áfrica brasil com théo werneck e mano bap, entre outros. o primeiro video tem "falei" do z'áfrica, mais "fico louco" do itamar e depoimentos de arquivo.



esse agora traz "nega música".



um salve pra itamar. sempre.

p.s.: e lá no gafieiras, a nossa eterna homenagem.

domingueira

falei na domingueira da semana passada da paixão sincera de damon albarn (blur) pela música negra e, mais precisamente, pela música contemporânea africana. o casal amadou & mariam, por exemplo, vinha com um trabalho belo e sólido lá no mali desde a década de 1980, mas no início dos anos 2000 seu blues africano já estava misturado com pitadas latinas, guitarras roqueiras e outros sons africanos, a ponto de chamar atenção do "mundo ocidental". saiu então o lindão dimanche a bamako (nonesuch, 2005), com produção do manu chao, e no ano passado veio welcome to mali (because music, 2008), que teve a presença de damon albarn no estúdio. o inglês chega na humildade e não soterra o som do casal com tiques mercadológicos ocidentais. ele tem noção que o casal sabe o que faz - amadou tem 55 anos e toca guitarra de uma maneira muito original; mariam é mais nova, tem 51 e uma voz que alterna rapidamente suavidade e raiva; ambos são cegos de nascença. exemplo bem acabado do encontro é a faixa que abre o disco, a linda "sabali", a única parceria de albarn, amadou e mariam. o disco tem também participação do rapper somali k'naan. agora, com vocês, "sabali".


Amadou et Mariam - Sabali
Enviado por cpourlesparents. - Explore outros vídeos de música.

achei também um video ligeiro com albarn explicando algumas inspirações que teve pra música (edith piaf, etc.) e mariam contando como se conheceram e o que significa a palavra "sabali" (paciência).

sábado, 12 de setembro de 2009

psycho afro sambas

escrevi o texto abaixo em maio de 2007 a pedido do junior boca (foi o primeiro "press release" que fiz). conheci o guitarrista cearense lá em fortaleza via dustan gallas, num barzinho de música instrumental perto da av. santos dumont (foi em 2005?). logo depois ele veio pra são paulo e descolei o primeiro show solo dele aqui na cidade, lá no saudoso villaggio café do bixiga. de lá pra cá, o boca passou a tocar com um monte de gente e sofisticou ainda mais sua guitarra (que era mais jazz puro quando conheci). com certeza é um dos melhores instrumentistas em atividade agora no país. bom, e um dos projetos que ele se meteu foi o trio esmeril - que não tinha esse nome quando escrevi o texto - com mauricio takara e guizado. o trio se propôs a entortar os afro-sambas de baden powell e vinicius de moraes. o resultado é maravilhoso, mas pouca gente viu/ouviu. rolaram uma série de shows aqui em são paulo em 2006 e 2007, talvez alguma coisa em 2008, mas é o típico projeto paralelo e acabou ficando de escanteio por outras prioridades.

é que ontem, navegando no site do ótimo selo desmonta descobri, na seção "media", três músicas do trio para baixar gratuitamente. que delícia ouví-las novamente e poder tê-las. a notícia é essa, mas acrescentei aqui o texto que fiz (acompanhei um ensaio deles no estúdio el rocha, em pinheiros), uma foto maluca que tirei num bar vegetariano no bixiga (único show que vi, totalmente excelente), um video e as três músicas em streaming.


um borrado boca, um takara compenetrado e um guizado olhando pro infinito

Primeiro foi um ensaio, na moral, bateria, guitarra e algumas bases. Poucas semanas depois, um show, o segundo e valendo, com a entrada de um trompete e novos efeitos. Em dois momentos, distintos e complementares, pude acompanhar o encontro dos jovens músicos Mauricio Takara, Junior Boca e Gui Mendonça (aka Guizado) com os afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes.

Músicas como “Canto de Ossanha”, “Canto de Iemanjá”, “Canto de Pedra Preta” e “Canto de Xangô”, tão misteriosas, espirituais e sensuais como em seu lançamento em 1966, quase sempre sofreram de demasiada reverência nas interpretações de outros artistas. Talvez porque não tenham também embarcado em outra característica da bossa negra de Baden e Vinicius: a liberdade.

No caso de Takara, Boca e Guizadoman, essa liberdade é tomada por formas exclusivamente instrumentais. É mais jazz, tem algo de rock, é música instrumental brasileira, e tem barulho, groove, surpresa e improviso. Tudo muito natural. Às vezes não se entende nada e de uma hora para a outra você se pega sorrindo, batendo o pé no compasso, essas coisas. E, acompanhando esse power trio em ação, os versos de Vinicius fazem muito sentido: “O homem que diz ‘sou’ não é / Porque quem é mesmo é ‘não sou’”. Enfim, só ouvindo mesmo.


e agora, as músicas. na ordem, "canto de iemanjá", "canto de xangô" e "tempo de amor".







e pra encerrar, um video com apresentação do trio esmeril no studio sp (em tempos de vila madalena), em junho de 2006.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

transversão #21

foi em agosto, 13 de agosto, que a turma lembrou os 40 anos da morte de jacob do bandolim (1918-1969), um dos maiores gênios da música popular brasileira & mundial. pois então, três anos após a morte de jacob, seu filho, o jornalista polêmico e compositor sérgio bittencourt (1941-1979), lhe dedicou uma emocionada música e a cantou em dueto com elizeth cardoso, uma "descoberta" do bandolinista, em compacto e no disco preciso aprender a ser só (copacabana, 1972). putz, "naquela mesa" é linda demais, do tipo que dá nó na garganta, mas acho que só a conheci no início dos anos 2000 quando fiz os textos da coletânea isso é samba (som livre, 2002). escuta só a versão original com elizeth e sérgio.



agora, uma versão instrumental de um reginal chamado os coroas. tá no disco choros inesquecíveis (rge, 1988), mas não tenho a mínima ideia de quem sejam os tais coroas.



e agora o motivo que me fez relembrar. o pernambucano otto gravou no ano passado e está pra lançar seu quarto disco solo, certa manhã acordei de sonhos intranquilos (independente, 2009), e entre as dez faixas tem essa ótima regravação de "naquela mesa" (tem uma outra, "lágrimas negras", de nelson jacobina e jorge mautner, que gal costa gravou originalmente e que otto canta com a mexicana julieta venegas; mas essa não rolou). curiosidade: fazia tempo que otto não lançava nada inédito e a prova disso que seu site ainda é dos tempos da gravadora trama.



ah, olha a capa do disco do maluco (que já tá sendo vendido no exterior). tem céu na música "o leite", lirinha em "meu mundo" e as guitarras inescapáveis de fernando catatau, o homem do ano (além de disco de inéditas, o cearense também é produtor do novo trabalho de arnaldo antunes, o bacana iê iê iê).

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

irmãos coragem

às vezes é bom tomar um tapa na cara. foi o que senti ao ouvir, depois de muita relutância, o punkanova (independente, 2009), estreia em disco do brothers of brazil, projeto de supla e joão suplicy. não dava uma pataca furada pela coisa, tal e qual, confesso, nunca dei pelas carreiras solos dos irmãos. mas, porra, o disco é muito divertido e, certamente, é uma das boas surpresas do ano. fiz uma resenha pro gafieiras, lá pra edição #4 da seção balancete. no mesmo balaio entraram resenhas ligeiras de simone, alcione, diogo poças, márcio montarroyos e ana cañas. vai lá, mas antes ouça "sometimes i wanna punch you", ao vivo para o showlivre.



p.s.: acho que não cheguei a anunciar a coluna balancete que, inclusive, nasceu aqui no início de maio. balancete #1 foi uma replicação direta do que escrevi aqui e trouxe aquilo del nisso, victor biglione, gloria, bruno miguel, ivan lins, markko mendes, nenê cintra (vésper vocal), paquito, paulo faour e quasimodo. balancete #2 veio com tiê, rodrigo campos, dj dolores, danilo brito, stela campos, paulo freire, leila pinheiro & eduardo gudin. e a balancete #3 trouxe nervoso e os calmantes, retrofoguetes, zélia duncan, estela cassilatti, curupira, diogo nogueira e o livro sobre paulo césar pinheiro.

outro p.s.: e via @gustavomiller fiquei sabendo do primeiro clipe dos brothers. é da música "samba around the clock".


domingo, 6 de setembro de 2009

domingueira

ouvindo esses dias o disco duplo midlife - a beguinner's guide to the blur (emi, 2009), uma coletânea revisionista da banda liderada por damon albarn (gorillaz), tive mais uma vez aquela certeza fundamental (e aqui me utilizo e entorto aquela frase célebre de paulo emílio salles gomes sobre o cinema brasileiro): a pior música do blur é melhor que toda a obra do oasis. sempre achei a banda dos gallagher (agora no singular, porque noel deu o pinote) extremamente superestimada e muito pouco original, fora a arrogância e aquele nhém-nhém-nhém de popstar. léguas abaixo do blur, mais discreto, versátil, bem humorado e com sonoridades variadas. outra característica que coloca o blur anos luz a frente do oasis, na humilde opinião deste que vos escreve, é que albarn tem uma paixão genuína pela música negra (tony allen, amadou & marian, etc.), enquanto os gallagher são apenas... brancos.



queria colocar o clipe de "tender", mesmo que não tenha nada demais nele, mas a gravadora emi é umas das muitas empresas que tem esse hábito mesquinho de desativar o 'embed' (artistas também fazem isso). enfim, essa versão ao vivo no programa jools holland é do mesmo ano de seu lançamento no disco 13 (emi, 1999). os 7 minutos e 40 segundos de "tender" abrem o disco com essa linda guitarra meio-oeste americano e um coral spiritual que sobe aos céus.

sábado, 5 de setembro de 2009

jabs, punchs e overdrives

tenho um certo fascínio por histórias de grandes lutas ou lutadores de boxe. engraçado que do esporte não gosto (quase) nada. mas tem algo de muito dramático na entrega, física e psicológica, desses esportistas. acho que é o mesmo fascínio que tenho por john ford, faroestes, clint eastwood e afins. em tudo, figuras masculinas solitárias diante de um destino inescapável.

lembro que logo no início da faculdade (e de são paulo), em meados da década de 1990, assisti ao sensacional documentário quando éramos reis (1994), de leon gast. a história da dramática luta de muhammad ali e george foreman no ano em que nasci (1974) me nocauteou de jeito (com o perdão do trocadilho). a partir daí me interessei por histórias de boxe, quase sempre com muhammad ali como protagonista. li o livro a luta (cia. das letras, 1998), de norman mailer, que também é sobre essa disputa (mailer estava lá e é um dos depoentes do documentário); o homem cinderela (objetiva, 2007), de jeremy schaap, sobre james braddock; e as reportagens "o perdedor" (sobre floyd patterson) e "joe louis: o rei na meia-idade" de gay talese, que estão em fama & anonimato (cia. das letras, 2004); além de muita coisa na tv e, claro, filmes como fat city - cidade das ilusões (1972), touro indomável (1980) e menina de ouro (2004), entre outros.
muitas histórias, vitórias e, acima de tudo, derrotas (é impressionante como no boxe, mais que em outros esportes, é enorme a quantidade de gente que se dá mal, mesmo quando vence).


um dos cartazes de divulgação da luta

tudo isso me veio a cabeça após assistir o ótimo documentário thrilla in manila (2008), de john dower (que também assinou documentários sobre kurt cobain e o cosmos, aquele time de futebol intergaláctico montado nos eua com pelé, beckembauer, cruyff e outros). produzido pela hbo, o longa recupera outra luta histórica de ali, desta vez muito mais dramática e contra joe frazier, na disputa pelo título em 1975.

como na luta pelo cinturão no ano anterior entre ali e foreman em um pobre e convulsionado congo (ex-zaire) do ditador mobutu, a de 1975 aconteceu em uma filipinas mergulhada no caos ostensivo e violento de ferdinand marcos e sua extravagante mulher, imelda (que dá depoimento!). os ditadores injetavam uma nota preta nas disputas de peso-pesados porque tanto atraiam a opinião pública internacional quanto anestesiavam conflitos internos. cenário em chamas pr'um conflito idem. ó o trailer abaixo.



um dos grandes trunfos do filme é colocar certos pingos nos is, como por exemplo, recuperar a dignidade e o talento de frazier e mostrar que ali - apesar do gênio, da inteligência, da força, da atitude revolucionária, da espirituosidade, etc. - era também cruel, falso, manipulador e outros etc. pode colocar também manipulado nesse balaio, afinal a nação do islã ditava muito de seu discurso explosivo. nessa hora é pertubador, mesmo que óbvio em retrospecto, ver que a nação e a ku klux klan não passam de dois lados da mesma moeda (ali esteve em reuniões da klan em encontros de aliança entre as instituições, afinal possuiam o mesmo objetivo final, a saber, segregar totalmente as raças).

era ali que apontava o dedo em riste a frazier acusando-o de vendido, de estar do lado do inimigo branco, além de ofendê-lo ao chamá-lo de pai tomás e gorila (ofensa ainda pior de negro para negro). logo frazier que teve uma infância mais dura que ali, que esteve do seu lado quando este perdeu a licença para lutar após se recusar a ir ao vietnã, que lhe emprestou dinheiro, etc. as mensagens segregadores da nação do islã aliadas a um alucinado e certeiro senso de marketing pessoal de ali destruiram uma respeitosa amizade. dá pra sentir nos depoimentos de frazier a tristeza que essas lembranças lhe causam.


joe frazier

mas ali fez publicamente com frazier o mesmo que fez com foreman: usou um discurso racial para desqualificar seu oponente. só que o embate ali X frazier tinha uma adicional tensão pessoal (principalmente pra ali). esse de 1975 foi a terceiro (e último) entre os dois. flashback rápido - frazier, que conquistou o título enquanto ali estava impedido entre 1967 e 70, defendeu com ferocidade o cinturão e nocauteou ali em 1971 (a primeira vez na vida que alguém fez isso com ali). o derrotado não se abalou e saiu disparando que para os negros ele tinha sido o vencedor e que frazier ganhou por decisão dos brancos. dois anos depois, frazier foi esmagado em apenas dois rounds pelo jovem desafiante george foreman e perdeu o título. no agitado ano de 1974 frazier e ali voltaram a se encontrar, para saber quem lutaria pelo cinturão contra foreman, e ali ganhou por pontos em uma decisão contestada por muitos. foi assim que ali e foreman se pegaram no zaire, na luta retratada por quando éramos reis, ali venceu heróicamente e frazier teve a oportunidade de tentar o título mundial dos pesos-pesados. fim do flashback, voltamos a thrilla in manila e ao segundo semestre de 1975.

por motivos de transmissão televisiva, a luta foi marcada pra acontecer de manhã (muito quente em manila). ali estava certo e confiante de sua vitória e bateu muito em frazier nos primeiros rounds, mas como este não cedia começou a ficar cansado. aí frazier partiu pra cima e virou o jogo totalmente, para a surpresa de muitos. enquanto a luta se aproximava do seu fim no 15o. round, com frazier ganhando por pontos, um segredo muito bem guardado mudou o novamente o destino de todos. em 1965, frazier sofreu um acidente em um treino e perdeu parte da visão do olho esquerdo. só ele e seu técnico sabiam. então, quando chegou o 14o. round, o rosto de frazier estava tão inchado - seu rosto inchava mais rapidamente que o de ali, como dá pra notar bem na luta de 1971 - que seu olho bom, o direito, começou a sumir. a essa altura alguns jornalistas declaram à câmera que temiam pela morte de um dos dois tamanha era a violência do confronto. quase uma briga de rua, batalha em campo aberto.


joe frazier e muhammad ali em ação sanguinária no ringue filipino

intervalo entre os rounds 14 e 15, caos em ambos os corners. frazier já não conseguia ver mais nada, mas queria ir até o fim. ali estava morto de cansado e enormente surpreso por seu oponente ainda estar de pé. por poucos segundos, a história não vira outra. quando estava quase pra desistir, ali recebe com ainda mais surpresa a notícia que o técnico de frazier jogou a toalha. acompanhá-lo, nos dias de hoje, vendo as imagens televisivas da luta pela primeira vez é de arrepiar, não dá pra descrever em palavras. a impotência diante do passado junto com o orgulho do guerreiro, tendo como cenário uma academia caindo aos pedaços na periferia, é... na falta de uma palavra melhor... foda.

já no pós-luta ali tentou uma reconciliação pública com frazier, mas este se negou alegando que o oponente deveria "ter ido falar com ele primeiro". outras tentativas de perdão surgiram no decorrer desses anos, mas frazier nunca mais abriu a guarda para seu ex-amigo. a vida de ambos não foi mais a mesma depois de "thrilla in manila": frazier não teve mais chances de disputar o cinturão, e ali ainda segurou um pouco, mas a derrocada também veio forte, e depois o parkinson que acabou por silenciá-lo aos poucos. frazier tem certeza que foi um castigo divino.

p.s. 1: dois discos altamente recomendáveis fizeram a trilha para este texto. um tem tudo a ver, mas surgiu coincidentemente, e é the messengers (episode 1: fela kuti) (2009), parceria de j. period & k'naan. o outro é o instrumental rain music (desmonta, 2009), de nathan bell, que comprei lá na lojinha do espaço + soma. só depois vi que o disco foi masterizado pelo bróder tiago munhoz (mamelo sound system/contrafluxo).

p.s. 2: e não custa nada colocar músicas relacionadas ao bom e velho muhammad ali, mas da época de seu nome de batismo, cassius marcellus clay. primeiro, jorge ben que gravou sua homenagem no disco clássicos negro é lindo (philips, 1971).



mas tem também um reggae malandro de dennis alcapone, provavelmente do início da década de 1970, que achei na coletânea soul jazz records presents 400% dynamite!.


fechando céu

Finalmente, o segundo disco de Céu. Desde a estreia solo em 2005 aconteceu de tudo com a cantora e compositora; de uma filha à canção em novela, além de mais reconhecimento no exterior que em terreno pátrio (pelo menos quando assunto é show) e projetos coletivos (Sonantes). E o que aconteceu com sua música foi um mergulho mais profundo nos grooves malemolentes da Jamaica. Sem esquecer, obviamente, o samba. Assim é, em poucas palavras, Vagarosa (Urban Jungle/Universal, 2009), disco cheio de descobertas e maravilhas, mais um entre os ótimos lançamentos do ano.

primeiro parágrafo da resenha que fiz sobre o disco novo da céu pro gafieiras. o resto tá lá, como sempre. e tem mais coisas sobre a moça aqui no blog e tem mais um video ligeiro de making of do disco, desta vez da música "cangote" e com a presença do saudoso baterista gigante brazil (1952-2008), que colocou suas incríveis baquetas nessa música e também em "papa".

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

transversão #20

essa transversão veio direto de carolina, minha carolina. ela me chamou atenção a uma música usada numa propaganda do visa que tem pizzas voando e narração do antônio fagundes. "mambo italiano" é seu nome e é divertida pra danar. dá uma vontade de sair dançando e quebrando copos e tal. aí fui atrás de saber mais sobre ela e descobri que ela é alvo de uma treta transcontinental. explico: a versão do comercial é a original, do início dos anos 1950, do italiano renato carosone (1920-2001), feita em parceria com nicola "nisa" salerno (1910-1969); mas a música acabou ganhando uma versão em inglês assinada por bob merrill que fez muito sucesso em 1954 na voz de rosemary clooney (1928-2002) e não era creditada aos italianos. capisci? certo mesmo é que as duas são muito boas. escute aí, primeiro, a de carosone.



agora, a de rosemary, tia do ator george clooney.



recentemente, groove armada e basement jaxx fizeram versões dançantes da música, mas achei meio farofa de ibiza e nem cogitei.

p.s.: e o goear.com funciona novamente. acabei voltando porque atingi o limite (pequeno) de uploads no soundcloud. daí pra frente, só pagando. não é o caso.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

a rua é nóiz

primeiro e ótimo clipe do emicida. a música é "triunfo" e está em sua indispensável mixtape pra quem já mordeu em cachorro por comida, até que eu cheguei longe (independente, 2009). escrevi um pouco mais sobre ele aqui no esforçado e bastante no gafieiras.

EMICIDA ::: TRIUNFO from noiz site on Vimeo.

tem a letra aqui.

"esse negócio de 'musa da pornochanchada' é um rótulo, né?"

não fazia ideia, mas a atriz helena ramos, a musa de olhos obliquos do cinema brasileiro da década de 1970, mora muito perto da minha casa aqui em são paulo. dei um pulo lá, junto com o fotógrafo jefferson dias (autor das imagens que ilustram esse post), para uma reportagem pra revista monet de agosto. fiquei com a impressão que helena não é do tipo que pensa sobre a carreira ou que corre atrás de projetos próprios (pessoais ou não); ela simplesmente vai lá e faz. talvez por isso esteja afastada dos holofotes. não acho que seja uma boa atriz, mas tem uma presença inegável na tela e esteve numa série de filmes importantes em uma carreira que durou intensos dez anos.

dois agradecimentos públicos: a jefferson dias, que liberou essas imagens inéditas (as duas que entraram na revista são outras), e a beto ismael, editor do blog o pornochancheiro, que tirou de seu arquivo pessoal as fotos que ilustraram a matéria na revista (algumas estão aqui).


p.s.: o canal brasil comemora 11 anos neste mês e está de sinal aberto e com uma programação especialmente matadora, com direito a um show inédito de seu jorge, os documentários santiago de joão moreira salles e loki - arnaldo baptista, pedrinha de aruanda de maria bethânia, nova temporada do tarja preta do selton mello e essa retrospectiva de helena ramos, entre outras atrações.

MULHER DE TODOS

Helena está lá no fim do corredor, esperando, toda arrumada. O sol da manhã paulistana banha sua presença com muita delicadeza e dá para notar que ela sabe muito bem como se colocar sob uma luz favorável, mesmo afastada do cinema há mais de vinte anos. Atriz-símbolo da pornochanchada brasileira, Helena Ramos atuou em 42 filmes em um intenso período que durou exatos dez anos e uma parte considerável de sua filmografia, 16 longas, estará na tela do Canal Brasil em uma retrospectiva especial. A voz inconfundivelmente pequena nos convida, repórter e fotógrafo, a entrar em seu apartamento térreo.

“Tinha até separado umas fotos. Deveriam estar aqui, não estão mais. A gente vai emprestando... é que tô fazendo meu site e acho que foi pra lá. É que também sou artista plástica e vou colocar lá meus quadros”, desculpa-se apontando para alguns exemplares de seu novo trabalho artístico espalhados pelas paredes da sala. Paulista de Cerqueira César, distante 300 km da capital, Helena Ramos nunca pensou em ser atriz. Nascida em 1953, a caçula de cinco irmãos queria ser médica, mas seus pais se separaram muito cedo e sua infância/adolescência acabou sendo tumultuada por isso. Estudou em um colégio de freiras em Campos do Jordão e depois, já em São Paulo, trabalhou como balconista de farmácia e lapidadora numa fábrica de cristais até sua vida mudar, em 1971, quando foi com a mãe no programa de Silvio Santos, então na TV Globo. O próprio apresentador a convidou para ser “telemoça”, uma espécie de assistente de palco, e lá se foi Helena fazer cenário durante três anos.

Então veio o cinema. O diretor Roberto Mauro convidou a moça tímida, muito católica e na flor de seus 20 e poucos anos para um papel em um filme de título sugestivo: As Cangaceiras Eróticas. “Foi um baque porque não tinha intenção de ser atriz. Não achei que fosse conseguir ficar nua. Quase fui embora, era muito imatura, só que foi muito legal. Ali decidi meu destino. Depois comecei a ver que maravilha era o cinema. Via os copiões, o que a gente filmava durante o dia, e adorava saber da parte técnica, das câmeras, do jogo de lentes, da luz pra colocar de acordo com o clima da cena.” Sim, Helena Ramos ficou nua na estreia, mas só um pouquinho.

Durante os cinco anos seguintes participou de inúmeros longas como coadjuvante, desde comédias malucas como Kung Fu Contra as Bonecas e Bacalhau, ambas dirigidas por Adriano Stuart em 1975, até dramas como Lucíola, o Anjo Pecador, baseado em romance de José de Alencar. “[Ficar nua] ajudou a me sentir mais segura, a me deixar mais desinibida, porque era do tipo que tinha vergonha de tudo. E o ator, acima de qualquer coisa, não pode ser preconceituoso. Se tiver pudores nunca será um grande ator. Foi isso que fui eliminando.”

Em 1979, Helena tornou-se protagonista em Iracema, a Virgem dos Lábios de Mel, outra adaptação de José de Alencar, e a matemática era simples: mais tempo na tela, mais partes do corpo in natura. Claro que a essa altura isso já não era mais um problema. “Todo mundo diz isso, mas é verdade que o ambiente de filmagem era muito profissional. Agora, as cenas eróticas eram difíceis de fazer, pelo menos pra mim, porque era complicado passar toda aquela intenção, passar uma verdade dentro de uma grande mentira.”

A atriz seguiu caprichando em filmes lendários como Mulher, Mulher, de Jean Garret, e Convite ao Prazer, de Walter Hugo Khoury, mas foi em 1981, quando a pornochanchada começava a dar seus últimos suspiros de prazer, que veio seu maior sucesso. Último dos quatro filmes dirigido por Silvio de Abreu, que dividia seu tempo com uma iniciante carreira de escritor de novelas, Mulher Objeto cristalizou de vez Helena Ramos no imaginário masculino nacional. Invariavelmente ela era distante, aparentemente frígida, mas de uma hora para outra podia perder a cabeça, subir as paredes, fazer loucuras, virar olhinhos, enfim, vocês entenderam. “Esse negócio de ‘musa da pornochanchada’ é um rótulo, né? Nunca gostei, achava depreciativo porque fiz filmes muito interessantes, que foram muito significativos na época, mas sabe como é a mídia, né? Quando cisma com um negócio, é aquilo, é aquilo e não tem jeito.”

O ano de 1984 marcou a última (até agora) participação da atriz em um set de cinema (no filme Volúpia de Mulher). A escolha por cuidar de sua única filha, nascida em 1982, e seguidas turnês de teatro pelo interior do país a afastaram do cinema e da TV, veículos em constante transformação. Cansada de esperar por convites foi com a filha para os Estados Unidos, no início da década de 1990, onde estudou fotografia e artes plásticas para se reinventar. “Não perdi interesse por atuar não, imagine. Adoro minha arte, gosto de representar. Mas é que às vezes as coisas não acontecem, simplesmente não acontecem.”
Importante então é não se perder, apesar de eventuais portas fechadas. Helena tem planos de uma exposição de seus quadros e, acima de tudo, de um programa de entrevistas com o pessoal mais trabalhador e menos glamouroso do cinema, os técnicos. É uma paixão sua que pouca gente conhece. Mas quer mesmo é voltar a atuar. “Exercitar a arte de representar te faz mais humano. A gente passa a entender melhor as pessoas e aceitá-las como são.” Musa desinibida de outrora, Helena Ramos quer se perder no meio dessa gente.
Confira abaixo a programa completa da retrospectiva:

dia 08.09, terça, 0h30 - Retratos Brasileiros - Helena Ramos (2009) + As Cangaceiras Eróticas (1974)
dia 09.09, quarta, 0h30 - Convite ao Prazer (1980)
dia 10.09, quinta, 0h30 - As Mulheres Sempre Querem Mais (1974)
dia 11.09, sexta, 0h30 - Lucíola, O Anjo Pecador (1975)
dia 15.09, terça, 0h30 - Possuídas pelo Pecado (1976)
dia 16.09, quarta, 0h30 - Iracema, A Virgem dos Lábios de Mel (1979)
dia 17.09, quinta, 0h30 - Crazy – Um Dia Muito Louco (1981)
dia 18.09, sexta, 0h30 - O Clube das Infiéis (1974)
dia 22.09, terça, 0h30 - Mulher, Mulher (1979)
dia 23.09, quarta, 0h30 - Palácio de Vênus (1980)
dia 24.09, quinta, 0h30 - As Intimidades de Analu e Fernanda (1980)
dia 25.09, sexta, 0h30 - Mulher Objeto (1981)
dia 29.09, terça, 0h30O - Bem Dotado – O Homem de Itu (1977)
dia 30.09, quarta, 0h30 - Volúpia de Mulher (1984)
dia 1º.10, quinta, 0h30 - Noite em Chamas (1978)
dia 02.10, sexta, 0h30 - Corpo e Alma de Mulher (1983)


jeffeson dias prepara o foco na garagem do prédio que helena ramos
mora em são paulo