sábado, 16 de maio de 2009

romulo não fica quieto

dificil saber por onde começar quando o assunto é romulo fróes, mas a primeira coisa que me vem a cabeça é que é muito bom poder acompanhar, mais ou menos próximo, as mudanças de um artista, o seu desenvolvimento. e tem uma porrada de exemplos na música brasileira nos últimos dez anos. só que o assunto aqui é romulo fróes e ele tá de disco novo.

conheci a música do paulistano pouco antes do lançamento de calado (bizarre, 2004). gostei de cara dos sambas estranhos, tristes, tortos. de um quê de nelson cavaquinho, batatinha e jards macalé. dos arranjos. da participação visceral de dona inah. do video de "suite". da regravação de ataulfo alves ("na cadência do samba"). fui no show de lançamento no sesc vila mariana e tava tudo lá, com direito a um romulo de ar roqueiro indie e totalmente sem jeito no palco (mão no bolso, imagine), e uma banda ótima com figuras tarimbadas de regionais de samba de são paulo (o clarinetista stanley, o violonista zé barbeiro e o bandolinista milton de mori, etc.), além do baixista fábio sá e de clima, um dos parceiros mais frequentes, na guitarra. as duas fotos que ilustram este texto tirei naquela noite.

depois veio cão (yb music, 2006) e sob algumas novas influências. após ser o diretor musical do show que refez acabou chorare (som livre, 1972) dos novos baianos dentro do projeto disco de ouro, romulo deixou a guitarra tomar mais espaço junto com uma certa psicodelia. gostei de cara. da entrada de curumin e lanny gordin. da velha guarda da nenê de vila matilde. do video de "sobre a gente". da regravação de nelson cavaquinho e guilherme de brito ("mulher sem alma"). o samba continuava lá, e muitos dos músicos também, mas tudo parecia ainda mais deslocado. também fui ao lançamento, dessa vez no sesc pompéia, e tava meio vazio porque na mesma noite tinha algum show gringo muito do disputado (quem era? gang of four?). taí, um dos melhores shows da minha vida. numa boa. se não me engano a banda virou zé barbeiro (violão 7 cordas), lanny gordin (guitarra), fábio sá (baixo) e curumin (bateria), e eles fizeram o diabo no palco. romulo sempre tímido, olhando pra baixo, pendendo de um lado para o outro, mão no bolso. lembro de um momento em que ficaram somente zé barbeiro e lanny gordin tocando e eu arrepiei porque ali estavam duas escolas muito diferentes, com destinos muito diferentes, tocando juntos. a coisa toda pareceu perfeita demais e as músicas ganharam mais força, mais presença.

agora é a vez de no chão sem o chão (yb music, 2009) e dessa vez não consegui ir no show de lançamento. fruto de uma crise com os músicos que o acompanhavam e com as músicas que vinha fazendo, romulo queria com esse disco se desfazer da imagem de "sambista" e assim abriu espaço para algumas experimentações, principalmente no encontro entre voz e música. projeto ousado pelo tamanho, o disco duplo vem com 33 faixas que ajudam a implodir ainda mais o tal conceito velho e vazio de mpb (afinal, a música popular brasileira só pode se contrapor a música erudita brasileira ou a música instrumental brasileira, não é rótulo e pronto). gostei de cara da coragem. do tamanho da empreitada. da regularidade na alta qualidade das canções. da melancolia rascante e eletrificada das letras de nuno ramos, clima e romulo. de guilherme held na guitarra (curumin e fábio sá continuam em muitas faixas). das participações instrumentais e fundamentais de bocato, andré mehmari, tatá aeroplano, mauricio tagliari, lanny gordin e rui weber, entre outros (destaque para o duelo/encontro do piano de mehmari com a guitarra de lanny em "ou nada"). das vozes de mariana aydar ("de adão pra eva"), anya ("ela me quer bem"), nina becker ("ninguém liga" e "astronauta"), lulina ("se eu for") e da velha guarda da nenê de vila matilde ("manda chamar" e "caveira", esta um rock que poderia ser de... walter franco, talvez). da regravação de assis valente ("uva de caminhão") com andreia dias.

o samba tá sempre pelos cantos dos discos, e muitas vezes na frente, mas a guitarra agora suja mais a batida da bateria ("qualquer coisa em você mulher" é um belo exemplo disso). mas tem rocks ("anjo", "peraí", "ela me quer bem"), ska ("minha casa"), bossa ("amor antigo", "fui eu" e "gelatina"), marchinha ("o que todo mundo quer/ninguém liga") e tudo o mais que ele ouvir. que é um tanto do que também ouvimos, tudo misturado, sem gradações ou hierarquias. por essas e outras que um rótulo abrangente e desbotado como a mpb parece cada vez mais sem propósito. mas deixa pra lá que a batata já está assando para a tal mpb, não coincidentemente junto com a tradicional indústria fonográfica e as grandes gravadoras. o que me fez lembrar de "para fazer sucesso", música que abre o segundo disco, no qual romulo canta que "para fazer sucesso faço uma greve de fome / para saber meu preço olha como um bicho dorme / (...) eu sou um resto que eu detesto de um projeto cultural / imobiliário, financeiro, otário e quase oficial". romulo, diferente de muitos artistas, não se isenta da fogueira das vaidades, da roda viva da cultura nacional (não custa lembrar que o cantor e compositor trabalha com nuno ramos, um dos artistas plásticos brasileiros mais inquietos da atualidade).

já ia esquecendo uma coisa sobre no chão sem o chão: os discos são chamados de 1a. sessão - cala boca já morreu e 2a. sessão - saiba ficar quieto. e pronto.

p.s.: os clipes de "suite" e "sobre a gente" estão aqui.

2 comentários:

Daniela disse...

Fiquei com vontade de ouvir.Sempre uma boa essas visitas ao blog! Beijos, Dani

Dafne Sampaio disse...

oi dani
eu ia tirar uma fotos dos discos juntos, da obra do cara, mas acabou dando preguiça. mas o que quero dizer é que os encartes também são bacanas, fotos legais, tudo no capricho. isso é coisa que tem que ter, mas pra ouvir antes, e ver se é a tua praia, recomendo o amigo Um Que Tenha.
http://umquetenha.blogspot.com/search/label/Romulo%20Froes