sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

yahoo #20

olha, esse "custe o que custar, uma ova!", meu vigésimo texto pra coluna ultrapop, foi um dos que mais gostei de fazer. um tanto pelo assunto - a derrocada moralista do cqc me intriga tem muito tempo -, mas ainda mais pela forma que encontrei de escrevê-lo (como uma carta de despedida). enfim, foi divertido de fazer e teve um retorno bem legal, tantos nos comentários (surpreendentemente muitas pessoas concordando comigo, coisa rara) quantos nos 'likes'. agora por lá é a vez de "o nada incrível huck", pro pessoal que comenta no yahoo não sair por aí dizendo que não se fala mal da tv globo, como aconteceu nesse texto do cqc. resultado? outro tanto de gente falando que meu mal é inveja. vai entender...


CUSTE O QUE CUSTAR, UMA OVA!


Lembro como se fosse ontem: 17 de março de 2008. Já passava das 22h quando nossos olhos se cruzaram pela primeira vez. Foi amor à primeira vista, pode acreditar. Eu vinha de uma série de relações breves, não conseguia me deixar levar por ninguém, e quando você apareceu... nossa, era o programa de humor, na televisão aberta, que estava esperando por toda minha vida (mentira, vivi um lance muito forte com a TV Pirata, mas sabe como são essas coisas do coração, né?).

Um humor corrosivo e de cara limpa, sem o apoio de bordões, de olho na pompa ridícula de políticos e celebridades, além de um pé no jornalismo no quadro sobre os desperdícios e desmandos do poder público. Ah, CQC, como eu te amei! Tanto sua bancada de três cabeças-línguas quanto seus comediantes-repórteres, cada um a seu jeito.

Foi um ano lindo, lua-de-mel e amendoim todas às segundas, e era gostoso a gente se encontrar, a risada rolava fácil, assunto não faltava. Então encontrei, exatamente nessa época, sua cabeça mais brilhante e fiquei encantado. Na entrevista que deu origem a matéria “Entende o mundo quem ri melhor”, Tas me disse coisas como: “Nós não podemos fazer o que estamos criticando, ou seja, denúncias vazias, explorar fatos de uma maneira exagerada, fazer perguntas que não são pertinentes. (...) Não queremos virar os justiceiros ou a patrulha da moral e dos bons costumes”. Eu, cego de paixão, acreditei.

O primeiro ano se passou, a segunda temporada entrou no ar e segui fiel. Algumas coisinhas começaram a me incomodar, mas achei que era implicância, imaturidade minha. Qual o problema de cada matéria vir precedida por um comercial interminável e engraçadinho com os próprios integrantes do programa? Que mal há em cortar a resposta do entrevistado deixando na edição final apenas a pergunta-polêmica do repórter? De qualquer forma, comecei a perder um episódio ou outro. Vejo depois na internet, dizia para os meus botões, sem querer aceitar que a gente estava se distanciando.



Aí, na terceira temporada em 2010, a coisa desandou de vez. Não adiantou colocar uma mulher entre os repórteres, quadros novos também não resolveram. A gente deixou de falar a mesma língua, simples assim, só que de vez em quando contemporizava: afirmando que o problema era comigo, não com você. Bobagem, o problema era com você sim.

Desacreditar políticos com piadas é a coisa mais fácil do mundo e garante repercussão entre cidadãos preguiçosos que acham que esse pessoal de Brasília é tudo igual. Bancar o machão com um assistente de subsecretário de cidade interior é sopinha no mel. Quero ver fazer piadas com empresas que patrocinam o programa (isso acontece com muita frequência nos Estados Unidos), quero ver um Proteste Já com o setor privado.

Para onde foi aquele acidez de tempos passados que puxava o tapete das celebridades, globais ou não? Quando todos ficaram famosos demais a ponto de tudo virar uma suruba de rasgações de seda?

Na época da eleição então a coisa piorou ainda mais. Marcelo Tas, o saudoso e espirituoso Ernesto Varela, foi mostrando facetas autoritárias, preconceituosas e parciais, tanto na TV quanto no twitter (‘para os meus amigos, babações de ovo ou o silêncio cúmplice; para os inimigos, a piadinha rasteira e a polêmica fogo de palha’). Só sei que meu coração se quebrou em mil pedacinhos e que minha mulher não quis recolhê-los porque disse que já tinha me avisado inúmeras vezes.

Segunda agora, anteontem, resolvi dar uma olhada no que estava acontecendo. Fazia um bom tempo que não assistia um programa inteiro. Às vezes fugia de propósito, mas noutras esquecia completa e sinceramente. Sabia que as coisas por aí não andavam bem - audiência caindo, brigas internas, expulsão de um dos integrantes -, mas procurei assistir com amor no coração, respeitando a nossa história, saca? Não adiantou. Tudo estava diferente, sem graça, arrastado e moralmente flácido. Pensei que ficaria triste, tantos talentos se queimando desperdiçados, mas não senti nada. Nadinha. Um pouquinho de felicidade talvez, afinal agora poderia partir para outra de coração leve. E que o último que sair por aí apague a luz.

2 comentários:

Patrícia disse...

Texto fantástico. Adorei todas as figuras de linguagem...mesmo depois de ter tomado algumas taças de vinho. Vc escreve bem pra caramba e é divertido o que é melhor!. Evoé!!! Seja feliz na Isto É!(Sem trocadilhos, please!)
http://sombras e cataventos.blogspot.com

Anônimo disse...

Não concordo com muito do que o Rafinha Bastos fala, acho agressivo (além de machista, etc), mas uma coisa é fato: ele era ácido o bastante pra chacoalhar a bancada do programa (tanto quando o Danilo chacoalhava as matérias e é igualmente preconceituoso). Ele quebrava a bajulação dos programa, por vezes criticava os colegas ao vivo... é estranho mas um mau elemento pode ser algo positivo quando um programa é tão ruim.
CQC morreu e esqueceu de deitar!