segunda-feira, 17 de maio de 2010

encontros: ceumar & dante ozzetti

mais um encontro musical do fundo do baú. outro texto feito para a tam magazine, em tempos de editora spring, lá em setembro de 2006. a entrevista com ceumar e dante ozzetti aconteceu na casa de dante numa tarde bonita e foi tão deliciosa quanto a audição do disco que a dupla produziu naquele ano (achou!). de lá pra cá, ceumar se mudou para amsterdã - acho que casou com um gringo - e ano passado lançou o seu terceiro disco solo, meu nome. já dante segue acompanhando a irmã ná ozzetti e em outros projetos especiais, mas não lançou nenhum outro disco autoral.

a colorida capa de achou! (assinada por jaime prades)

PARCERIA É INVESTIMENTO, AMOR TAMBÉM


É fácil ver quando uma música pega em um show. Os pés das pessoas começam a bater ritmadamente, a cintura balança, tudo se espalha por cabeças e braços, sorrisos despontam e dá pra ver a vontade, estampada na cara, de cantar junto. Foi bem assim que o público do Festival de Música Brasileira da TV Cultura, realizado no segundo semestre de 2005 em São Paulo, recebeu a música “Achou!”, parceria de Dante Ozzetti e Luiz Tatit defendida pela cantora Ceumar. A canção ficou com o segundo lugar em uma polêmica decisão dos jurados, mas Ceumar e Dante, que esteve no palco tocando violão ao lado da cantora mineira, preferiram comemorar a alegria de terem tocado juntos uma música cuja recepção foi pra lá de calorosa. Assim mesmo, sem traumas nem esconjuros, como deixaram bem claro em conversa de fim de tarde.


“As músicas concorrentes tinham torcida e ‘Achou!’ acabou sendo incorporada por todas no decorrer do festival porque ela tem uma coisa que contagia todo mundo”, é Dante procurando explicações. Já Ceumar acredita que “a letra fala do amor de um jeito atual e as pessoas estão ligadas nesse jeito novo de falar, nesse jeito novo de amar. Com a recepção do público a gente ficou com uma sensação de ‘e aí?’”. A resposta veio em forma de um convite da gravadora MCD para gravar um disco e o resultado é Achou!, CD com doze faixas, sendo que oito delas compostas especialmente para o projeto por Dante em parcerias com Zeca Baleiro, Zélia Duncan, Chico César, Kléber Albuquerque e Luiz Tatit. “Fui compondo pensando no meu universo e no universo dela e dos músicos pra construir uma coisa da gente. Tudo deu certo desde o começo”, relembra Dante sobre o processo de composição que atravessou todo o mês de janeiro [de 2006]. Ceumar completa que “uma referência pra gente em termos de parceria foi o Elis & Tom, um disco clássico e básico. Não com a pretensão de ser um outro Elis & Tom, claro, mas buscando aquele primor, aquele cuidado”.
Ceumar e Dante já se conheciam por amigos em comum, mas somente no ano passado começaram a trabalhar juntos. Primeiro, quando o violonista convidou a cantora para participar em uma temporada que fez no paulistano Café Piu Piu. Depois, a cantora convidou o violonista para escrever arranjos para uma apresentação sua com a Orquestra de Cordas de Curitiba. A empatia entre os dois foi rápida e desaguou no festival. “A Ceumar tem uma baita presença de palco. É impressionante. Ao final do show todo mundo quer levar ela pra casa”, derrete-se Dante. Após um breve sorriso, entre orgulhoso e tímido sobre o reconhecimento, Ceumar admitiu que “há tempos adoro as composições e o violão do Dante. Foi legal ver outros lados da minha voz, e muito desafiador também porque tive que estudar para encontrar estas músicas. E elas são lindas e muito sofisticadas nas melodias”.

Samba rasgado, frevo, xote, rock e balada estão no cardápio deste primeiro registro da dupla, e da banda, também creditada como co-responsável pela sonoridade afiada e a alegria coletiva transmitidas pelo CD. “Minha função no grupo era de desestabilizar”, diverte-se a única mulher do bando. Com dois discos solo na bagagem,
Dindinha (MCD, 2000) e sempreviva! (MCD, 2002), Ceumar vem de uma carreira independente e sólida onde é conhecida tanto como compositora quanto como violonista, além de também interpretar canções de Itamar Assumpção, Arnaldo Antunes, Zé Ramalho e Zeca Baleiro (autor de “Dindinha”, música que a lançou no final da década de 1990), entre outros. Dante Ozzetti, por sua vez, é mais conhecido por seus trabalhos como músico, arranjador e produtor para a irmã Ná Ozzetti. Ganhou, em 2000, o Prêmio Visa – Compositores o que lhe possibilitou gravar seu disco de estréia solo, o belíssimo e pouco conhecido Ultrapássaro (Eldorado, 2001).

Com o disco nas lojas e shows de lançamento planejados
, Ceumar e Dante concordam em uma coisa: “ninguém sabe o que vai acontecer”. Mas como bem diz a cantora, “o que me interessa é atingir a pessoa que tá ouvindo e fazer ela sorrir ou chorar. Acho que é assim, pelo coração, que a gente consegue atingir mais pessoas. Afinal, não temos nenhuma obrigação, somos independentes, e sabemos que existe um espaço para a curiosidade”. E ambos saem para fazer as fotos que ilustram esta matéria, Dante com seu violão e Ceumar acompanhada de uma sombrinha roxa, felizes porque sabem que investir é isso, é cultivar o amor.

p.s.: segue abaixo o video de uma das apoteóticas apresentações de "achou!" no festival de música brasileira da tv cultura em 2005. e aqui nota que fiz sobre o disco para o gafieiras.


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