quinta-feira, 21 de maio de 2009

olha pro céu, meu amor

sabia muito pouco da Céu quando a entrevistei no final de 2005 na sede da Ambulante Discos, em Higienópolis. bem, todo mundo sabia muito pouco dela. uma promessa. cantora e compositora, jovem e paulistana. nada mais. aí seu disco de estreia, que ganhou lançamento independente por aqui e da Urban Jungle para o exterior, ganhou um reforço de distribuição da Warner. mesmo com toda a boa recepção aqui, Céu acabou chamando mais atenção no exterior. aí, ela sumiu por um tempo. quer dizer, sumiu nada, virou mãe. até que no ano passado (2008) começou a colocar novamente as manguinhas de fora nos excelentes projetos Sonantes e 3namassa.

então, poucas semanas atrás, a cantora lançou no exterior o ótimo EP C
angote (Six Degrees Records) com quatro faixas, sendo que uma delas, "Visgo de jaca", tá no transcrição #1. mas enquanto o segundo disco não aparece, resgato aqui o texto que fiz pra tam magazine de dezembro de 2005 (e desculpem o trocadilho no título, acho que ninguém resistiu a usar de algum jeito a palavra 'céu'). era uma vez uma cantora iniciante...


CÉU PARA TODOS

Certo que ela é uma Maria como muitas outras, mas não é em todo lugar que se acha, e se ouve, uma Maria do Céu. Esta, por exemplo, escolheu ser apenas Céu e lança agora seu disco de estréia, aos 25 anos, depois de conhecer pessoas, viajar, cantar na noite, participar de shows e CDs de amigos e em tudo fazer música. “O ambiente em casa sempre foi muito musical, tinha de tudo. Meu pai é músico, meu irmão também e minha mãe já cantou. Cedinho fui picada pelo bichinho da música. Comecei a estudar aos 15 anos e fiz canto lírico, canto popular, teoria, mas minha maior escola foi cantar na noite, porque nunca fui uma boa aluna, sou mais da prática”. O título do disco é uma afirmação de sua autora e chama-se, claro, Céu (Ambulante Discos).

Mas uma pausa se fez necessária. “Tenho uma grande paixão pela voz das cantoras negras de jazz, então fui para Nova York e fiquei um ano lá. Cantei na noite, conheci um monte de gente, entre eles o Antônio Pinto e o Alec Haiat, que depois viraram amigos e parceiros. Também foi lá que comecei a compor. Parece que quando a gente sai do país fica mais sensível a certas coisas, e pra mim serviu como uma inspiração pra começar a escrever”, relembra. Antônio Pinto, o premiado autor das trilhas sonoras de Central do Brasil e Cidade de Deus, acabou se tornando o padrinho do começo da carreira de Céu e apresentou-a para muitas pessoas, entre elas o compositor e produtor Beto Villares, outro que se transformou em amigo e parceiro. A rede estava formada e Céu só precisou puxá-la.

“Começamos e pensar em fazer o disco e fomos tocando nas brechas dos trabalhos deles. Tive tempo pra ir maturando as músicas e logo percebi que sou muito ligada na raiz das coisas. Por exemplo, se gosto de samba vou lá no Monsueto, no Nelson Cavaquinho. Mas também escuto rap, dub, afrobeat e muitas outras coisas. Minha vontade é fazer uma coisa enraizada no Brasil e juntar com o que estou ouvindo no momento, mas de um modo intuitivo, sem pensar no exterior ou no mercado”, explicou. O disco puxou-a dos pés a cabeça, diverso e despretensioso.


Agora, vale ressaltar o lado compositora de Céu. Ela lembra que foi por causa de Dolores Duran e “Por causa de você” (parceria com Tom Jobim lançada em 1957) que decidiu ser cantora. “Hoje em dia a mulher voltou a ter a coragem da Dolores, da Chiquinha Gonzaga e de tantas outras. Tem a Vanessa da Mata, as meninas da Dona Zica, a Lurdes da Luz (Mamelo Sound System)... eu, por exemplo, comecei sem grandes pretensões e a princípio pensava muito mais na música. Tinham muitas melodias na cabeça. Demorou um pouco para a letra chegar. Agora é meio que tudo junto”, explica. Detalhe, das quinze faixas do disco, apenas três não possuem o nome de Céu: uma vinheta de Beto Villares, “Concrete jungle” de Bob Marley e “O ronco da cuíca” da dupla João Bosco e Aldir Blanc.

Quando a palavra chegou à música de Céu os assuntos que surgiram foram os mais diversos. “Geralmente falo sobre sentimentos que surgem na hora. Pode ser o fato de morar numa cidade como São Paulo que ao mesmo tempo é maravilhosa e te devora ou então a condição feminina”, diz. Neste segundo tópico Céu não mede as palavras e canta docemente em “Bobagem” que “Minha beleza / Não é efêmera / Como o que eu vejo / Em bancas por aí / Minha natureza / É mais que estampa / É um belo samba / Que ainda está por vir”. Uma grande bobagem perseguir esse padrão de beleza imposto pelas revistas e pela publicidade. “Mas não quero ser panfletária. As mulheres são lindas, são flores, geram vida, e é importante a mulher se sentir bonita. O problema é dar tanto valor à imagem porque, afinal de contas, seu defeito pode ser a coisa mais linda que você tem”, conclui a jovem cantora veterana. Veterana sim, pois antes de assinar seu próprio trabalho, Céu participou dos discos de Rica Amabis (Sambadelic, 1999), Anvil FX (Miolo, 2002), Instituto (Coleção nacional, 2002), Beto Villares (Excelentes lugares bonitos, 2003) e Nereu, Mocotó & Swing (Samba power, 2005), além de ter sido vocalista dos grupos Vitrola Stereophonica e Sistema PF de Som.

Mas um pouco antes de começar a jornada de divulgação do seu disco de estréia no Brasil, Céu passou cerca de 20 dias na França indo em rádios e participando de festivais como o JVC Jazz Festival (onde abriu para Tânia Maria) e Nancy Jazz Festival (onde subiu ao palco ao lado de Lenine e Badi Assad). Com os pés novamente em solo tupiniquim não esconde uma certa ansiedade: “Espero que as pessoas sintam alguma coisa quando colocarem o disco pra tocar e sentindo qualquer coisa já tá bom”, e ri, “pode ser o que for, pode ser tudo! Fiz um trabalho de coração, porque é disso que gosto. Eu quero cantar e me divertir”. A previsão pra ela é de céu azul sem nuvens.

e aqui, mais uma música que estará no próximo disco de Céu. o ragga "Sonâmbulo" foi composto logo após o lançamento do primeiro disco, foi cantada em muitos shows e até no programa do Jô, mas só ganhou registro recentemente.

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