mas o primeiro-post-valendo já é com os olhos no passado? talvez sim, talvez não. mas é que rolou aquela coincidência. procurando no baú, selecionei esse texto e só depois vi que era de exatos quatro anos atrás. foi uma das minhas poucas (1 de 3, na verdade) contribuições para a grandiosa folha de s. paulo. demorou alguns dias para encaixar na ilustrada e foi publicado em 8 de fevereiro de 2005. era carnaval. acho que uma terça. e versa sobre um músico gaúcho que tinha acabado de conhecer.
ARTHUR DE FARIA MISTURA GÊNEROS EM SEU QUARTO DISCO
Imaginem um polvo, um polvo gaúcho. Poderia ser uma imagem para definir o cantor, instrumentista, compositor, produtor e arranjador Arthur de Faria. Seus tentáculos alcançam rapidamente sonoridades tão diferentes uma da outra que é impossível definir em qual gênero se encaixa o CD Música pra bater pezinho (YB Discos, 2004), o quarto disco do artista. Ao seu lado estão músicos de formações diversas, desde jazzistas ortodoxos até membros da Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Sul. Não é, portanto, um polvo qualquer, ainda mais com o nome científico de Arthur de Faria & Seu Conjunto.
“Cada membro da banda tem uma formação diferente, por isso as músicas têm referências sonoras muito diversas”, esclarece Arthur em entrevista exclusiva à Folha de São Paulo. “É o lado bom da globalização”, diverte-se e continua, “o legal de amadurecer é que hoje posso dizer que toda manifestação musical me interessa”. Basta ouvir o disco para saber que este ecletismo não é um clichê qualquer. Estão lá, em suas 14 faixas, jazz, Arrigo Barnabé, rock, Frank Zappa, fanfarra, Jobim, música erudita, Björk, tango, MPB, pop, Radamés Gnatalli, Beatles, eletrônico, Black Sabbath e outras bossas e milongas. Tudo é música, afinal.
E as letras? “Dou muita importância à letra. Pode parecer óbvio, mas as pessoas esquecem disso. Pra mim, uma canção é 50% letra e os outros 50% são música e arranjo. Gosto muito de poesia e é um baita exercício pegar uma poesia, seu ritmo, e criar uma música em cima”. Desse casamento surgem “As coisas da casa” (poesia de Marcelo Sandmann, onde saltam os versos “Ela agora só pode amar / Com a paixão contida / Da borboleta espetada na placa de isopor”), “Breve oração da virada do ano” (poesia de Daniel Galera), “Revisitação” (poesia de José Paulo Paes) e “Sexo na cabeça” (sobre crônica de Luiz Fernando Veríssimo).
Uma atração a mais está nas participações especiais. “Descobri com o tempo que os malucos acabam de encontrando”, afirma Arthur referindo-se às duas parcerias com o paulistaníssimo Maurício Pereira (que também canta e toca sax em “Um teco-teco amarelo em chamas”) e aos encontros com Siba, Cida Moreira, e o casal Fernanda Takai e John Ulhoa do Pato Fu. “Gaúcho tem muito esse pudor de falar com outras pessoas de fora do Rio Grande. Parece que a gente tá querendo se enturmar com o resto do Brasil. Como se não fizéssemos parte...”, e a fogueira das diferenças regionais volta a se acender. Mas Arthur de Faria já vem com a solução: os malucos se encontram.
Quando foi curador do Projeto Rumos do Itaú Cultural, ele se deu conta da enormidade de talentos pouco conhecidos Brasil a fora. Mesmo sua banda, que todo ano faz shows em Buenos Aires, nunca tocou no Rio de Janeiro. O que fazer? “A gente tem que construir uma outra rede. Sei que nossa música é muito escutável, mas não é de rádio, sei como é isso, trabalho em rádio. Então a gente tem que achar lugares onde podemos vender 1000 discos. Se a gente consegue 200 lugares vendemos 200 mil discos”. E é nesta progressão aritmética que Arthur de Faria & Seu Conjunto querem mostrar sua música pra bater pezinho. Não é todo dia que os pés (e ouvidos) são tão bem tratados.
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