quinta-feira, 28 de maio de 2009

amor no palco

moleque. ele é um moleque, o vitor araújo. tem quase 20 anos (ou já completou?). entrevistei ele por telefone no final do ano passado pra monet por causa da exibição, no canal brasil, do show toc - ao vivo no teatro santa isabel (deckdisc, 2008), primeiro registro do pernambucano que também saiu em cd e dvd. vitor é muito franco e o peguei em um daqueles momentos mais reveladores de um ser humano: o da fome (de comida, de vida, de música, etc). no final ele disse mais ou menos assim, "falei um monte, né? até esqueci que tava aperreado de fome". e foi almoçar. eu também. abaixo, um trecho do show em que o moleque entorta "paranoid android" do radiohead, versão que ajudou na construção de seu impressionante talento.



O show que saiu em DVD e que agora será exibido na TV foi gravado há um ano. O que mudou na sua vida desde então?
Olha, foi um ano bem gostoso de se viver. Gravei o CD e DVD em dezembro de 2007, lancei em abril e recebi uma acolhida muito boa, principalmente por ser a princípio um músico erudito inserido em um contexto pop. Isso foi bem legal. Por outro lado, fiz muitos shows e encontrei um público diverso, de jovens a senhores e senhoras de mais idade. Durante a turnê do TOC pude experimentar coisas que não tinha feito antes e me apresentei em lugares tão distintos como o Auditório Ibirapuera, uma escola para crianças em Guarulhos e o Festival Abril Pro Rock. Foi muito massa. E também conheci muita gente, inclusive alguns ídolos.

Quando as pessoas chegam para conversar com você depois do show, o que mais elas falam?
Interessante que as pessoas falam mais de sensações. Cada pessoa conta que sentiu uma emoção diferente, às vezes choro, ou riso. Quando ouço isso tenho certeza que meu trabalho foi bem feito. É muito interessante ver as pessoas querendo falar sobre o que sentiram. Não quero mudar o olhar das pessoas diante da música, mas sim diante de si mesmas. Tento transformar o palco em um lugar de comunhão porque para ouvir música tem o CD ou o DVD. No palco você pode experimentar essa coisa metafísica de sentimentos e sensações que não tem como explicar. O palco pra mim é um ato de entrega, de amor. Todo mundo fazendo amor. Acho que o palco é uma grande orgia [risos]. Busco isso e as pessoas que vêm falar comigo estão na mesma sintonia.

Sua relação com o palco sempre foi assim?
Não, muito pelo contrário. Quando você está no mundo erudito e sobe no palco, é para ser julgado, tanto pelas provas quanto pelos concursos. Até começar a subir no palco com este meu trabalho - e foi tudo muito rápido porque quando fui contratado pela gravadora tinha feito apenas quatro shows na vida – ficava sempre nervoso, querendo acertar todas as notas. Começava uma música já desejando que ela acabasse logo [risos]. Isso foi mudando com o tempo, principalmente quando entrei na música popular e na improvisação. Foi assim que comecei a ver o palco com outros olhos.

O que existe de Pernambuco, ou de Recife, e de Brasil na sua música?
Recife me ajudou bastante em muitos aspectos, tanto na estética quando no lado sentimental, porque é uma cidade que transpira arte e música. E depois do movimento mangue bit se criou uma cultura de ser músico. Todo mundo tem banda aqui, todo mundo é músico. Talvez se morasse em outra cidade não tivesse tanto estímulo. Também acho importante ver a música sob uma ótica brasileira. Todos os artistas brasileiros têm uma forma própria de fazer música e sempre ouvi muito todos eles, de Egberto Gismonti a Yamandú Costa, passando por Hermeto Pascoal, César Camargo Mariano, André Mehmari e Hamilton de Holanda. Sempre tentei seguir os meus ídolos da música instrumental para construir o meu próprio trabalho.

E o que vem te interessando atualmente em música?
De música estrangeira conheço pouco, devo admitir. Gosto mais de músicas velhas [risos], de Louis Armstrong, sabe? De hoje em dia só conheço Radiohead [risos]. Aqui no Brasil tem muita coisa que me inspira. Por exemplo, a SpokFrevo Orquestra, uma das coisas mais geniais que surgiram. Acho que existem alguns artistas que estão fazendo história na música brasileira, tais como o Marcelo Camelo e o Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado. Tremo quando chego perto desses caras. Sou suspeito para falar, porque ela acabou virando minha amiga, mas gosto muito da Mallu Magalhães. Tem o Junio Barreto, que também é aqui de Pernambuco. Tem muita gente fazendo música boa.

Como está a música brasileira instrumental nos dias de hoje?
Acho muito qualitativa e pouco quantitativa. Tem muito Villa-Lobos escondido por aí. A mídia ajuda um pouco ao fazer tanto estardalhaço com músicas mais comerciais, mas também não existe educação musical nas escolas. Falta incentivo artístico.

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